Luanda - De forma algo surpreendente, iniciei com alguma educação/inovação as minhas “hostilidades” com o mês de Novembro, exactamente no seu primeiro dia, que coincidiu com um sábado no calendário da semana.

Fonte: OPais

Com todo o respeito que tenho pelos adventistas, no 7º dia reservo-me ao direito de só fazer o que me dá na real gana, a não ser que a desgraça me bata a porta de frente.


Aí, só tenho mesmo que ir atrás do prejuízo e esquecer o sábado, embora sempre tenha gostado mais da sexta-feira para os devidos e recomendáveis efeitos. O domingo é para esquecer.

No sábado em questão, não foi nenhuma desgraça que me condicionou o dia, mas tão somente um simpático convite para participar como convidado num Congresso sobre a problemática do ensino/educação em Angola.

Sábado para mim, rima com tudo menos com Congresso, pelo que ao aceitar o convite comecei logo por desconfiar das minhas próprias intenções, receoso de não comparecer no local, onde também ninguém daria pela minha falta para além da pessoa que convidou e pouco mais.

O que é facto é que acabei por ser mesmo mais um dos congressistas que encheu a sala do Memorial Agostinho Neto sábado último, ouvindo e falando de coisas que realmente interessam ao futuro de todos nós. Por diferentes vias já chegamos a conclusão que sem cuidarmos seriamente da educação das nossas crianças quando elas começam a aprender, não vamos a sitio nenhum se quisermos sonhar com um país mais competitivo e auto-suficiente.

Aliás, até podemos ir, como estamos a fazê-lo, mas não estamos a ir como devíamos, a afectar seriamente todo o restante edifício do saber, numa altura em que o próprio Governo já reconheceu que chegou a altura de darmos inicio à “revolução qualitativa”.

[Um parênteses aqui para chamar a colação a Senhora Ângela Merkel que esta semana deu uma valente ripada na suposta excessiva aposta que alguns países fazem no ensino superior em detrimento dos outros níveis com destaque para o ensino de formação profissional.

Quase que diria que a Chanceler alemã estava a falar de e para Angola, se ela não tivesse citado os casos de Portugal e da Espanha, onde nas suas contas haverá demasiados licenciados para tão poucos empregos, considerando as preocupantes taxas de desemprego juvenil existentes.]

A provar a minha presença no local, até tive direito a um certificado de participação que confirma a minha condição de ter sido testemunha do arranque de uma iniciativa privada e inovadora, num sector a todos os títulos estratégico, que bem está a precisar delas, numa altura em que muito se fala entre nós da necessidade de sermos mais empreendedores e mais inovadores.

Estou a falar do “Congresso de Apresentação, Análise e Debate das Características e Conteúdo Programático do Sistema de Ensino-INOVAR”.
Foi exactamente assim e por extenso como a iniciativa me foi dada a conhecer no convite que os senhores da organização do evento me fizeram chegar a tempo e horas.

Isto para não ter desculpas, daquelas com que as pessoas normalmente justificam a sua ausência com o argumento do “foi mesmo em cima da hora, porque até estava interessado no assunto”.

Fruto de um cruzamento/parceria de interesses entre angolanos e brasileiros, se fosse possível resumir este projecto em poucas palavras, diria que os seus mentores estão apostados em produzir resultados em termos de preparação escolar bem melhores junto do produto final que são os alunos, estando nesta fase se arranque as atenções concentradas no ensino privado.

Pretende-se conseguir o “milagre das rosas” com a mesma matéria que é dada no programa oficial que vai até à 9ª classe, mas com uma outra abordagem do ponto de vista da metodologia usada pelo professor e da forma como os conhecimentos são ministrados, isto é como os alunos “engolem” as diferentes disciplinas.

Tudo isto e mais alguma coisa que, certamente, me estará aqui a escapar por razões de espaço disponível, está plasmado em vários e coloridos manuais que foram elaborados para o efeito, tendo neste âmbito sido determinante a experiência brasileira acumulada.

A grande notícia para as pessoas/entidades envolvidas no projecto é que ele já recebeu o “visto bom para despacho ” das competentes autoridades do sector, sem o qual nada seria possível, num país onde este passo é sempre o mais difícil de conseguir, quando não se torna impossível devido ao tempo que vai passando, sem que nada mais se diga ao interessado.

” Os respectivos materiais não ajudarão apenas os alunos e professores do Ensino Particular, mas sim a todos os que trabalham directamente com as crianças da Educação Pré-escolar e do Ensino Primário em Angola”.

Com um visto destes, preto no branco, agora o caminho que já começou a ser trilhado é para frente, tendo o próximo ano lectivo como o primeiro teste do processo de implementação desta inovação que tem particularidade histórica de ser a primeira a acontecer no pós-independência com esta dimensão e a correr em paralelo com o sistema oficial.

Aparentemente já não nada que impeça a transformação em realidade concreta do novo sistema de ensino que foi dado a conhecer no Congresso de um dia do passado sábado que reuniu algumas centenas de professores/educadores provenientes de todo o país, num esforço logístico custeado pelos investidores angolanos e brasileiros que abraçaram esta empreitada.

Aguardam-se agora pelos resultados que ainda deverão tardar, pois no ensino as coisas não acontecem nunca do dia para noite, por não ser possível. Com efeito o teste do Inovar/Sistema de Ensino só será possível realizar dentro de mais alguns anos na competição que a coabitação dos dois sistemas vai certamente alimentar e promover.

NA- Texto publicado no País/Revista Vida/Secos e Molhados (7-10-14)