Luanda - “Deves honra e total respeito ao teu pai e tua mãe para que possas ver nascer e crescer os filhos dos teus filhos”.

Fonte: Club-k.net

Nos dias em que se vivem é comum, nas famílias nobres e avantajadas, o desafio e demonstração de poderio financeiro. O confronto económico vivido por algumas famílias têm quase sempre como desemboco a satisfação ou (insatisfação) de gerações vindouras. Por várias vezes acompanhei e tenho acompanhado famílias próximas a mim que vivem este confronto de ideais concretos e sem objectivos lucrativos em termos de formação de personalidade. Pais que compram para mostrar que podem e filhos que usam, para mostrar que têm. Pais estes que também aproveitam‐se das situações para acalmar o ímpeto emocional, curioso e afectivo dos filhos e filhos estes que com o decorrer e descobertas de verdades não reconhecem o empenho dos progenitores, simplesmente por não terem visto satisfeito o que realmente queriam.

Não tive a sorte de ser orientado academicamente por meus pais devido também a situação que se vivia no país, onde o mais importante era saber que o filho tinha saúde física e mental, e com a ajuda da religião, assegurado e protegido. Hoje reconheço o esforço empenhado não obstante as vicissitudes da minha natureza teimosa e persistente adquirido pelos meus progenitores por direito.

Nunca fui de diálogo muito aberto com meus pais, mas a minha capacidade observadora prematura me permitia que no silêncio pudesse monologar e obter respostas que solucionavam as inquietações de uma criança/adolescente normal.

Devo estar equivocado, mas a mim parece que hoje em dia está mais fácil um irresponsável se tornar pai ou mãe do que antes. Se calhar pela abertura do mundo com demonstrações de matérias sem fundamento real e conciso que por sua vez derramam consequências drásticas.

O pai ou mãe que nunca soube ser filho(a) terá grandes dificuldades de fazer de seus filhos, filhos que eles nunca foram. Terão. Não disse que não farão. Bens materiais jamais cobrirão ou hão‐de responder o mar de inquietações que apoquenta uma criança/adolescente em plena descoberta do seu ser. Quem disse que uma criança/adolescente precisa de um telefone de

última geração se o objectivo fundamental é a comunicação? Será que estamos conscientes do que oferecemos? Será que depois de oferecer acompanhamos o desenvolvimento dela com a tecnologia oferecida? As vezes, montamos a bomba e oferecemos o controlo remoto nas mãos dos pequeninos, que quando eles pressionarem o botão da morte não teremos tempo de perguntar “aonde foi que eu errei”. Nenhuma tecnologia substituirá um diálogo afectivo.

Recordo‐me que ainda há poucos anos atrás (se bem que há ainda quem respeite isso) toda a oferta era feita com a finalidade bem definidas e de acordo a idade e necessidade do sortudo. Hoje (não sei se por pura ilusão ou demonstração de força financeira) e na tentativa da cobertura da falta de afecto, as ofertas têm ultrapassado as necessidades, ao ponto de que quem oferece nem sequer saber como funciona e as finalidades do objecto. Vantagens? Deve haver algumas com certeza mas que de certeza não superam o número de desvantagens. Poderá até acelerar a capacidade de raciocínio lógico e aumentar a astúcia do pensamento que com a falta de acompanhamento directo há quem de direito, cria‐se um novo mundo afectivo que poderá culminar no anti‐socialismo, porque a criança/adolescente sentirá que não está a ser entendida. E o que acontece quando sentimos que não somos entendidos? Daí antevêem outros problemas. Pais e filhos falarão a mesma língua mas com códigos de mensagens diferentes. Os pais chateiam‐se e os filhos frustram‐se. O progenitor diz: “ Ele não me ouve”; O progénito diz: “Ele não me entende”. Assim nascem e se desenvolvem os confrontos entre gerações.

Existe a necessidade urgente de um acompanhamento intenso na evolução, quer ela seja mental ou física dos pais para com seus “rebentos”. É certo que possuímos um “modus vivendi” do tipo F1 (Formula 1) e que muitas vezes deixamos para planos abaixo o que deveria estar em primeiro plano: o diálogo com nossos filhos. Esqueçam a ideia de que a escola faz o papel de casa e os professores o papel de pais, porque se faz é só mesmo “papel”, nada melhor do que o próprio lar.

Recordo‐me que aquando dos meus 19 anos de idade, eu disse ao meu pai: “ Gostaria de ter uma conversa com o pai mas não de pai pra filho mas de homem pra homem”. Eis então que a resposta foi clara, curta e concisa: “ Tu ainda não és homem”. Atónito, recolhi‐me em meus pensamentos. Fui obrigado a incubar meus argumentos.

A forma digitalizada de pensar e ver as coisas conforme acontece com a adolescência e juventude nos dias de hoje ultrapassa a analogia de resolução do modo de ver de nossos pais. Culpa ou graça, bem aproveitada ou mal descoberta da santa‐maldita globalização.

Portanto deixo um apelo aos sociólogos e psicólogos: Trabalhem que o vosso tempo já chegou. A nossa sociedade está a atingir níveis em que dementes andarão de fato e engravatados simplesmente para confundir a opinião pública, e a vossa sapiência será posta em causa.

Edson Nuno a.k.a Edy Lobo Licenciado em Línguas e Literatura Inglesa