Luanda - Eu, tal como milhões de mais novos, também partilho da constatação de milhares de mais velhos, expressa recentemente em Lisboa por um mais velho, o Presidente da UNITA, Dr. Isaias Samakuva, nas seguintes palavras: “os mais velhos dizem que Angola precisa de uma nova independência”. A afirmação deste facto, que não foi contestado pelos mais velhos do MPLA, provocou a histeria de alguns integrantes da guarda pretoriana do regime. E sem qualquer racionalidade. Incapazes de argumentar o contrário, optaram por subverter o Direito e recorrer a ameaças pidescas e outras verborreias, tão só porque contra factos não há argumentos.

Fonte: Club-k.net

Para benefício dos que não leram tais palavras no seu contexto, transcrevo aqui as palavras integrais do líder da oposição angolana que mais não fez senão exprimir a triste realidade por nós vivida 39 anos depois de declarada a independência (nominal) de Angola:

“Hoje, temos em Angola uma democracia estéril e tutelada por um Partido-Estado, que organiza processos eleitorais viciados para sequestrar o poder político, que é exercido por formas não previstas nem conformes com a Constituição”.

“Temos órgãos públicos de comunicação social transformados em máquinas de propaganda do Partido-Estado, que não permite isenção nos conteúdos da informação nem pluralismo político na titularidade dos órgãos de informação. Temos um Parlamento asfixiado, sem poderes de fiscalização do executivo e subordinado ao Titular do poder executivo”.
“Angola foi transformada no único país africano da CPLP que não tem autarquias e nunca realizou eleições autárquicas”.

“No plano dos direitos e liberdades fundamentais, o país continua a NÃO oferecer garantias jurisdicionais efectivas de defesa dos direitos fundamentais à vida, à inviolabilidade do domicílio, à liberdade de imprensa, do direito à greve ou do direito à manifestação”.

“Os níveis de desgovernação e de corrupção tornaram-se insuportáveis. O Estado tornou-se um agente do crime e o Governo demitiu-se da sua função principal de promover o bem comum. Ninguém mais respeita o Governo. Os mais velhos dizem correctamente que “Angola precisa de uma nova independência” – fim de citação.

Alguém pode desmentir isso? O que periga o Estado nestas palavras? Não é a própria essência da conduta criminosa do estado que periga a sua legitimidade? Quem é o politólogo, analista, comunicóloco, professor de Direito ou deputado que se preze, que, em sã consciência, pode negar estes factos?

No mesmo diapasão, o escritor Agualusa afirma que “o regime de José Eduardo dos Santos mantém a cegueira em relação aos mais desfavorecidos e ignora totalmente a miséria da população", vivendo uma espécie de "endocolonialismo" com extremas desigualdades sociais".

Nas vésperas do 25 de Abril de 1974, os patriotas que advogavam o direito à liberdade de expressão, à justiça social e ao governo próprio, também foram acusados de atentar contra a ‘segurança do Estado’. E muitos dos acusadores eram simples ‘bufos da PIDE’, leia-se meros informadores ou bajuladores do regime, que, por ironia, depois da revolução quiseram passar por ‘grandes revolucionários’. Quis o destino que, 39 anos depois, em situação similar, este papel esteja a ser jogado por alguns dos seus filhos.

É evidente que há necessidade de uma nova ordem política, uma nova matriz económica e uma nova cultura de governação que ponha fim ao “endocolonialismo”. Sim, uma nova independência, a independência dos mais desfavorecidos, que continuam a ser as grandes maiorias.