Luanda - Os 2.888 clientes inscritos para a aquisição de habitações nas centralidades do Kilamba e do Zango, que sobraram da primeira fase, estão desgastados com a falta de solução para o seu problema quase dois anos depois do pagamento da primeira prestação e exigem a entrega imediata das casas.

Fonte: JA
kilamba despejo.jpg - 40.42 KBAs reclamações surgem depois dos representantes deste grupo de lesados terem reunido com as direcções da Sonip e da Imogestin para se inteirarem da sua situação e saberem para quando a entrega das casas. Estas movimentações dos representantes da “Comissão dos 2.888” surgiram depois de saberem que o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, criou, a 10 de Junho de 2014, por Despacho Presidencial, uma comissão para proceder à transferência para a esfera do Estado e fazer o balanço da situação operacional e patrimonial dos projectos habitacionais do Programa Nacional do Urbanismo e Habitação, que se encontram sob a gestão da Sonangol Imobiliária e Propriedades (Sonip) em todo o país.

Esta posição do Chefe de Estado foi reforçada a 22 de Agosto de 2014, quando, numa visita à Centralidade do Kilamba, revelou que a Sonip ia transferir todas as suas responsabilidades para a empresa Imogestin que, terminado o processo de transferência, ia anunciar as regras para o recomeço das vendas dos apartamentos e vivendas que estão em fase de conclusão.

O coordenador adjunto da “Comissão dos 2.888”, Jean Paul, explicou que os clientes lesados decidiram organizar-se e enviar uma carta ao secretário de Estado do Tesouro, com conhecimento aos secretários de Estado da Administração do Território e da Justiça, ao presidente do conselho de administração da Imogestin,a presidente da Comissão Executiva da Sonip, à Casa Civil da Presidência da República e à directora do INADEC, na qual pediam um esclarecimento sobre “o tratamento que mereciam estes 2.888 clientes, de mãos atadas face à falta de respostas”.

Jean Paul disse a este jornal que “a nossa comissão reuniu-se com a directora comercial da Sonip, Deolinda Senna. Fomos informados de que a Sonip já não tem qualquer responsabilidade no processo, pelo que devíamos aguardar por uma comunicação do presidente da Comissão Executiva da instituição”.

O presidente da Comissão Executiva da Sonip, Orlando Veloso, enviou uma carta à “Comissão dos 2.888”, remetendo para a Imogestin as responsabilidades e assume a disponibilidade em proceder ao reembolso dos valores aos clientes que assim o pretendam.

 “A Comissão criada pelo Presidente da República tinha 90 dias, a contar de 9 de Junho, para concluir o processo de recepção dos projectos habitacionais e respectivas responsabilidades, estando, até ao momento, com um atraso de meio ano, sem, em momento algum, ter comunicado às pessoas que pagaram e não receberam até hoje as suas habitações”, acrescentou Jean Paul.

A “Comissão dos 2.888”, reuniu-se com o presidente do conselho de administração da Imogestin, Rui Cruz, tendo este explicado que estava a trabalhar para confrontar a informação recebida da Sonip com a dos beneficiários. “Por isso, Rui Cruz propôs à comissão que recebesse os documentos dos seus membros e os remetesse para a Imogestin”, disse Jean Paul.

A comissão conseguiu organizar 2.010 processos, dos quais 1.379 da lista dos 2.888 e 631, cujo nomes nunca chegaram a ser actualizados pela Sonip.

“Tentamos, a 6 de Novembro, uma audiência com o presidente do conselho de administração da Imogestin, mas fomos informados de que não tinha disponibilidade para receber-nos. A 13 de Novembro, enviámos um relatório ao secretário de Estado do Tesouro, mas mantém-se o silêncio”, disse Jean Paul.

A situação vai de mal a pior, pois as rendas das casas onde habitam actualmente estão no fim e não estão disponíveis para pagar novos arrendamentos. “O ano escolar das crianças está a terminar, pelo que precisamos de saber se vamos inscrevê-las nas escolas do Kilamba ou não. Continuam a fazer-nos descontos porque, para aderirmos ao processo de compra das casas, recorremos a créditos bancários. Acima de tudo, estamos há dois anos à espera das nossas habitações, um direito que nos assiste”, disse Jean Paul, que representa os outros clientes.

A “Comissão dos 2.888” considera que tem direito às restantes casas da primeira fase do Kilamba e do Zango e não às da segunda fase, uma vez não corresponder àquilo que os beneficiários pagaram para receber. Os beneficiários dizem estar “num estado de extrema frustração”, uma vez que, depois de dois anos de espera, não foram até hoje cumpridas as promessas de entrega até ao último trimestre do corrente ano. Até ao momento, não existe uma informação concreta sobre como e quando as entregas vão começar a ser feitas.

O Jornal de Angola procurou, mas em vão, ouvir a Sonip e a Imogestin, para levar a informação ao público sobre em que pé se encontra o processo de transferência, relativo à comercialização das casas das centralidades em Luanda, da Sonip para a Imogestin.

Depois de ter feito vários telefonemas, a nossa reportagem remeteu um questionário para a Sonip e a Imogestin. Uma das questões é saber quando e quem vai - a Imogestin ou a Sonip - resolver o problema das pessoas que continuam à espera das suas casas. O silêncio continua.