Luanda - Integra da mensagem ao povo do Huambo proferida por Liberty Chiyaka, o  Secretário provincial da UNITA no planalto central sobre a  “transição democrática e alternância pacífica do poder” e “a liderança do futuro de boa governação e justiça social”

Fonte: UNITA 

Angolanas, angolanos, compatriotas, povo do Huambo.

Angola, a África e o Mundo preparam-se para testemunhar um momento histórico de transcendental importância para povos, culturas e relações internacionais. Angola prepara-se para realizar em 2017 a primeira mudança de poder político em 40 anos, por isso, a UNITA apresenta a sua contribuição patriótica para a transição democrática e pacífica de poder de um regime oligárquico para um regime verdadeiramente democrático com segurança, confiança e esperança para todos e os caminhos para a liderança do futuro de boa governação, justiça social e económica.

Nos últimos 12 anos de vivências políticos-sociais no Huambo constatamos situações que ameaçam a democracia, a convivência e a segurança nacional, por isso, em defesa dos interesses de todos angolanos obrigamo-nos a contribuição patriótica colocando em primeiro lugar a nossa Pátria e interesse nacional. 

O Estado Angolano colonial (Província Ultramarina de Angola) foi fundado violentamente em 1885 pelo colonialismo português, um estado de exclusão total, injustiças, extremas desigualdades, hegemonismo de grupos, subjugação de povos e culturas, intolerância, etc. Em 1975 um novo Estado (República Popular de Angola) sucedeu ao Estado Colonial, mas esse nasceu, também, sob o signo da exclusão. Esse novo Estado chegou formalmente ao fim aos 31 de Maio de 1991 e foi instituído um novo Estado Democrático, a República de Angola. Mas, aquele estado fundando em 1975 continuou e continua na prática política de governação actual. A BOA NOVA é que felizmente este Estado Partidocrático (Estado Oligárquico) está a chegar ao fim, apesar do rasto de violência, desconfiança e vítimas que teima semear. Entretanto, sejam quais forem as dificuldades que Angola tiver ainda de enfrentar, uma coisa é certa: ANGOLA TEM E TERÁ DE PERTENCER A TODOS ANGOLANOS.

Durante 40 anos Angola tem sido governada e condicionada pelo mesmo Partido Político por políticas de exclusão, cultura de hegemonismo de grupos pela falta de visão estratégica enfim, pelo mesmo governo falhado nos objectivos nacionais e esgotado nas ideias. Em 2017 vai ser a primeira vez que Angola terá um novo Presidente da República em quase 40 anos, uma nova maioria parlamentar, novas políticas nacionais, novo programa de governo centrado no angolano e nova cultura política baseada na responsabilidade, na transparência, no serviço público desinteressado, na sensibilidade humana, enfim, um governo do Povo pelo Povo e para o Povo.

Os dirigentes do antigo (actual) regime, por desespero de causa têm criado obstáculos à mudança e alternância que Angola reclama.

Angola nossa pátria querida e amada, encontra-se assim, numa encruzilhada entre o triunfo da democracia autêntica e o triunfo da oligarquia absolutista.

Que saídas?

Primeiro: Devemos compreender que os ditadores precisam de ser libertos da prisão em que a história deles e o regime que criaram os tenha colocado.

Segundo: Angola precisa compreender que poucos países que tiveram o tipo de sistema e regime oligárquico de Partido hegemónico e anti-democrático tiveram lideranças visionárias que os fizessem sair de onde estavam para um novo Mundo sem as vicissitudes que Angola está a passar. Poucos membros da oligarquia compreenderam e compreendem que historicamente a violência não foi e não é benéfica. A violência não é benéfica para ninguém. A exclusão, a injustiça e a intolerância não são o caminho para a segurança de ninguém.

Terceiro: Precisamos compreender que a questão central do País é uma questão vital, pois prende-se com garantias, segurança e confiança no futuro. A história das ditaduras regista que em desespero de causa e necessidade de sobrevivência os ditadores são useiros e vezeiros da violência.

Portanto, a palavra-chave para os inúmeros impasses é pacto de confiança e segurança para todos.

Quarto: Todos nós, angolanas e angolanos, devemos deixar cair as nossas defesas de grupos e devemos erguer as nossas defesas nacionais. A democracia exige compromissos. Estes criam credibilidade e esta gera confiança e a confiança fortalece a política.

As lideranças não se podem permitir consumir pela desconfiança, pela insegurança, pelo medo, pela vingança, pelo ódio e pela violência. Angola precisa de liderança com inteligência emocional, inteligência moral, inteligência social e inteligência espiritual. A UNITA oferece esta liderança com autoridade política, autoridade moral e elevação. A UNITA oferece para Angola uma liderança visionária focada na realização do bem comum: a construção da esperança, da confiança e da segurança para todos. Angola não precisa de líderes revanchistas sejam eles políticos, religiosos, empresários, académicos, jovens, militares, polícias ou autoridades tradicionais. Angola precisa de liderança conciliadora e unificadora de todas as vontades e sensibilidades nacionais.

Quinto: “ Eu acho que o relacionamento entre a UNITA e o MPLA precisa de ser revisto na medida em que, ao invés de viverem o presente, há sectores que estão continuamente fixados no passado. Uns e outros precisam de compreender que Angola é o nosso berço comum e que ninguém é mais que o outro. Todos somos filhos deste País, todos temos os mesmos direitos e deveres e que sobre o passado, culpados fomos todos, vítimas fomos todos e responsáveis fomos todos. Agora, temos de virar a página e fixarmos os nossos olhos no futuro que deve ser construído cada dia que passa com actos práticos que consolidam o processo de reconciliação nacional. O futuro a que me refiro, não será construído e nunca chegará se alguém pensar que os outros vivem graças a ele. Do mesmo modo, esse futuro nunca será presente se for baseado na bajulação, na falsidade e em estereótipos. A reconciliação nacional exige frontalidade, verdade, justiça e reconhecimento mútuo que gera respeito mútuo”. Presidente Samakuva

Sexto: Os homens e as mulheres da nossa pátria com consciência do passivo nacional, se decididos, com fé no futuro e espírito de missão, podem alterar o curso da história. Ao longo da nossa história como Povo e Nação, vivemos momentos sombrios como os actuais, mas tivemos dirigentes sábios, líderes com visão, patriotas, inteligentes e corajosos que souberam elevar os interesses nacionais aos interesses individuais e de grupos. As lideranças actuais não se deviam permitir falhar. O caminho é o diálogo, a concertação, a unidade na diversidade, o respeito pelas diferenças, o respeito pelos adversários políticos e a boa convivência na diferença. Podemos divergir, podemos disputar, mas nunca mais poderemos intransigir, dividir, guerrear, odiar e destruir um irmão. Nunca mais!

Sétimo: Nesta fase crucial da nossa história é essencial compreendermos os dirigentes do antigo (actual) regime. Temos de penetrar nas suas mentes e pensar como eles. Temos de identificar quais são os seus receios, temores, medos, apreensões, incompreensões, interesses e frustrações. Precisamos conversar, dialogar, aproximar e convivermos para criarmos confiança, afastarmos temores e firmarmos um pacto de convivência na diferença.

Esta é a nossa visão de revolução de consciência nacional que Angola precisa empreender. A revolução passa também pela definição e assumpção de um quadro geral de garantias para todos, isto é, dirigentes e vítimas do antigo (actual) regime. Cremos ser um pequeno preço infinitamente insignificante quando comparado aos ganhos resultantes deste compromisso nacional. Os radicalismos, fundamentalismos, a exclusão, a intolerância e a violência já fizeram o seu triste, doloroso e vergonhoso caminho e o seu saldo é extremamente negativo. Angola devia e deve envergonhar-se de ter feito e ainda fazer heróis e mártires numa guerra fratricida e num contexto de luta política democrática.

Como povo martirizado, precisamos reconhecer o nosso passivo, reconhecer as nossas insuficiências, pois ninguém pode sozinho. Não pode haver mais um único representante de todos. Todos, somos poucos e necessários para a grande obra da construção de uma nação digna e próspera para todos. Devemos reconhecer as injustiças, as incompreensões e a desunião do passado para evitarmos os erros que marcaram a nossa trajetória recente. Mas, também, temos de honrar quem sofreu pela liberdade, democracia e paz. Precisamos respeitar a contribuição de cada um, respeitar e tratar com dignidade os dirigentes do antigo (actual) regime. Precisamos compreender que Angola pertence a todos.

Não se pode e não se deve afastar, perseguir e humilhar ninguém. Angola tem e terá de pertencer a todos angolanos, oprimidos e opressores actuais, excluídos e privilegiados actuais, ricos ou pobres, letrados ou não, partidários ou apartidários, religiosos ou não, do norte ou do sul, do centro, do leste ou do litoral, Angola tem e terá de pertencer a todos.

Envolvamo-nos todos na luta multiforme para a consolidação do estado democrático e de direito, consolidação da paz e construção do progresso para o nosso País. Seja qual for a dor e o peso das injustiças actuais não nos desviemos do caminho do diálogo, do respeito pelas diferenças, da convivência na diferença. Procuremos sempre atingir os nossos objectivos por meios pacíficos e legais.

A partidarização dos órgãos de defesa e segurança (Polícia Nacional, Forças Armadas e SINSE), a instrumentalização da Comunicação Social do Estado, a violência policial, a discriminação e a exclusão de angolanos não partidários do actual regime são inaceitáveis e reprováveis.

A competição política não devia significar luta pela sobrevivência de pessoas e grupos. A competição política deve ser uma disputa de ideias, de programas e de visões diferentes que no fim produz mais unidade, compreensão, respeito mutuo, aceitação das diferenças, confiança e desenvolvimento sustentado do nosso belo e grande País.

Em nome do Secretariado Provincial da UNITA no Huambo, em nome da minha família e no meu próprio, desejo ao Povo do Huambo festas felizes, feliz dia da família e próspero ano novo.

Que 2015 traga paz social, boa convivência na diferença, mais rendimento para as empresas, famílias e para os trabalhadores angolanos e melhor qualidade de vida para todos.

Deus abençoe Angola e os nossos heróis e mártires nos inspirem maior devoção a causa pela qual partiram.

Muito obrigado

Huambo, 15 de Dezembro de 2014