Namibe - Pela primeira vez foi feita uma homenagem pública a centenas, senão milhares, de pessoas mortas pelas autoridades governamentais por ocasião onda de repressão que se seguiu às eleições de 1992 quando o país caminhava de novo para a guerra.

Fonte: VOA
Unita Namibe.jpg - 64.72 KBA 5 de Janeiro de 1993, mais de 600 cidadãos foram assassinados na província do Namibe, sendo que mais de 250 pessoas na cidade do Namibe e outras 360 na cidade piscatória de Tombwa por asfixia, num contentor. Desde aquela data, as famílias das vítimas nunca puderam chorar e realizar o óbito de seus ente-queridos por ameaças das armas.

Agora, pela primeira vez, as vítimas da referida chacina foram publicamente homenageadas nas respectivas valas comuns onde jazem os seus restos mortais.

O acto foi dirigido pelo secretário provincial da UNITA no Namibe Ricardo Ekupa de Noé Tuyula, acompanhado por membros da direcção, militantes, simpatizantes, amigos do partido, familiares das vítimas e de alguns membros da sociedade civil. O evento decorreu sem sobressaltos no cemitério Municipal do Calumbilo, sob a protecção da polícia.

As mulheres entoaram cânticos mas também choraram pela alma dos entes queridos, cuja vida foi amputada prematuramente pelo simples factos de falarem e pensarem diferente.

Ricardo de Noé Tuyula disse  que o dia 5 de Janeiro é um marco histórico na provincia do Namibe e não só, que jamais será esquecido por gerações vindouras a julgar pela dimensão humana  em que cerca de 600 pessoas foram sacrificadas inocentemente.

Para o político da Unita, os massacres são uma das estratégias antigas utilizada pelo regime com o propósito de intimidar e ao mesmo tempo humilhar os angolanos que reclamam a “liberdade e o respeito pela pessoa humana”.

Tuyula rebuscou outros exemplos do passado recente, com realce para o 27 de Maio de 1977, em que, segundo o dirigente do partido do galo negro, o MPLA dizimou “mais de 40 mil pessoas entre militantes activos do seu próprio partido”.

Tuyula referiu-se também ao que denominou de “genocídio tribal de Luanda”, que culminou com o assassinato do vice-presidente da Unita, Jeremias Calandundula Tchitunda, Salupeto Pena, o secretário-geral Mango Alicerces, Chimbili e outros, assim como a celebre sexta-feira sangrenta

No local,  várias pessoas prestaram o seu testemunho, falando o que viram e sentiram no pretérito 5 de Janeiro de 1993, tanto na cidade do Namibe,  como no município piscatório do Tombwa. Alegaram que pela dimensão das vidas humanas perecidas, a data não pode passar de forma despercebida, impondo-se a necessidade de se institucionalizar o 5 de Janeiro como “dia dos mártires da repressão marxista em Angola”.

A actividade estendeu-se aos dois cemitérios do Calumbilo na cidade do Namibe e do Tombwa, respectivamente. O programa previa também  o culto pelas almas dos defuntos na paróquia de Santo Adirão, embora esta acção de graças tenha sido contestada pelo partido no poder e o Executivo da província do Namibe.