Luanda - Nascido a 22 de Janeiro de 1960, no Nzeto, província do Zaire, Nguxi dos Santos foi repórter de guerra na TPA, na década  de 80. Nguxi  vem do cinema documental como sonorizador de documentários exibidos nas salas de cinema, que divulgavam a política do Governo, logo nos primeiros anos após a proclamação da independência.

Fonte: JA

Naquela altura era funcionário do Ministério da Informação, mais tarde do Departamento de Educação Política, Propaganda e Informação do MPLA. Em 1977 foi transferido para a Televisão Popular de Angola (TPA), por intermédio de uma guia de transferência por ele solicitada, e assume as funções de Operador de Som.

Não tem ídolos, a sua paixão deve-se ao contacto visual com a diversidade de equipamentos, como câmaras, microfones e holofotes. Orlando Martins, já aposentado, e Tião, foram os seus mestres angolanos, além de professores cubanos.

Nos primórdios da sua trajectória passou pela captação de som em zonas de guerra, registando sorrisos, cantares e choros, sons peculiares das trincheiras, dos militares das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA).

Considera-se repórter de guerra por ter trabalhado nas frentes de combate um longo período da sua carreira. Entre 1979 e 1989 integrou a equipa de cinema que filmou a Batalha da Cahama e a Batalha do Cuito Cuanavale, no Triângulo do Tumpo, entre as FAPLA e o exército sul-africano, na província do Cunene e Cuando Cubango, sob orientação do Departamento de Cinema da Direcção Política Nacional das FAPLA.

Esteve também na Oitava Região para o registo da perseguição ao Batalhão 517 da Unita. Participou no projecto de cinema “Opção”, da TPA, chefiada por Carlos Henriques, que filmava as acções militares.

“Não sinto prazer em trabalhar nas frentes de combate, apenas me especializei para uma missão, tal como os pilotos”, argumentou, lembrando terem sido momentos “duros” por trabalhar rodeado de tiros e que em nenhum momento podia dizer “que foi bom ou bonito”, mas sim o cumprimento de um dever para com a Pátria antes de atingir a idade para cumprir o serviço militar obrigatório.


Um dos seus sonhos é registar a vida social, ir além da guerra, e mostrar outras vivências do país, sobretudo as principais metamorfoses na sociedade angolana dos últimos 40 anos, “as mudanças do país”.

Versatilidade profissional

Nguxi dos Santos começou a utilizar uma máquina de gravação de som “Nagra 4.2”, depois a “SM”, mas ia além disso. Nas frentes de combate, onde as equipas eram reduzidas a duas pessoas, desempenhava também a função de assistente de câmara.

Atingir a categoria de engenheiro de som consta dos seus sonhos, mas tem que frequentar outros cursos, além da experiência e tempo de trabalho.

“A fase do filme mudo passou, por isso, hoje o som é tão forte e importante quanto o poder das imagens”, lembrou. Nguxi explicou que em determinados filmes, antes de uma imagem, ouve-se um som, por isso considerou o som significativo entre os elementos estéticos e verbais de uma obra audiovisual.

A captação sonora, afirmou, reveste-se de um amplo profissionalismo, estando estritamente dependente da forma como é concebido o projecto fílmico. Em televisão pouco recorreu a efeitos sonoros, mesmo nas reportagens do programa “Opção”, o som era directo, não havia simulações “todos os sons eram verdadeiros, incluindo os tiros”.

Outros filmes

A cumplicidade em registar operações militares atingiu também os primeiros anos do período multipartidário, em que Nguxi dos Santos assumiu a realização e operador de câmara para registar o conflito pós-eleitoral, ocorrido em Luanda, em Outubro de 1992.


Dois anos depois, filmou a libertação da cidade do Huambo, pelas tropas do Governo, e a chegada ao Cuito, no Bié, resultando no documentário “Pelo Silêncio das Armas” (1994).

À entrada do século actual, a experiência leva-o ainda a acompanhar as manobras militares da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), realizadas em Cabo Ledo e no Waco Cungo, província do Cuanza Sul. Em 2000, foi operador de som e assistente de realização de “Comboio para a Vida”, rodado em França e Níger, uma co-produção da Draed Locks e da ONG francesa “Les enfants de I´Air”. Em 2005 produziu “As FAPLA e os Seus Veteranos”.

Musicais e documentários

A trajectória de Nguxi dos Santos está indiscutivelmente associada à história da produção de vídeos clipes pela TPA, às transmissões de espectáculos musicais, desde o final da década de 1980.

A produção e realização de programas musicais (Sunga Sunga, Revista Musical), entre outros, conferiu-lhe experiência para a produção e realização de documentários.


Em 1987, frequentou um curso de realização e produção, orientado por especialistas cubanos.  Mas, actualmente o seu maior desejo é afirmar-se como produtor executivo de cinema e televisão, apetência motivada pelas actividades desenvolvidas na TPA e na extinta produtora Dread Loocks, da qual foi co-fundador.


Após o Curso de Realização e Produção na RTP em Lisboa, em 1993, trouxe na bagagem “O emigrante em Portugal”, como trabalho de fim de curso. Em 1997, assume pela primeira vez a realização do filme documental “Um Homem Enterrado Vivo”, facto verídico que considerou desumano, por se tratar de um homem enterrado vivo, depois de acusado de feiticeiro pelos seus familiares, na zona de Calumbo.

*Francisco Pedro