Luanda – A pouco dias da realização do IV Congresso Ordinário na FNLA, alguns candidatos avançaram aquelas que serão as linhas de força dos seus programas de gestão do partido. Entre os quatro candidatos, excepto Lucas Ngonda, que concorre à sua reeleição, a questão da suposta “pessoalização do partido” contínua na ordem do dia.

Fonte: O País
Lucas Ngonda.jpg - 72.29 KBPor isso, para o candidato To Zé Fula, a reorganização do partido, dada a alegada “desorganização” que nas suas hostes se regista, em consequência das constantes crises que vem conhecendo ao longo dos tempos, deverá merecer prioridade.

De acordo com o vasto programa deste candidato, a ser submetido no conclave, a FNLA está desorganizada, sendo preciso e urgente apostar numa política de liberdade interna no seio do partido, obedecendo aos princípios democráticos e de justiça, que ainda considera ser um “bico-de-obra” na agremiação dos irmãos.

“É preciso que haja democracia no seio do partido. É preciso que exista justiça na FNLA”, exortou Fula, que acrescentou que “o Partido está mais desorganizado do que nunca, e assim não se pode ir a lado nenhum enquanto estivermos divididos”.

“Não se pode falar de projectos sérios para uma verdadeira oposição sem que nós próprios primeiro estejamos organizados”, apontou.

Para que este processo de unificação seja um facto é preciso incrementar mais diálogo com as forças vivas do partido a todos os níveis, bem como a preparação e sensibilização, tendo em vista a dinâmica que se vive, deixando de parte o “radicalismo tradicional”, que a fonte diz ainda prevalecer na gestão da FNLA.

É assim que o entrevistado disse que, no seu programa, prevê a execução de um projecto de formação de quadros que começará pelos dirigentes até aos militantes das estruturas de base em todo o país.

To Zé Fula, que concorre pela primeira vez ao cadeirão máximo da FNLA, defende ainda dedicar especial atenção e dignidade aos antigos combatentes, que apesar de terem dado um grande contributo à Nação têm sido marginalizados.

“Depois da libertação Nacional, o ELNA não tem merecido nenhum reconhecimento. É preciso que seja legislado como um exército de libertação nacional. É preciso estudar um mecanismo de reconhecimento do mesmo, junto a Assembleia Nacional”, lamentou, tendo o político apontado a juventude como outra franja da sociedade a merecer atenção, assim como as mulheres no seio do partido, dando-lhes uma maior liberdade financeira.

Quanto à organização do Congresso, a fonte de OPAÍS considerou estar desorganizada, pois ainda prevalece o conflito de geracional que opõe as gerações de 15 de Março de 1961 às novas.

O político apontou, por outro lado, como grande problema do partido dos irmãos, aquilo que chamou de “conflito de gerações”, que já não serve para o partido, mais “a geração jovem deve mostrar que existe força para dirigir o partido no contexto actual do país”, pelo que a geração do 15 de Março deve compreender isso, se a ideia for ser uma verdadeira Oposição.

Fula esclareceu, igualmente, ser preciso compreender, atendendo ao novo contexto que o partido atravessa, a adopção de uma política de maior inclusão, de modo a desenvolver esta agremiação politica, o que no seu entender não tem sido verificado. Tanto é assim que o político diz notar uma excessiva centralização da parte da direcção actual na organização deste Congresso que considerou ser o possível.

Modernização e reorganização

David Martins é outro candidato ao cadeirão máximo da FNLA, que elegeu dentre as várias prioridades do seu programa a questão da inclusão, uma vez que entende que a sua ausência no seio da massa militantes tem sido o factor que tem levado a desistência constante de militantes, podendo levar futuramente o partido ao seu desaparecimento da cena nacional.

“De algum tempo a esta parte temos estado a notar que no seio do partido é cada vez mais maior a tendência de acções de exclusão. Há dirigente a abandonar o partido, que preferem distanciar-se do partido devido a esta desorganização”, afirmou

Sob lema “modernizar e restruturar”, o programa deste candidato prevê também dar maior atenção à questão da acomodação dos membros com a criação de uma sede própria para o partido. “É uma pena a FNLA não ter uma sede digna. Um partido com a dimensão politica deste gabarito não se pode permitir que não tenha uma sede para que os militantes se reúnam”, lamentou o político.

À semelhança de outros candidatos, a valorização dos antigos combatentes também faz parte da lista de prioridades da agenda de David Martins. Caso o entrevistado vença o conclave, promete persuadir o executivo na valorização dessas pessoas que muito deram para a libertação Nacional.

Sobre a reestruturação, a fonte esclareceu ser preciso que os dirigentes do partido percebam que o partido não pode ser governado dando primazia a interesses pessoais, como tem vindo a acontecer.

“Existem interesses pessoais na actual governação da FNLA. Isto é que esta a estragar o partido. É preciso mudar este quadro”, disse o candidato David Martins, que propõe maior inclusão e diálogo antes mesmo do Congresso agendado para este mês, pelo que admitiu que poderia ser o pano do fundo da alegada impugnação dos concorrentes.

Falta de clareza

Já o candidato Pedro Gomes começou por se manifestar confiante com a sua vitória no Congresso, uma vez que entende que a onda de insatisfação no seio da massa militante é inquestionável e que poderá beneficiá-lo. “Nas primeiras eleições elegeu cinco deputados. Na outra elegeu três deputados. Logo a seguir dois deputados”, lembrou Gomes.

Quanto à gestão financeira e a sua transparência, o candidato disse que tal é uma questão que fará parte das prioridades do seu programa. “Não existe clareza na gestão do partido. O que está em frente são os interesses pessoais. Existe interferência da parte do Presidente Ngonda na comissão instaladora para a organização do Congresso”, denunciou.

Sobre as supostas interferências na comissão criada para a realização do Congresso, da parte de Lucas Ngonda, Gomes ameaça uma possível desistência ou mesmo impugnação caso estas irregularidades não forem reparadas. “Nós não podemos aceitar que o partido continue a ser governado por interesses pessoais”, rematou.

Outra preocupação deste candidato é a recuperação de algumas infra-estruturas afectas ao partido, confiscadas pelas autoridades judiciárias do país, há já algum tempo. Contudo, para o porta-voz da FNLA, Laiz Eduardo, não existem quaisquer irregularidades que possam levar a não realização do Congresso, pelo que garantiu, inclusive, existir condições financeiras para o êxito do mesmo.

Quanto aos rumores que se levantavam em alguns círculos políticos relativos a falta de verbas a fonte desdramatizou. Sobre as acusações levantadas por alguns candidatos acerca de irregularidades relativas à falta de clareza e as interferências nas actividades que antecedem o Congresso, o presidente actual, Lucas Ngonda, contactado, preferiu não fazer qualquer comentário.