Luanda - O valor de um homem não se mede pela sua nobreza económica, antes pelo contrário, pelo seu potencial cognitivo, pela sua força interior que emana face as circunstâncias quotidianas que lhe surpreendem.

Fonte: Club-k.net

Antigamente a simples presença do médico irradiava vida. “Mestre, diga uma única palavra, e minha filha será curada...” A continuidade da vida na terra era fruto das relações afectivas que unificavam os doentes aos seus médicos. Naquele tempo os médicos sabiam dessas coisas, o médico não era um ser dotado de conhecimento, antes pelo contrário um ser dotado de coragem, fé, optimismo e entusiasmo. Naquele tempo, o médico se equiparava a um cavaleiro de guerra solitário que apenas com uma única espada dissipa a morte do ser humano.

Porém, apesar do mar de dificuldades que encobria o mundo científico da pessoa do médico, naquele tempo o médico se revestia de muita calma na sua decisão, era um ser repleto de nobreza, cuja sua chegada inspirava respeito em todas as sociedades no seu sentido global, médico era tido como uma lâmpada acesa que encandeia por todos os lados, uma estrela cintilante no firmamento global.

Ser médico era motivo de grande honra, era na verdade uma verdadeira posição social.

O médico era um ser louvado por todos, a classe médica estava no ápice das profissões do mundo, equiparada apenas a advocacia.

O médico era considerado o arquiteto da vida na terra na medida de seu saber, era tido como um pequeno deus entre os deuses no passado. O médico era símbolo de liberdade, fonte de saúde e vida, a chegada do médico nos lares era reservada com grande ufania e precisão, recebido em cortesia, era uma pessoa cujo vislumbre enchia – se de glória, era um modelo social para vida de então, estudar medicina era visto como estudar um curso de carácter supremo.

O cavaleiro solitário que lutava contra a morte era um santo. Quem, ousaria pensar qualquer coisa de mau contra o médico? Naquele tempo, as pessoas julgavam que o médico era um santo, e porque as pessoas pensavam assim, eles eram santos. O médico era um ser divino.

Hoje encontramos em alguns lugares do mundo onde aquele valor parece persistir, embora com um vislumbre preso no fracasso, como nos EUA, que fazer medicina está reservada apenas a pessoas dotadas de mentes brilhantes, a estudantes com vitórias esplêndidas nos seus cursos básicos, outrossim, existem um conjunto de normas Norte Americanas para se fazer medicina como: currículo escolar/ de ensino superior; GPA (grade point Average), MCAT (Medical College Admission Test), bacharelado, voluntarismo, são regras que enceram em si um conjunto de obstáculos no que respeita o ingresso às Faculdades de Medicina americana.

Na Inglaterra para além do conjunto de critérios que visam enaltecer o igresso às faculdade de Medicina, é obrigatório a realização de uma entrevista de vocação antes do ingresso, e esta entrevista constitui parte integrante da avaliação aos candidatos. O sistema educativo de Portugal apenas tem em consideração a média do ensino secundário (50%) com o resultado das provas de ingresso (50%) de Biologia e Geologia, Física e Química e Matemática.

O Curso de Medicina, que desde o tratado de Bolonha, deixou de ser uma Licenciatura passando actualmente a ser um Mestrado Integrado, mantém a duração de 6 anos letivos obrigando agora à elaboração de uma tese que, ao ser apresentada no final do sexto ano, aufere o grau de Mestrado ao Curso de Medicina, nestes lugares encontra – se ainda um impacto em termos de valorização no que tange a formação da pessoa do medico.

Em Angola fazer medicina nunca foi fácil, nem simples, o curso de medicina em Angola era visto como um curso de alto relevo social e prestígio, cujo seu ingresso ofuscava o sonho de muitos angolanos que anseavam por ser medicos.

Hoje sobre tudo em Angola encontra – se uma página em avesso no que toca a pessoa do médico, médico um ser de respeito, passou a ser desrespeitado por muitos, observado como um profissional vulgar. Angola precisa revitalizar o respeito no que toca a pessoa do médico. Porque que uma profissão tão prestigiosa, tão valorizada, foi assim negligenciada em Angola?

Precisamos reverter esta crise de identidade, precisamos de buscar o passado do médico e liga – lo ao seu presente, esquecendo – se de suas limitações científicas no passado. Precisamos de ressuscitar os ensinamentos de Hipócrates, de Eusculápio, de Galeno, no que toca o valor do médico.

Todavia, o panorama do valor do médico hoje em Angola, é preocupante. Recentemente num programa de rádio matinal, um jornalista que goza de um renome excelso, não media o peso das palavras de mensagens enviadas pelos cidadãos, motivado pela emoção inspirada pelo fôlego de seus ouvintes, deixou que o fracasso inundasse sua voz ao desrespeitar a pessoa do médico, tratando – lhes de mecânicos despidos de conhecimento sobre a arquitetura humana, isto, na verdade feriu – me bastante convidando – me a escrevinhar este pequeno artigo. Pois diz o adágio popular, o silêncio é também uma resposta, porém em contraste a este adágio quem não fala consente.

Ontem o Angolano chorou ter um médico ao seu lado, hoje, o país ainda goza de sede de médicos pelas periferias fora, mas a pessoa desta digna personagem já é desrespeitado por muitos, o que há de ser amanhã, em que teremos uma Angola abarrotada por médicos, uma vez que existem inúmeras universidades dispersas por Angola fora onde o curso de medicina é um facto.

Deus nos acuda, onde colocaste o prestígio e o valar que deste aos teus filhos médicos ontem, Angola?

Para o meu assombro, um cudurista contaminado por um faro feroz e um siso medíocre, sem pudor e sem carácter, insultava a pessoa do médico, pintando a letra de sua música com uma mensagem algemada nas correntes do descalabro, desprezo e humilhação, dizendo: «MÉDICA MALUCA SOLTEIRA E TARADA, MÉDICA MALUCA SOLTEIRA E TARADA, MÉDICA MALUCA SOLTEIRA E TARADA. Isto é inadmissível, este indivíduo em outras paradas do planeta seria processado e sujeito a sanção e multa.

Sem perder pistas, um comportamento a quem da desonra invadiu o nosso ego, oriundo da atitude sem carácter de alguns familiares de um utente, recentemente um fenómeno caricato e intolerável, tomou lugar numa clínica de em Angola, um paciente foi sujeito a uma ecografia, no estudo de medicina, na verdade, sabe que o diagnóstico em medicina é fornecido pela história clínica, e os exames complementares servem apenas de base no que respeita a decisão última sobre aspectos morfofuncionais.

Após a solicitação da ecografia, foi ligado ao especialista com intuito de realizar este exame de imagem, não obstante, houve demora de alguns minutos para a chegada do médico imagiologista, logo a sua chegada foi vítima de agressão física em plena clínica pelos familiares do utente, sendo batido. Onde pararemos com este tipo de comportamento tão desumano que desrespeita descabidamente a pessoa do médico. E muitos outros fenómenos pejorativos dispersam – se por Angola fora e carecem de uma resposta definitiva com intuito de mudar o panorama do médico.

A medicina inventada por Hipócrates, foi inventada com um perfil de prestígio, honra e reverência, pois é nela onde se encontravam conservada a solução dos problemas que aturdiam a saúde dos doentes. Porém, a nossa realidade hoje, tomou o peso da evidência contrária. Em que a decadência da educação e do respeito toma conta de muito no que toca o trato da pessoa do médico.