Luanda - Atrás das histórias que agravam o sentimento de insegurança na capital do país, o Novo Jornal percorreu os municípios de Viana e de Belas e constatou que a preocupação é real: Só na estrada da Samba, em poucas horas testemunhámos 13 assaltos.

Fonte: NJ
CPL.jpg - 33.73 KBPelas 18h00, o NJ fez-se à estrada. O horário foi escolhido criteriosamente: É quando o sol se põe que os assaltantes mais atacam. O nosso primeiro destino foi Viana, de onde nos chegaram vários relatos de roubos a residências e cantinas. Mas, mais do que ouvir as vítimas, a nossa equipa de reportagem tornou- se, ela própria, testemunha do fenómeno, assistindo a uma série de assaltos à mão armada, realizados por jovens e em pleno trânsito. Só na estrada da Samba, em poucas horas, testemunhámos 13 assaltos.

O problema não é novidade para os moradores, que descrevem um cenário de crescente insegurança, apesar dos alertas dirigidos às autoridades. "Pedimos ao comandante de Luanda para ver essa situação porque estamos cansados. Todos os dias há mortes e roubos em vários bairros do município. Por vezes, não entendemos qual o trabalho que a nossa Polícia faz aqui", lamentam. O NJ sabe que alguns pedidos de socorro dos moradores de Viana chegaram ao conhecimento do responsável máximo de Luanda, António Maria Sita, que garantiu uma solução.

A promessa está contudo longe de convencer Maria Eduardo, que viu os protestos encaminhados para o comandante provincial de Luanda e para o chefe da divisão de Viana caírem em saco-roto. "A resposta que recebemos dos dois dirigentes é de que iriam tratar do assunto, mas, passados alguns dias, tudo continua na mesma. Não sei onde é que vamos parar com esta situação", desabafa.

A moradora diz ainda que, só na semana passada, na zona onde vive, 11 casas foram assaltadas. "Apenas três vizinhos apresentaram queixa. Os outros dizem que, mesmo denunciando, nada vai ser feito pela Polí-cia. A situação estava um pouco calma desde Outubro, mas agora tudo começou de novo", reforça a mulher.

FALTA DE LUZ É ADVERSÁRIA

A percepção de aumento da criminalidade é uma constante no discurso de todos os entrevistados. Os crimes passionais, os assaltos e a agressão no decurso de lutas com garrafas lideram a lista de ocorrências mais frequentes, ainda de acordo com os moradores de Viana.

O retrato de insegurança repete- -se no município de Belas, onde os moradores também estão insatisfeitos com a Polícia Nacional, embora não atribuam as responsabilidades apenas à sua actuação. "Estão a crescer muitos guetos em Luanda. Muitas dessas zonas não têm luz e torna-se difícil a Polícia trabalhar em zonas assim. A falta de energia é o grande adversário das autoridades e de qualquer estratégia de combate ao crime, que apenas tenha em conta o recurso à repressão", defende a habitante Luísa Gomes.

Já na centralidade do Kilamba, o foco da contestação assenta mesmo na intervenção policial. "As coisas aqui estão mal, principalmente no período nocturno, altura em que muitos moradores chegam a casa depois de cumprirem mais um dia de trabalho e suportarem um trânsito intenso. Quando chegamos, ainda somos assaltados. Eu já passei por isso três vezes, aqui mesmo, debaixo do prédio. Apresentei queixa e até hoje nada foi feito".

A história chega-nos de João Pedro, morador do bloco V, para quem a Polícia Nacional precisa de fazer mais, nomeadamente através do policiamento de proximidade. "Na semana passada ia perdendo um amigo. Ele só não morreu porque a mulher ligou para ele a dizer que havia quatro homens estranhos no estacionamento. O aviso fez com que não descesse do carro. O outro vizinho que chegou e saiu logo não teve a mesma sorte. Os marginais receberam-lhe a viatura", relata.

Dora António, outra moradora, acredita que a solução passa pela instalação de câmaras e pela abertura de mais esquadras. "Existem estudos que comprovam que estes meios foram a razão da diminuição dos assaltos em muitos países", aponta, acrescentado que a videovigilância é um aspecto a ter em conta, independentemente dos custos que acarreta.

O Novo Jornal contactou o gabinete de comunicação e imagem do Comando Provincial de Luanda, para obter esclarecimentos sobre as reclamações dos moradores de Viana e Belas. O porta-voz da polícia, Mateus Rodrigues, disse já tem uma equipa no terreno que está a estudar o problema, dentro em breve os moradores terão dias melhores.