Luanda - 0 clima de tensão política que se vive na RDC, desde as manifestações desta segunda-feira, pode ser abordado sob quatro níveis de análise:

Fonte: Club-k.net

Image1. As manifestações estão na base da vontade do Chefe de Estado de alterar a Constituição do país para poder recandidatar-se a mais um mandato, uma intenção idêntica a do antigo chefe de Estado da República do Burkina Faso, que levou ao seu afastamento pela força das manifestações; Blaise Campaore cedeu às pressões do povo nas ruas. Assim, as manifestações que decorreram durante a semana na RDC representam, efectivamente, o amadurecimento político do povo congolês para defesa dos seus legítimos interesses, consagrados constitucionalmente.

2. Se Kabila retira as suas intenções, termina a crise. Ao pretender perpetuar-se no poder, as lideranças africanas, de uma forma geral, transformaram-se num factor de conflito. A Africa e os africanos precisam de instituições fortes, no quadro da separação de poderes, e não de líderes fortes, como tem sublinhado o Presidente Obama.

3. A visita do Presidente da República de Angola a RDC foi percebida pela sociedade política congolesa como apoio de Angola a Kabila para alterar a Constituição. Esta percepção aumentou o sentimento de revolta da população congolesa que se manifestou, assim, contra as intenções de Kabila e, simultaneamente, contra a presença do Presidente de Angola em Kinshasa. A presença militar e a ingerência de Angola nos assuntos internos da RDC é percebida como nociva, face a um passado recente.

4. O clima de conflitualidade que reina na região dos Grandes Lagos de que a RDC é parte geográfica agudiza o clima de tensão, a que se junta o entendimento de que Angola é o país que mais defende uma solução militar para resolução dos problemas da Africa Central no quadro dos esforços políticos da NU na região.

5. Efeito de contagio que a crise da RDC pode ter nos países vizinhos, particularmente em Angola. Face a tomada de consciência das populações, Angola tem de fazer reformas políticas profundas, cujo sistema é percebido pela opinião publica nacional como obstáculo ao processo democrático.