Luanda - Não está fácil encontrar dólares, ou outra moeda estrangeira em Angola. No mercado formal simplesmente não há. Nas kinguilas é muito caro. Quem viaja vê-se e deseja-se para obter as indispensáveis notas verdes, ainda que cumpra todos requisitos exigidos.

Fonte: Expansão

Quem tem dólares no banco só lhe é permitido levantar a conta-gotas. Se o acesso aos dólares físicos "está malé", parafraseando o cantor Puto Português, fazer uma transferência internacional não está melhor. Os "expatriados" passam horas em bichas para enviar dinheiro para os países de origem. As empresas não têm melhor sorte.

Nos bancos amontoam-se as ordens de transferências de firmas angolanas para fornecedores estrangeiros. Com tantas dificuldades, parafraseando de novo o Puto Português, estava a "esconfiaré" que o dólar estava a "acabaré" em Angola. Os parágrafos anteriores foram retirados do Economia 100 makas que escrevi para a edição de 20 de Junho último. Recupero-os seis meses depois porque assentam que nem uma luva à actual situação no mercado cambial angolano.

Há seis meses a culpa era das petrolíferas que não estavam a vender aos bancos a quantidade de divisas que o Banco Nacional de Angola (BNA) esperava que fossem vender com a nova lei cambial para o sector. Bastou ao banco central aumentar a oferta nos leilões de moeda estrangeira que realiza junto dos bancos para o mercado acalmar. Agora a situação é mais grave.

Ainda que queira, o BNA não terá muito espaço de manobra para aumentar a oferta de divisas. Aliás, fez o contrário. Entre Junho e Agosto o banco central vendeu aos bancos 6,9 mil milhões USD. No trimestre Setembro- -Novembro as vendas nos leilões de divisas baixaram 40% para apenas 4,1 mil milhões USD. Face à escassez de dólares nos bancos, às empresas e às famílias não resta outra alternativa senão recorrerem às kinguilas, que viram o negócio prosperar.

A nota verde passou a ouro verde e já vale mais de 120 Kz no mercado informal. Com o petróleo, principal fonte de angariação de divisas em baixa, o mais natural é que a oferta se mantenha ou até diminua. Com a procura deverá acontecer o contrário. Com o kwanza sob pressão, os agentes económicos vêem no dólar o porto seguro para as suas poupanças.

Diz a lei da procura e a oferta que, quando a procura aumenta e a oferta diminui, os preços sobem. A subida de preços modera a procura e volta-se ao equilíbrio. A lei da procura e da oferta aplica-se a qualquer bem ou serviço, desde as bananas às empregadas domésticas, passando pelas divisas.

Em Angola, no mercado cambial oficial, como o preço é administrado pelo BNA, a lei da oferta e da procura não se aplica. Há seis anos, aquando do choque petrolífero de 2008, o banco central resistiu em desvalorizar o kwanza.

O resultado foi uma sangria desproporcionada das reservas de divisas que obrigou o País a bater à porta do Fundo Monetário Internacional (FMI). Para libertar o empréstimo de ajuda à balança de pagamentos de Angola, a instituição pôs como condição a desvalorização do kwanza, e o BNA não teve outro remédio senão seguir o conselho dos homens de Washington. Desta vez, o BNA já deixou o kwanza desvalorizar 4%. É um progresso mas é pouco. Se a moeda nacional já estava sobrevalorizada antes de o petróleo baixar, agora ainda está mais.

A manter-se a actual pressão sobre a moeda nacional, o banco central precisa de deixar desvalorizar mais o kwanza reduzindo o diferencial face ao mercado informal. Sob pena de a situação se tornar insuportável.

O BNA tem resistido em desvalorizar o kwanza com medo de que a inflação aumente. Os receios são fundados. Quando uma moeda desvaloriza, os produtos estrangeiros tornam-se mais caros. Numa economia, como a angolana, que compra fora uma parcela significativa do que consome, a subida da inflação torna- -se inevitável. Embora menos famosa do que a lei da procura e da oferta, a curva de Phillips, desenvolvida pelo neozelandês William Phillips, ensina-nos que, no curto prazo, existe um trade-off entre inflação e desemprego.

Em termos simples, isso quer dizer que, para termos mais emprego no curto prazo, temos de aceitar mais inflação, e vice-versa. Parece-me ser esta a situação em que se encontra a economia angolana. Ao tornar os produtos estrangeiros mais caros, um kwanza mais fraco abre oportunidades de investimento ao feito em Angola. Mais investimento gera mais emprego. Como esse investimento será fora do petróleo, isso ajuda à diversificação da economia e à redução da petrodependência.

Cabe às autoridades angolanas decidirem o que fazer: insistir no kwanza forte ou deixá-lo enfranquecer. Como se percebe, eu já escolhi: Para uma economia mais forte, eu voto num kwanza mais fraco...