Luanda - A mentalidade do barril de petróleo regressou com a mesma rapidez com que desceu o preço do dito no mercado internacional. E com ela, o amontoado de falsidades e especulações sobre a situação cambial e financeira pelos analistas cuja especialidade é  bater constantemente na tecla catastrofista, sempre que se trata de caracterizar a economia angolana.

Fonte: JA

O eterno anti-angolano jornal “Público” exultava ontem com o regresso às suas manchetes dos velhos tempos: “choque do petróleo ameaça negócio de empresas com Angola”. Antes dele, Rui Machete, ministro dos Negócios Estrangeiros português, falando em Luanda, em visita oficial, até se propôs ajudar Angola com a “experiência da austeridade” de Portugal.

Mas quando a brincadeira ultrapassa os limites, ainda há quem tenha o discernimento e a competência suficiente para usar a palavra certa em momentos de transformação conjuntural. O governador do Banco Nacional de Angola, José Pedro de Morais, disse, com a serenidade que o caracteriza e advém da sua inquestionável sabedoria de obra feita, que os fundamentos macroeconómicos em Angola são robustos e não há qualquer razão para alarme.

Como sempre, coisas muito sérias, como é o caso da situação cambial e financeira do país, são tratadas com a superficialidade da mentalidade daqueles que se habituaram a viver à sombra do barril do petróleo, ainda que os recursos do país não se limitem a essa “commodity” e que há muito se tenha alertado para a necessidade da diversificação económica e a aposta no sector produtivo não petrolífero. Essa mentalidade está hoje muito incrustada na banca privada, onde muita gente tem poupanças externas, e facilmente desse sector se difundem os alarmismos.

Os bancos são organizações fiduciárias e a banca angolana tem de saber desempenhar o papel que lhe cabe, quando existe uma conjuntura de evidente alteração como a que está a passar. E se ainda não sabe fazer isso, algo vai mal num sector que vive da confiança dos seus clientes.

De um dia para o outro desencadeou-se uma corrida vertiginosa às transferências de dinheiro para o exterior. Dada a pressão, os “tectos” a que se habituaram a operar, baixaram. E como consequência de uma situação lógica e justificada, começaram a circular os mais desencontrados boatos e os velhos detractores ressurgiram. O novo governador do BNA José Pedro Morais disse o essencial, no momento exacto: os fundamentos macroeconómicos são robustos. E não há qualquer justificação para o alarmismo gerado. Também o último número da revista “The Economist” sublinha que a expansão da economia de Angola em 2013 veio principalmente do sector manufactureiro e da construção civil.

As pescas cresceram 10,0 por cento e a agricultura nove por cento. Esta revista especializada em assuntos económicos refere que um terço das receitas angolanas advêm hoje de fontes não petrolíferas, quando há uma década eram quase nada.

Se numa década Angola conseguiu fazer tanto nesta área, nada justifica que se perca a fé na continuidade do sucesso e se continue a sustentar na economia angolana a mentalidade de que tudo começa e acaba no preço do barril do petróleo.Ou que o ciclo desta matéria-prima é sempre virtuoso, ao contrário do que acontece com as “commodities” menos valorizadas.

Se para muitos países não produtores de petróleo a descida do preço do crude representa uma oportunidade de poupança e crescimento, nenhuma razão há para que o crescimento económico em Angola não se mantenha forte e os indicadores sociais prossigam no rumo da melhoria. Só por pura ironia e brincadeira de mau gosto ia agora Angola adoptar a austeridade portuguesa e voltar o “cobrador do microfone da SIC” ao nosso país, cobrar atrasos nos pagamentos a empresas portuguesas.

Quanto ao alarmismo que perpassa pelos bancos, é evidente que os clientes têm a garantia do regulador de que nenhuma instituição financeira com balcões abertos ao público pode ignorar compromissos e contratos firmados. Se o fizer, está a violar as regras. Quem estimula e abastece o mercado negro de divisas está a cometer um crime que não pode passar sem castigo.

O Governador do Banco Nacional de Angola, com serenidade, disse isso, por outras palavras. Mas o importante  é que ninguém o ouviu confirmar nada do que tem sido dito e publicado sobre a situação cambial e financeira.

O BNA já tomou as medidas que lhe cabem. Outras foram anunciadas há dias pelo ministro da Economia, Abraão Gourgel, e outras ainda vão ser tomadas para combater a mentalidade ligada ao petróleo e manter o rumo virtuoso da economia angolana. O Executivo liderado pelo Presidente José Eduardo dos Santos mostra assim que está tudo sob controlo. O regresso da “maquineta à portuguesa” a Angola tem de ser denunciada. Ao menor sinal de alteração da conjuntura económica, desta vez emitido em cima da queda brutal do preço do barril de petróleo, os que vivem da especulação de toda a ordem avançam de armas e bagagens contra o nosso país. Os métodos são sempre os mesmos.