Luanda – Carlitos Roberto, filho do líder-fundador da FNLA, Holden Roberto, lançou recentemente um apelo de unidade  aos dirigentes partidário, Ngola Kabango e Lucas Ngonda que reclamam a liderança da formação política que junto com a UNITA e MPLA, formam a subscritora dos acordos de Alvor.

Fonte: Club-k.net 

ImageEste antigo deputado a Assembleia Nacional  fez  o seu  apelo através de uma carta aberta, em que aborda  sobre os 18 anos de crise da FNLA. Carlitos Roberto   lembra com tristeza o papel de Lucas Ngonda nas eleições de 2008, quando apelou ao povo angolano a não votar na FNLA, que tinha Kabango na liderança.

“Em 2012, a liderança não reconhecida legalmente do irmão NGOLA não se pronunciou em relação à FNLA legalmente presidida pelo irmão Lucas Ngonda, o Partido obteve 2 deputados. Qual será́ a posição de um ou outro nas eleições de 2017, se a divisão persistir?” questionou na carta aberta que o Club-K, publica na integra.

CARTA ABERTA AOS IRMAOS:

ENGENHEIRO NGOLA KABANGU; DOUTOR LUCAS NGONDA; TODOS MEMBROS DO BUREAU POLÍTICO E COMISSÃO POLÍTICA PERMANENTE E ANCIÃOS DO PARTIDO

Os nossos respeitosos e fraternais cumprimentos.

Depois de uma profunda análise sobre a situação prevalecente no seio do nosso Partido, Frente Nacional de Libertação de Angola - FNLA, ouvidas todas as tendências, a nossa consciência obriga-nos a escrever e aconselhar o seguinte:

A crise que assola o nosso Histórico Partido, já totalizou 18 anos. A referência maior relativa à sua demora só poderá ser a idade daquele que nasceu concomitantemente ao seu início, sabendo que a capacidade eleitoral activa começa aos 18 anos.

Hoje teoricamente, o poder conquista-se através do eleitorado. Daí ser preciso formular algumas interrogações, que inevitavelmente nos assaltam à mente:

1. Continuando com esta crise, além dos eleitores tradicionais ligados ao Partido, historicamente, número cada vez menor, porque uns abandonam, outros morrem devido a idade avançada, , Como o Partido pensa convencer os potenciais eleitores jovens, que têm 18 anos e mais, número maior no País, alvos novos a conquistar sobretudo, em 2017, ano cujas eleições gerais são aprazadas?

2. O que estes, pensam de nós? Estamos a fazer o suficiente para convencê-los a votar para nós?

3. Gostamos tanto de dizer o que ÉRAMOS, no Passado! Mas, pensamos nós que estes gostariam de saber o que SOMOS hoje! Precisamente o que estamos a FAZER, com um Partido que contribuiu tanto para libertar este País?

Na verdade, estamos a cerrar o tronco sobre o qual estamos sentados. Que irresponsabilidade!

Perguntamos nós, na verdade, a quem aproveita a permanência desta crise?

Entendemos que ela aproveita menos aos nossos adversários políticos, mas sobretudo, aos nossos inimigos. Porque na verdade o inimigo não é aquele que luta contra ti, frente a frente, com a espada, (Ele é o adversário) mas sim aquele que esfaqueia-te atrás, o falso amigo, o falso irmão. Ele que é o verdadeiro inimigo. O golpe ou esfaqueamento mais letal em relação ao dos adversários contra o Histórico imperador Romano Júlio César veio do filho adoptivo, de dentro. Nada de totalmente negativo pode ser feito ao nosso Partido sem a nossa própria cumplicidade ou porque ajudamos para o acontecimento ou porque não o impedimos voluntariamente. Não vale a pena que continuemos a acusar os de fora, os adversários políticos, porque somos nós, os de dentro, os irmãos, os nossos próprios inimigos. Não é por acaso que as palavras inimigo-amigo, (ini-amigo) têm consonâncias próximas. Para bom entendedor meia palavra basta!

A política sendo uma cena de batalha para o alcance do poder, é normal que um adversário político use de subterfúgios desde que sejam politicamente correctos para impedir-te a este alcance. Sendo organizada em duelo, consequentemente, cria-se uma dicotomia para separar o campo de batalha em dois lados: Os de DENTRO que trabalham para fortalecer a organização e os de FORA trabalhando para fortalecer a sua, consequentemente, fragilizando a dos outros e vice-versa. Se existe uma imagem tradicional bem enraizada é que a Politica divide. É um assunto dos Partidos Políticos. Ora eles enfrentam-se, combatem-se. Na verdade, as responsabilidades de qualquer fragilidade interna de uma organização política devem ser analisadas intrinsecamente e não atribuir perpetuamente a responsabilidade aos adversários como no nosso caso. A maturidade consiste em olhar o seu próprio umbigo e não do outro!

A política não consiste em olhar-se, mas olhar ou não na mesma direcção. Pelo que sim, pelo que não deve-se organizar uma competição, geralmente, do tipo eleição ou um Congresso no caso de um Partido Político. A corrente vencedora vai implementar o seu programa. Os outros ficam como corrente opositora, mas deixando a parte vencedora cumprir o seu programa até a próxima eleição. Neste sentido a Política divide, mas deve ser de uma maneira cívica. Felizmente ela é também portadora de valores. Um deles é o de administrar o bem comum, que não é a adição dos bens individuais de cada membro da organização, mas lhes ultrapassa por ser um bem da colectividade.

Assim, o bem comum deve ser o ponto de convergência de todos os interesses divergentes dos membros que compõem a organização. Cada um de nós tem os seus interesses que divergem uns dos outros. Mas o ponto de convergência de todos nós deve ser o Partido.

E ali que devemos saber diferenciar o FUNDO e a FORMA.

A forma representa os processos, os meios para atingir um objectivo ao passo que o fundo consiste em essencial, o fim, o objectivo a atingir. A forma de dirigir o nosso Partido não deve ser confundida com o próprio Partido que é o nosso fundo.

Neste contexto, a Forma pode nos dividir mas não o FUNDO. Porque só temos um Partido e não dois, ledo engano! Hoje, devemos defender o nosso Partido porque a sua existência está em jogo.

O maior exemplo é o seguinte: Se o nosso País está ser atacado por forças externas, o Patriotismo nos leva defendê-lo sem consideração partidária porque só temos um Pais. Este é um exemplo de um bom Patriota. A F.N.L.A corre o risco de extinção se não atingir a percentagem exigida por lei (0,5% dos votos) nas próximas eleições gerais. Em 2008, a liderança não reconhecida legalmente do irmão NGONDA declarou para não votar na FNLA, presidida legalmente pelo irmão Ngola Kabangu, o Partido obteve 3 deputados. Em 2012, a liderança não reconhecida legalmente do irmão NGOLA não se pronunciou em relação à FNLA legalmente presidida pelo irmão Lucas Ngonda, o Partido obteve 2 deputados. Qual será a posição de um ou outro nas eleições de 2017, se a divisão persistir?

O risco a correr é da FORMA ou do FUNDO?

As actuações alternativas das lideranças actuais estão a destruir o Partido que não, só, pertence aos militantes da FNLA, mas sim a todos os Angolanos porque faz parte da memória colectiva da nossa história e que é, e será sempre um dos três Partidos signatários dos Acordos de ALVOR, que deu a independência a ANGOLA!

Entendemos nós que, para uma saída airosa devemos evitar a cultura de identificar-se em relação aos ditos líderes de que “eu sou de Ngola Kabangu ou eu sou de Lucas Ngonda” mas sim, sou da FNLA porque as pessoas passam e a organização permanece.

Uma verdadeira liderança tem que ter, pelo menos, uma vertente CENTRIPETA, que puxa de fora por dentro. Mas na realidade, constatamos lideranças, verdadeiramente CENTRIFUGA, que empurra para fora, afugentando os militantes, de um lado ao outro, mutilando assim o Partido, semeando o espírito da divisão entre os irmãos, sem vertente centralizadora. Os apoiantes de um tornam-se inimigos dos apoiantes do outro sem analisar que é o próprio Partido que eles defendem que está ser prejudicado, tornando-se de facto, fanáticos sem saber. Os que se juntam numa organização política não são obrigados a escolher-se pelas caras, mas sim, pelos ideais comuns, uma mesma ideologia Partidária como necessidade de se reconhecer e diferenciar-se dos outros. Por isso, esta necessidade dos símbolos, as palavras de ordem, os discursos de reconhecimento etc...

Finalmente, o que é que nos diferencia fundamentalmente, que não pode ser ultrapassado e que vale até a nossa própria existência? A ideologia? A actuação Politica? Os princípios? A traição?

As razões falsas ou verdadeiras das reformas, segundo uns e outros, que estiveram na base daquilo que apareceu, depois, como dissidência não podem justificar a aceitação do desmoronamento ou destruição do Partido. Mesmo a existência de uma mão invisível que sustentou a dissidência, e se a mesma continua, depois de 18 anos, nao pode ser uma razão suficiente para resolvermos a crise com os métodos que metem em risco o próprio Partido. Uma sabedoria latina diz o seguinte: Quando um RIACHO torna-se um RIO a maneira de atravessá-lo deve ser diferente.

Querer ou não, a demora desta crise chegou a criar uma base social, mesmo sendo ínfima, daqueles que acreditaram ingenuamente ou não, nas ditas reformas. Outrossim, não podemos deitar a água suja com o bebé dentro da Bacia. Este conflito atingiu até a base sociológica inclusive de sustentabilidade do Partido, queremos dizer o conjunto de pessoas, militantes, simpatizantes e amigos, que reconhecem-se na bandeira de Liberdade e Terra.

O espírito (a cabeça) sendo muitas vezes enganado pelos sentimentos (o coração), os militantes actuam mais pelo ódio ou rancor, perigando o bem comum. Em relação ao risco que corre a FNLA, não existe nenhuma razão suficiente para justificar esta desunião que tornou-se instrumento pelo qual as lideranças influenciam os militantes a reagir pelas emoções ao invés de usar a razão, defendendo inconscientemente os interesses pessoais do tipo: Sai dali para eu me meter ou daqui eu não saio!

Infelizmente, quando lutam dois elefantes é o capim que paga. Por isso, apelamos aos militantes a um sobressalto para ultrapassarmos as divisões e a pessoalizaçao dos problemas. Pensamos nós, que esta divisão tendo criado reflexos ou hábitos inconscientes de rejeição de um lado ao outro, em vez de irmos imediatamente a um Congresso que poderá acrescentar incompreensões e frustrações, é melhor que optemos pelo um período de transição a definir em conjunto para, primeiro, apaziguarmos os espíritos. Ou, perante os argumentos de uns e outros, de ser obrigado a se conformar a um certo prazo legal que não permitiria mais adiamentos do Congresso, optemos por uma representação alargada das sensibilidades maiores existentes para que, depois do Congresso qualquer vitória não seja considerada como de uma parte com a humilhação da outra, o que não resolveria o conflito em causa, prejudicando o Partido. Motivados pelas emoções? Não, porque é inadequada, pela razão? Sim, porque é o apanágio mais elevado do Ser Humano!

Para terminar falaremos duma conversa que ocorreu entre dois homens políticos, dos quais um deles era Presidente de um país Africano.

Este Presidente deu a sua opinião sobre a liderança em geral, dizendo ao outro que o povo não tinha nada a dizer sobre as decisões de um líder, só obedecer, segundo ele. Disse taxativamente o seguinte: “O povo é como os passageiros dentro de um carro. Só deve ser conduzido e mais nada. Onde ir, como ir depende do motorista que é o lider. O outro respondeu o seguinte: Suponhamos, que o motorista esteja a conduzir com uma alta velocidade, não respeitando as sinalizações, apanhando direcções erradas, proibidas, se acontecer um acidente grave, só, ele que vai morrer ou os outros também correm o mesmo risco? Este Presidente não respondeu e deixou a pergunta pendente. Mas em toda lógica quando um motorista está conduzir mal, ele tem de ser advertido ou aconselhado para mudar de comportamento. É tão-somente a ideia de interpretar os riscos a correr (Acidente, morte ou outros) com um certo direito a Palavra, porque partilham os riscos. Se ele não acatar, uma pessoa sensata, tem que lhe fazer parar ou fazer descer do carro”.

Quando um líder está actuar de uma maneira contraproducente, ele tem que ser advertido e aconselhado. O risco que corre o nosso Partido é colectivo e tão grande que qualquer acidente em relação a extinção possível do Partido, atingirá todos nós. E não devemos deixar a quem quer que seja, sozinho o nosso destino colectivo.

As nossas motivações? Longe de serem pessimistas, somos mesmo optimistas. Mas há uma grande diferença entre os pessimistas e os decepcionados. Os decepcionados já têm PROVAS das actuações das Lideranças irresponsáveis!

Luanda, aos 20 de Janeiro de 2015

CARLITO ROBERTO