Luanda - Antes de ir directo ao ponto vou partilhar (apesar de muitos já terem conhecimento) o significado da palavra urgência.

Fonte: Club-k.net


Urgência (Dicionário online de português) – Característica ou estado do que é urgente, o que necessita de resposta imediata, aquilo que demanda pressa, rapidez. Circunstância que, por ser muito delicada, séria ou grave, possui prioridade em relação as demais.

Até aqui estamos esclarecidos.

Já escrevi outras vezes sobre este assunto. E lá estou eu aqui novamente com outro caso particular. Com certeza a mudança não acontece da noite para o dia. Mas pelo menos tem de ir acontecendo. Precisamos de sentir o rigor, a seriedade e responsabilidade.

Hoje escrevo com um ânimo diferente, trata-se da minha mãe e nem preciso alongar-me porque esta palavra com três letrinhas, já diz tudo. O seu significado é grandioso e incalculável.

Estou descontente (pela milionésima vez) com o serviço de atendimento nos hospitais de Luanda, de uma forma geral (públicos e privados). Posso até deixar para lá outros assuntos, engolir sapos em certas situações, fingir esquecer o que se passa ao meu redor. Mas quando se trata de saúde, não tenho como ficar indiferente. Não tenho como. Que tipo de urgência tem os serviços de saúde em Luanda? Urgência ao que parece é uma palavra que serve de enfeite.

Hoje, 16 de Fevereiro de 2015, a minha mãe sentiu-se muito mal. Fraqueza no corpo e febres muito altas. Como o meu pai foi militar, tem o direito (foi-lhe concedido o direito) de assistência médica (no Hospital Militar Principal) e este direito é extensivo à família (esposa e filhos). Repito foi-lhe concedido o direito.
Aflitos (os meus pais) dirigiram-se ao Hospital Militar Principal, só para reiterar, dirigiram-se ao Banco de Urgência do Hospital Militar Principal. Recordo que já partilhei no início deste texto o significado de urgência.

Postos no Banco de Urgência do Hospital Militar Principal, às 17h de hoje (16.02.2015), agiram de acordo aos procedimentos (novos por sinal e mais lentos), dirigiram-se à recepção, e posteriormente à sala de espera para fazer o registo, e a seguir a triagem, de acordo com as orientações do recepcionista. Depois de tudo, outro procedimento muito simples: aguardar…aguardar…aguardar…aguardar…aguardar…aguardar…aguardar…aguradar…

Aguardaram tanto, recordo, no Banco de Urgência do Hospital Militar Principal, que até às 21h do mesmo dia (16.02.2015) a minha mãe ainda não tinha sido atendida. O desespero e ansiedade já tomava conta dela, das dores já nem falo. Ela teve de questionar outros pacientes (não é à toa afinal que o paciente é paciente) como estava a decorrer o processo de atendimento, uma vez que já lá se encontravam quando os meus pais chegaram.

Segundo a minha mãe tinham pacientes a espera desde às 7 horas da manhã e outros ainda desde às 12h e até aquele momento, 21h, muitos ainda não tinham sido atendidos. Dos 3 consultórios supostamente existentes, das 17h às 20h tinham sido atendidas duas pessoas apenas.

Meu pai recorreu ao recepcionista, que num tom de gozo (com certa verdade, diga-se de passagem), disse que quando há turnos de senhoras (médicas) o processo é muito mais lento. Muita conversa, muito desfile, muito nepotismo…muito tudo, menos excelente atendimento e humanização. Porque não merecemos né? E porque não são eles (que atendem…mal) a sentir na pele.

Depois de tanta espera e depois de aperceber-se que os pacientes das 7h da manhã ainda não tinham sido atendidos (com excepção aos pacientes por eles conhecidos, claro, não podem ficar a espera, afinal de contas família e amigos em primeiro lugar), minha mãe desistiu para procurar outras alternativas, porque se não com certeza o atendimento seria no natal, ainda deste ano, acho. Saiu do Banco de Urgência do Hospital Militar Principal pior do que entrou.

Bem, sinto-me sozinha neste esforço, que no princípio parece em vão. Mas pude constatar que falar abertamente sobre o que incomoda resulta em melhorias, pode até demorar, mas acontece. Este não é o primeiro, segundo, terceiro, quarto, centésimo e nem será o último caso. Muitos vivem episódios idênticos, piores até, mas se calam. Na hora do vamos ver, vamos falar, vamos sugerir, oprimem-se. Mas conseguem unir-se para criticar um beijo gay (assunto que não é para aqui chamado), quando há outros assuntos gravíssimos a serem resolvidos. E só para esclarecer, não banalizo o assunto (também é importante), mas creio que devem ser revistas as prioridades. As consequências das críticas feitas ao assunto “delicado” só mostraram uma vez mais que reclamar resulta sim. Falar abertamente, com respeito e cordialidade, claro, resulta sim. Mas agora não podemos ser persistentes, críticos e agressivos nuns assuntos e noutros não. Mas também o que para mim é prioridade pode não ser para os outros, vou só já respeitar e olhar para a minha prioridade: saúde, humanização, educação, respeito, empatia, DIREITO A VIDA!

O mundo dá muitas voltas e já pude constatar isso. Hoje temos o poder, dinheiro, saúde, amanhã a sorte pode ser diferente. Devo falar do petróleo? Quem diria né? (Outro assunto que não é para aqui chamado). Mas são exemplos à nossa volta que devem ser tidos em conta…as nossas atitudes hoje, serão reflectidas amanhã, se não construirmos nada hoje, amanhã nós e as gerações vindouras teremos nada, absolutamente nada.

Hoje eu sou a aflita, o amanhã a Deus pertence. E como já era de se esperar na hora de justificar, ninguém quer falar, ninguém pode falar, não tenho autorização para se quer relatar o sucedido.

Expresso-me como cidadã angolana. Muitas pessoas não sabem ao certo o papel que desempenham nos seus postos de trabalho (falo deste caso em especial). Até já sei de cor as justificativas: cansaço, salário pouco animador, atrasos salariais, falta de condições, falta de formação, etc, etc.

A vida não está fácil para ninguém. Estamos todos na luta para conseguir viver condignamente. Existem pessoas em situações piores, sem ter o que comer, sem ter porta para bater e nem por isso destratam, matam as outras pessoas. É uma questão de foco e princípios. Muitos choram para ter emprego, e quando os têm não conseguem preservar e dar valor a oportunidade.

O problema está nas pessoas. Vamos por favor ter mais rigor, seriedade e responsabilidade. São vidas humanas e não sacos de batatas.

A vida é um direito pessoal consagrado na declaração universal dos Direitos Humanos onde Angola se revê, com protecção Constitucional no artigo 30º. “É inaceitável ver profissionais de saúde que juram em zelar e respeitar o bem mais valioso a vida deixarem de o cumprirem, desrespeitando assim as normas morais e jurídicas”. (Associação Angolana dos Direitos do Consumidor – AADIC).

Mesmo que em nada resulte, aqui fica o meu apelo/pedido, a minha sugestão. Peço ao Ministério da Saúde que crie uma equipa exclusiva, específica (séria e responsável, que faz acontecer) de supervisão/fiscalização aos serviços prestados pelos profissionais de saúde. Mas supervisão séria que não envolva gasosa, preguiça e desmotivação. A solução está nas nossas mãos, está ao nosso alcance, basta querer, basta fazer acontecer. Quem não estiver a desempenhar correctamente a sua função que seja retirado, quem não quer trabalhar, quem está desmotivado, quem está frustrado, que se retire…mas por favor deixem de matar lentamente as pessoas só com o desgosto e esperas demoradas desnecessárias.

Já acompanhei inúmeros casos de atendimento péssimo, acompanhei inclusive, o sofrimento de uma amiga que viu o seu pai morrer por causa de uma negligência médica (num hospital privado) e não conseguiu fazer nada, já tenho acompanhado assuntos de género desde o ensino médio (2002). O que mais posso dizer? Vamos por favor fazer funcionar as leis neste país.

Recomendação da Associação Angolana dos Direitos do Consumidor (AADIC) – 6 de Junho de 2014

“É necessário estes especialistas deixarem de pensar que estão a fazer um favor aos doentes e mentalizarem-se que num outro lugar qualquer, possa estar uma pessoa querida; como filho, esposo (a), mãe, pai, amigo querido, irmão (a) que esteja a ter o mesmo tratamento desumano noutra unidade hospitalar”.

A humanização na saúde implica uma mudança na gestão dos sistemas de saúde e seus serviços. Essa mudança altera o modo como usuários e trabalhadores da área da saúde interagem entre eles. A humanização na área da saúde tem como um dos seus principais objectivos fornecer um melhor atendimento dos beneficiários e melhores condições para os trabalhadores. Humanizar a saúde também significa que as mentalidades dos indivíduos vão sofrer mudanças positivas, criando novos profissionais mais capacitados que melhoram o sistema de saúde.


Amor & Boas Vibrações!

AC