Lisboa - Kate Hama, cujo nome de baptismo é Bartolomeu Alicerces Neto Hama, é um antigo oficial das extintas Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA) que esteve ao lado do malogrado Jonas Savimbi, até as últimas semanas de vida. Ficou conhecido como o “homem dos telefones do doutor  Savimbi” por ser o oficial  que durante vários anos cuidava das comunicações do histórico líder fundador da UNITA.

Fonte: Club-k.net 

Nascido no Bailundo, província do Huambo, a 16 de Julho de 1963, o coronel Kate Hama é filho de Frederico Hama, um falecido cirurgião que, aquando do 25 de Abril, fora o  delegado da UNITA, em Vila Flor. Foi através do seu pai que aderiu o movimento do “Galo Negro”, servindo directamente o seu braço armado.

Ao longo da sua trajetória militar fez parte da emblemática Brigada de Acção Técnica de Explosivos (BATE), mas foi na área das comunicações militares que mais se destacou, seguindo-se a formações de superação feitas  na Finlândia, Inglaterra e África do Sul. 

Era o especialista em quebra de sistemas, descodificações e registos. Em finais da década de 80 ajudou a instalar o primeiro sistema de internet em Angola, na localidade da  Jamba, o então bastião da UNITA.

Como especialista de comunicações, o coronel Kate Hama participou igualmente na batalha do Kuito Kuanavale e Mavinga, nos finais dos anos 80. Ele foi o Segundo Comandante das Comunicações das FALA junto dos sul-africanos “Boers” nas operações destas duas batalhas da qual operava como chefe táctico de operações com as forças coligadas. Era através de si que se dava "luz verde" aos aviões sul-africanos estacionados em território namibiano para levantar voo, em auxílios das forças rebeldes em Angola.

Ida a Luanda em 1992

Após os acordos de paz de Bicesse, que culminaram com a realização das primeiras eleições gerais em Angola, em 1992, o coronel Kate Hama foi levado para trabalhar em Luanda, onde controlava um “centro” de comunicações da UNITA, instalados na sede do seu secretariado geral, no bairro São Paulo, actual distrito do Sambizanga. Era também frequentemente chamado para prestar assistência a residência de Jonas Savimbi, no Miramar.

Desempenhou também papel crucial nas eleições de 1992. Fez parte do grupo que, pela parte da UNITA e que com auxilio de especialistas estrangeiros, tiveram acesso a dados sobre a manipulação das eleições por meios informáticos. Kate Hama respondia a um então coronel José Pontes “Regresso”, que também trabalhava com o general Isidro Perigrino “Wuambo”

Regresso ao planalto central

Ainda em 1992, quando o país se arrastou para um período de incertezas, ou melhor, de instabilidade, o coronel Bartolomeu Alicerces “Kate Hama” foi a figura que acompanhou o avião que transportou um grupo de líderes políticos da oposição – dentre os quais Mfulumpinga N'Landu Vitor e Simão Cacete – que deslocou a província do Huambo para convencer Jonas Savimbi a aceitar os resultados eleitorais. Dai Kate Hama seguiu para Jamba.

A entrada para o circulo presidencial de Savimbi

Em 1993, o coronel Kate Hama encontrava-se instalado no Huambo, quando esta cidade estava sob ocupação da UNITA, na sequência do retorno a guerra. Na altura, era praticamente um desconhecido do convívio de Jonas Savimbi.

Certo dia, o então líder da UNITA estava a ter dificuldades de usar o seu telefone satélite para fazer uma chamada a Washington, Estados Unidos de América, a fim de contactar o seu representante, o embaixador Jardo Muekalia.

Savimbi ordenou que  procurassem um técnico para concertar o seu telefone. Foi assim que alguém teve a ideia de procurar pelo especialista Bartolomeu Alicerces “Kate Hama” que se encontrava em parte incerta.

Quando Kate Hama regressou a casa deparou-se com uma patrulha militar que o procurava, e que o levou até a residência do presidente fundador da UNITA. De acordo com  relatos fiáveis, quando Savimbi foi avisado que o especialista tinha chegado, foi a sala das comunicações do Palácio, olhou para ele com um ar foribundo e disse: “mas tu quem és afinal? Já ouvi a falar de ti em trabalhos de poesia e prosa. Também o Kamy já me falou... Quero falar com o Jardo, o Morgado e o Adalberto. Vamos fazer o que? Dizem que você é que é o especialista”.

Na presença de outros oficiais da guarda presidencial, o coronel Kate Hama garantiu a Savimbi que resolveria o problema em 15 minutos. Pegou no telefone abriu e em menos do tempo previsto discou para o número do embaixador Jardo Muekalia, em Washington. Depois de ajudar a fazer as outras chamadas, Savimbi aproximou-se a ele e disse: “Você já não sai daqui”.

Desde então Kate Hama passou a trabalhar como assistente pessoal de Jonas Savimbi. Tarefa esta que desempenhou até poucos dias antes da morte deste em Fevereiro de 2002. Há informações suplementares indicando que, era também ele que se movia nos carros pessoais de Savimbi até a queima dos mesmos em 2000.

Sempre que Savimbi quisesse falar com alguém ao telefone, passava lhe primeiro o telefone para fazer avaliação do estado psicológico da pessoa que estivesse do outro lado da linha, e só depois passava o aparelho ao presidente da UNITA.

A dada altura, quando o grupo restrito da direcção da  UNITA encontrava-se na zona do Moxico a fugir das Forças Armadas Angolanas (FAA), Jonas Savimbi havia deixado de falar ao telefone, ou aos rádios de comunicação, como medida preventiva de detenção/identificação da sua voz por meios electrónicos. Era através de Kate Hama que ele se comunicava com os restantes comandantes e não só. O líder da UNITA ficava do seu lado e dizia-lhe o que tinha que transmitir aos seus interlocutores. Na altura, subtendia-se que, falar ao telefone com Kate Hama era o mesmo que falar com o líder guerrilheiro.

Uma semana antes da morte de Savimbi, o então representante da UNITA em França, Isaías Samakuva, recebeu de Angola, um telefonema do coronel Kate Hame, informando que o “mais velho” orientava que cessasse os contactos diplomáticos com a Organização das Nações Unidas (ONU). Na verdade, Kate Hama e um outro coronel, Kassique Pena, ambos das comunicações da coluna presidencial, tinham sido capturados a 02 de Fevereiro (data em que Savimbi ficou sem contacto). Desta vez, o telefonema estava a ser feito a partir de Luanda na presença do general Hélder Manuel Vieira Dias Júnior "Kopelipa", actual chefe da Casa de Segurança da Presidência da República.

Kate Hama vive actualmente algures de Luanda onde frequenta o último ano do curso de Relações Internacionais. É também autor de uma obra literária. Apesar de ter sido já promovido a oficial general das FAA na reserva, o sujeito da história ainda prefere que o tratem por “Coronel Kate Hama”, por ser a patente - que segundo faz transparecer em meios privados - que o “mais honra” e que lhe foi conferida por Jonas Savimbi, em meados dos  anos 90.

“Eu prefiro ficar com a minha promoção do doutor Savimbi que me dá valor. Sou e sempre serei o coronel Kate Hama, homem dos telefones do doutor Savimbi. Orgulha-me”, diz Kate Hama junto dos que lhe são próximos.