Luanda – O líder fundador da UNITA, Jonas Malheiro Savimbi, não fazia as refeições em casa de nenhuma das suas esposas ao tempo em que vivia no antigo bastião da guerrilha, na Jamba, província do Kuando Kubango. A revelação vem de um cruzamento de fontes que pedem para não serem identificadas, uma vez que eram do convívio privado do malogrado presidente do “Galo Negro.”
Fonte: Club-k.net
Sandra foi a única que abriu a expceção
Savimbi, segundo as fontes, não comia em casa das suas esposas por razões de segurança por isso tinha o seu próprio cozinheiro, identificado apenas por “Sambambi”, então coronel das FALA.
A sua alimentação era a base de pirão (funje) com verduras, feijão, peixe mucaco, e as vezes carne seca. Apreciava tambem mandioca assada.
De acordo com as fontes, Jonas Savimbi, ao tempo da vivência nos bastiões do Bailundo e Andulo, teria aberto uma excepção passando a aceitar a comida de uma das amantes, Sandra Kalufela, que passara a residir na casa oficial. Contam as fontes que, desde que “abriu esta excepção”, o líder guerrilheiro havia deixado de ser o mesmo, acelerando a desgraça da UNITA.
Sandra Kalufela tornou-se uma mulher poderosa na história da UNITA. Foi com ela que Savimbi teve um filho (Muangai, por sinal, o caçula) e, ao que consta, ela terá já na etapa final da vida do líder rebelde assumido um papel que mais nenhuma das outras mulheres teve, chegando a influenciar decisões políticas e militares.
As revelações dos ex-colaboradores de Savimbi que, por outro lado, responsabilizam o protagonismo de Sandra Kalufela pela desgraça militar da UNITA, coincidem com dados publicados pelo jornalista Severino Carlos, ao tempo do jornal "Angolense", logo após que seguiram o 22 de Fevereiro de 2002.
O Club-K partilha o texto de Severino Carlos que, apesar de ter sido publicado na altura, contém dados ainda actualizados relatando o poder de uma das mulheres mais poderosa no movimento do “Galo Negro”.
“Onde se fala de Sandra, a mulher mais poderosa que já passou pela vida do líder da UNITA” - Severino Carlos
Adensam-se as evidências de que Jonas Savimbi, nos seus últimos tempos de vida, já não seria uma pessoa no pleno gozo da suas faculdades mentais. As disfunções do foro psíquico que lhe eram atribuídas podem ter-se degenerado a ponto de os seus actos e decisões se terem revelado de uma grande caducidade. Até no relacionamento que mantinha com mulheres e amantes, isso era visível. O líder da Unita que, enquanto em vida, mostrou à sociedade não ter grande apreço pelo sexo oposto, ultimamente havia «capitulado» a ponto de conceder «facilidades e privilégios» que noutro tempo seriam impensáveis.
Revelações feitas em Luanda por Violeta Pena e Tita Miranda, mulheres de Paulo Lukamba Gato e do general Abílio Camalata Numa, respectivamente, são neste particular bastante sintomáticas. Já sem a agilidade mental de outros tempos, Jonas Savimbi foi ao ponto de alienar o poder que detinha a uma mulher. Neste caso, uma jovem mulher, Sandra de seu nome. Ela pode simplesmente ter sido a mulher que mais influência exerceu na vida de Jonas Malheiro Savimbi, das muitas que teve ao longo de 67 anos. Sandra, a amante a quem Jonas Savimbi deu privilégios de primeira dama no último estágio da sua vida, conseguiu o que nenhuma outra mulher havia conseguido: que o líder da Unita partilhasse com ela o controlo das finanças da organização nas matas. Mas foi mais longe, porque, pasme-se, Savimbi chegou a outorgar-lhe poderes militares.
E quem é essa mulher que assim manipulava Jonas Savimbi, um homem que foi conhecido como um duro para o sexo «fraco»; ele que as usou como esposas oficiais, amantes e concubinas para depois desfazer-se delas como fraldas descartáveis, quando não as mandava eliminar por saberem demais?
Conforme declarações de Violeta Pena e Tita Miranda, essa mulher que deu a volta à cabeça de Jonas Savimbi é sobrinha directa de Ana Isabel Paulino, a esposa oficial do líder da Unita, aquela que era apresentada como tal nos círculos oficiais.
Com idade para ser neta de Jonas Savimbi, Sandra teria pouco mais de 16 anos quando Ana Isabel pegou na sobrinha e resolveu fazer dela uma espécie de «baby-sitter» dos filhos que tinha com o presidente da Unita. Pouco tardou para que Ana Isabel se arrependesse amargamente do «favor» que fizera a Sandra. Usando as armas da sedução, que nela era qualquer coisa de quase mágico, segundo lembra Violeta Pena, Sandra conseguiu enclausurar Jonas Savimbi numa paixão de contornos fogosos e até funestos.
A Sandra não bastou ter conseguido usurpar o lugar da tia. Ela foi mais longe e não descansou sem ter visto a cabeça de Ana Isabel rolar. A mulher que Jonas Savimbi trouxe a Luanda como a sua «primeira dama» depois dos Acordos de Bicesse, foi eliminada devido a uma insidiosa intriga política montada por Sandra. «Uma história feia», no dizer de Violeta Pena.
Sandra fez crer a Jonas Savimbi que Ana Isabel estava contrariada com a política seguida pelo líder da Unita. Foi o passaporte para a morte de Ana Isabel que desapareceu a 2 ou 3 de Março de 1999, tempo em que o Galo Negro ainda detinha o controlo de Andulo e Bailundo. Ana Isabel saiu um desses dias, na companhia do general Perestrelo, para atender um suposto telefonema, mas nunca mais regressou. Consumava-se assim algo que o destino foi adiando por mais alguns anos. Protagonista de um dos mais badalados casos de saia à mistura com intriga política que o Gulag de Jonas Savimbi já conheceu, Ana Isabel foi noiva de Tito Chingunji, outro que o líder da Unita mandou eliminar sem dó nem piedade.
Calculista como o próprio Jonas Savimbi, talvez tenha sido essa combinação de químicas que levou o chefe da Unita a perder a cabeça. No entanto, trata-se de algo que não está de todo dissociado de algumas manifestações de senilidade que o líder da Unita vinha mostrando. Pôr nas mãos de uma mulher o controlo da administração e do dinheiro não é propriamente algo que se possa conceber de um homem como Jonas Savimbi. Mas pior ainda é que ela tenha manipulado de tal maneira o líder da Unita que acabou por ter as rédeas de algumas operações militares ainda ao tempo em que a organização se passeava nos bas-tiões de Andulo e Bailundo.
Violeta Pena, que conheceu de perto os meandros dessa «paixonite», garante que Sandra conseguiu tais poderes mesmo sem deter experiência nenhuma nas artes castrenses e de guerrilha. «Se ganhou alguma experiência em matéria militar foi do próprio Savimbi, já que ela não largava o senhor», contou.
Os angolanos só terão um conhecimento dessa tal de Sandra, se ela entretanto surgir dos escombros dessa guerra inútil que tem devastado o país. É que dela também se perdeu o rasto, como o de muitas outras mulheres que compartilharam a alcova de Savimbi. Excepção seja feita a Valentine Seke, a mulher que acompanhava o líder do Galo Negro nos seus instantes finais.