Luanda - A minha geração hoje, é reconhecida pelos cabelos grisalhos que alguns às vezes pintam para ludibriar a nossa juventude sacrificada, mas não perdida.
Fonte: Club-k.net
A minha geração é aquela que os “kotas” dos anos 40 percebem como ela percebe os “ndengues” dos anos 60, mas ela é única na formação, no carácter e nas atitudes.
A explosão escolar, o crescimento da classe média, a aproximação do meio rural com a cidade, a pressão política para as independências de países Africanos colonizados, o fim da URSS, a queda do muro de Berlim, o fim do século XX e a entrada no século XXI, o desenvolvimento vertiginoso das novas tecnologias, tudo isso e muito mais a minha geração vivenciou.
A minha geração no seu olhar silencioso e saudoso algumas vezes recordase dos amores desencontrados, recordase dos companheiros comuns que de forma natural ou trágica já não fazem parte do mundo dos vivosexactamente aqueles que um dia a DISA foi buscar em 1977 na nossa turma do 7o Ano em Malanje, Luanda, Benguela, Lubango..., mas nunca mais os voltamos a ver.
A minha geração, é aquela que com muita pena da sua pena sem inspiração para pintar o quadro que ilustre o percurso negativo dos desentendimentos na construção do nacionalismo angolano, que levou ao poder aqueles que trilham os caminhos de rejeição, vê como os autóctones perdem as suas terra e em contrapartida vê como se promovem as minorias e os estrangeiros a quem dão a cidadania determinada pela maioria parlamentar avassaladora e outros privilégios, em detrimento da maioria dos angolanos que não a têm (BI). Vê como a maioria dos angolanos vive sem emprego e pobres no país independente desde 11 de Novembro de 1975, e a aceitar como fossem normais estes acontecimentos.
A minha geração, vive actuante ou passiva diante do momento da conspurcação do poder tradicional que passou a assistir os seus soberanos a serem vestidos como antigos “cipaios coloniais”. Soberanos que hoje são nomeados e destituidos pelo poder executivo, subservientes ao MPLA, com a finalidade única de se matar a cultura, a identidade, os valores éticos e morais no meio urbano, suburbano e rural e implantar outra cultura, identidade, valores éticos e morais muito distantes da nossa africanidade.
Afinal quem somos?
Somos a geração que, com os olhos de hoje e responsabilidades na construção do Estado Democrático de Direito de Angola, deve primeiro render homenagem aos país do nacionalismo angolano, Holden Roberto, António Agostinho Neto e Jonas Malheiro Savimbi, porque “aos que carrearam a sua pedra para a grande obra, por vezes mal aproveitada, poupese o julgamento precipitado e erga se uma intenção generosa”Jonas Malheiro Savimbi.
Somos a geração que com os olhos, responsabilidades e hábeis escritores e jornalistas de hoje, deturpa ou esquece as mortes traiçoeiras de Matias Miguéis, Hoji ya Henda, Deolinda Rodrigues e outras dos tempos da resistência ao colonialismo português, disputa a responsabilização de quem iniciou a guerra em Angola, branquea a forma como Angola acedeu à independência, deturpa quem foi o primeiro invasor a entrar em Angola e quem foi melhor ou pior entre os russos, cubanos e sul africanos do tempo do apartheid, olvidando os angolanos que morreram durante todos esses anos de guerra.
Somos a geração que continua a branquear o genocídio de 27 de Maio de 1977, o genocídio eleitoral de 1992 e o genocídio da sexta feira sangrenta de 1993 que mexeram profundamente os povos ambundu, ovimbundu e bakongo e numa dimensão menor outros povos desta Angola imensa, passando uma borracha sobre estes genocídios para apenas se empolar a queima das bruxas na Jamba sem referência aos angolanos queimados pelo MPLA durante a guerra colonial, com a finalidade de se deturpar a consciência colectiva dos angolanos das gerações presentes e vindouras na forma de pensar e agir.
Afinal quem somos nós?
Somos a geração sacrificada, mas não perdida que hoje, ajuda José Eduardo dos Santos a criar e a consolidar o Estado cleptocrático de Angola que gerou a cultura ditatorial, a cultura da corrupção, a cultura do medo para não pararmos no estomago de um jacáre, a cultura da corporativização das instituições públicas e privadas, que subjuga e subalterniza os poderes legislativo e judicial, que gerou a cultura de longevidade na direcção das instituições, a cultura da mentira como a do “Karnaval do Kuito Kuanavale” mentira dos 3K.
Somos a geração da fé corrompida na promiscuidade do poder espiritual com o poder terreno. Somos a geração que é parte do problema e parte da solução. Somos a geração que clama pela Agenda de Reconciliação Nacional, Democracia com alternância democrática, democracia racial, democracia de género, democracia económica, democracia do conhecimento, democracia da justiça, democracia do espaço urbano e rural, democracia do direito à vida, democracia nos meios de comunicação, Estado de Direiro e combate sem tréguas a corrupão.
Afinal o que nos falta!
Liberdade e Terra!
Afinal o que nos falta!
O mais importante é resolver os problemas do povo! Afinal o que nos falta!
Primeiro o Angolano, segundo o Angolano, terceiro o Angolano, o Angolano sempre!
Afinal o que nos falta!
Coragem em desafiar a cleptocracia com a construção do verdadeiro Estado Democrático de Direito.
Afinal, tenho fé na minha geração de 50 que vai vencer a cleptocracia e deixar os fundamentos do Estado Democrático de Direito. Tenho fé na geração que nos precedeu e nos legou os fundamentos do nacionalismo angolano moderno que nos liga a construção da Pátria Nacional. Afinal tenho fé renovada nesta juventude de pensamento moderno não formatado pelos centrismos herdados de alguns nacionalismos, colocandose como pilar decisivo na luta pela verdadeira reconciliação nacional, construção do Estado Democrático de Direito e desenvolvimento inclusivo de Angola.
Muito obrigado!