Lisboa - O líder da UNITA denunciou a morte de 88 militantes do seu partido, em 2014, considerando-os vítimas da "intolerância política" protagonizada por elementos "claramente identificados como sendo membros do MPLA", o partido no poder.

Fonte: Lusa

Em entrevista à Lusa, em Lisboa, no final de uma palestra dirigida quarta-feira última aos deputados da Assembleia da República portuguesa sobre a "transparência dos processos eleitorais como fator de estabilidade em Angola", Isaías Samakuva denunciou ainda a "intolerância política" no seu país, onde acusa existirem "muitos presos políticos de consciência".

As 88 vítimas "são pertencentes à UNITA e foram mortas por pessoas claramente identificadas como sendo membros do MPLA a cumprir ordens de responsáveis do MPLA", disse à Lusa Isaías Samakuva.

O presidente da UNITA, o partido mais representativo da oposição angolana, acusou também a existência de vários processos judiciais pendentes nos tribunais angolanos sem que, "de uma forma geral" nada seja feito para os resolver.

"Os processos estão ai, alguns deles há anos, outros há meses. Há ainda o processo de há duas ou três semanas do 'caso do Loremo' (província da Lunda Norte) e vai haver outro agora, porque houve um outro caso de intolerância na província de Benguela, mas já sabemos que estes processos entram nos tribunais e nada se faz", afirmou.

Na sua intervenção na Assembleia da República, Isaías Samakuva queixou-se aos deputados portugueses da sistemática violação da Constituição por parte do regime angolano, que alegadamente tem praticado "atos de intolerância e violência política" contra a oposição do país, especialmente desde a morte do fundador da UNITA, Jonas Savimbi, em 1992.

Segundo Isaías Samakuva, esta situação também se tem verificado durante os processos eleitorais.

"Nas eleições de 2008, o contexto político era outro. A paz militar definitiva havia sido alcançada seis anos antes e o líder fundador da UNITA já não estava vivo. O regime já não via na UNITA o perigo que via em 1992. Por isso, tirou claramente a luva da democracia e exibiu as garras da sua natureza autoritária: pisoteou a libertação de expressão, atrofiou o pluralismo político, partidarizou os órgãos de comunicação social públicos, organizou atos de intolerância e violência política contra a UNITA e institucionalizou o terror e a corrupção", exemplificou.

A alegada violação dos direitos constitucionais em Angola foi também destacada pelo deputado da UNITA Adalberto da Costa Júnior que afirmou existirem "muitos presos políticos de consciência".