Luanda -  A nossa UNITA, comemora neste mês de Março o seu 49º aniversário. Como qualquer aniversário, o do nosso partido impõe-nos também uma reflexão em torno da caminhada a que nos propusemos.

Fonte: SA

Ao longo dos seus anos de existência, à semelhança do que ocorrerá em qualquer organização, o partido teve os seus momentos bons e maus, altos e baixos. A morte do líder fundador, Dr. Jonas Malheiro Savimbi, tombado em combate há treze anos, foi sem duvidas o período mais negro da nossa história.

Este ano e em jeito de reflexão, decidimos debruçar-nos sobre os cinco princípios estruturantes concebidos por aqueles que há meio século idealizaram a criação desta nossa formação política, actualmente a única alternativa democrática para o exercício do poder de estado em Angola.

Os referidos princípios constantes do capítulo III dos nossos estatutos, enunciam a visão dos seus precursores sobre o nosso pais. No entanto não temos sido suficientemente felizes na sua divulgação por forma a dissiparmos, na sociedade, o preconceito criado e sistematicamente alimentado pelos nossos adversários a seu respeito.

Contudo, pensamos que este preconceito não deve ser extensivo a estudiosos, historiadores, antropólogos, politólogos, sociólogos e outros. Só assim podemos escrever a história do nosso país, que apenas está parcialmente escrita.

Vozes há na sociedade que acham que devíamos abandonar o nosso programa. Outras há que até alvitram a refundação do nosso partido. Estamos todavia profundamente convictos que os cinco princípios que dão corpo ao nosso projecto são tão vivos e actuais como se não tivessem sido elaborados há meio século. Senão vejamos:

1-Liberdade e Independência Total para os homens e para a pátria mãe;

2-Democracia assegurada pelo voto do povo através da concorrência entre vários partidos políticos;

3-Soberania expressa e impregnada na vontade do povo de ter amigos e aliados, primando sempre os interesses dos angolanos;

4-Igualdade de todos os angolanos, perante a lei e na pratica social, na pátria do seu nascimento;

5- Na busca de soluções económicas, priorizar o campo para beneficiar a cidade.

Lutamos e conquistamos a independência nacional há 40 anos. Lutamos pela independência nacional porque o colonialismo português subjugava-nos em todos os domínios. Lutamos para a nossa dignidade. Contrariamente a grande e legitima expectativa criada por aquela conquista histórica, hoje a grande maioria das nossas populações ainda não atingiu os níveis desejados no que toca a qualidade de vida. Falta-nos a satisfação do básico que uma república deve oferecer aos seus cidadãos.

Devemos devolver, tão rápido quanto possível, aos angolanos o exercício de certas profissões que não exigem grande qualificação técnico-profissional, hoje nas mãos de expatriados que desta forma retiram o pão e o leite da boca das nossas crianças.

Entretanto, pensamos seriamente que o nosso pais precisa de mão-de-obra qualificada para determinados serviços em que os nossos compatriotas ainda não estejam preparados, por exemplo nas áreas das engenharias, tecnologias e outras onde o défice ainda é muito acentuado.

É importante que através da Agência Nacional de Investimento Privado se faça uma decantação daquilo que realmente interessa para nós ou não. E assim manter acesa a chama que muitos angolanos esperam.

Sejam quais forem as conotações, evoluções ou involuções dos interesses da sociedade humana e dos estados dentro do nosso pais, nos temos de ser livres, donos da nossa terra e das suas riquezas naturais, orgulhosos e senhores das nossas culturas e mestres do nosso devir comum.

Temos uma democracia conquistada em 1991, por isso ainda muito jovem. A democracia é um processo evolutivo inclusivo. Ela é também um valor. Como tal é uma referencia permanente. Assim, ela é um conjunto de regras inspiradoras e fiscalizadoras de comportamentos. Nesta perspectiva e' também um sistema. Um sistema aplicado e praticado, no tempo e no espaço, torna-se numa cultura. Acreditamos que é para esta cultura democrática que o nosso pais deve caminhar, resolutamente, como paradigma para o seu desenvolvimento. As instituições do Estado devem ser independentes umas das outras, cooperantes entre si, democráticas no seu funcionamento interno e desprovidas de quaisquer conotações partidárias. A meritocracia deve ser o critério por excelência de ascensão.

A nossa UNITA pugna pela democracia desde a sua fundação em 1966. Ela tem por isso o dever de exemplo tanto internamente como na sua postura no seio da sociedade de uma forma mais geral.

Como frisamos inicialmente, esta ocasião impõe-nos a necessidade de uma séria reflexão sobre os caminhos que estamos a trilhar a nível interno.

Demos um passo decisivo, no IX Congresso do partido em 2003 com a realização da primeira eleição do presidente do partido com candidaturas múltiplas, mas não podemos nos contentar apenas com esse acto. A democracia não se faz só com um acto, requer um conjunto deles, tais como a possibilidade de sermos avaliados por pessoas que não sejam militantes do nosso partido, por exemplo.

Precisamos de refletir que passos mais demos depois das eleições com candidaturas múltiplas. Estagnamos ou avançamos? Se for a primeira hipótese, porque razão não avançamos? Se for a segunda, quais e onde estão os frutos desse desenvolvimento?

Consideramos que os militantes devem e podem ter oportunidade para avaliar as direcções dos partidos, sem quaisquer receios de puderem desagradar responsáveis. É um exercício tendente a conferir maturidade ao partido.

Só um partido ou partidos verdadeiramente democráticos, com todos os seus órgãos funcionais e com a devida independência dos seus membros podem contribuir para um país democrático. Não se pode olhar para democracia a nível do país, se não descortinamos como andam os partidos políticos em matéria de democracia interna.

A unanimidade não gera desenvolvimento, é preciso diversidade de perspectivas quer na gestão dos partidos assim como na dos seus órgãos decisórios. É preciso por outro lado respeitar os ciclos, é uma lei sagrada e transversal em todos os sectores da vida social, económica e política. A democracia é o melhor sistema porque oferece a todos a possibilidade ou oportunidade de igualdade, quer para votarem como para serem eleitos.

Consideramos vital este exercício no seio do nosso partido, sem tabus, respeitando as hierarquias, sem porém deixar de questioná-las. Só assim podemos considerar o partido como sendo uma associação política de todos, um património comum e um verdadeiro instrumento de luta política. Por isso, gostaríamos imenso que o debate em torno da nossa democracia interna fosse um dos temas em destaque no nosso próximo congresso.

Sempre acreditamos que as eleições não se ganham só com os militantes dos próprios partidos. Aliás, essa é uma realidade praticamente inquestionável. É necessário muito mais, razão pela qual devemos continuar a acenar para aqueles que mesmo de longe das nossas estruturas, dos nossos comités e sem um cordão umbilical ligado ao nosso grande partido, ainda assim depositam plena confiança nos ideais que defendemos e que os nossos mais velhos lançaram há 50 anos.

Acreditamos piamente que o mundo, hoje mais do que nunca, e' um intrincado complexo de interesses onde cada pais define e defende os que considerar vitais para si. Por isso, para nos o mundo deve ser, acima de tudo, um espaço de paz e de cooperação positiva multiforme na perspectiva do desenvolvimento global e harmonioso do género humano.

A realidade e a prática levam-nos a concluir que ainda está por se concretizar a profecia de que em Angola primeiro deveríamos ser nos os angolanos, em segundo nos angolanos, em terceiro nos os angolanos. E os angolanos sempre.

Ficamos felizes em saber que alguns jovens vão recuperando essa expressão, como um recado ou mensagem de que não têm sido valorizados ou tratados como tal na sua própria terra. Foi preciso percorrer longos 40 anos para que o Executivo compreendesse o alcance dessa máxima, criando recentemente uma comissão para estudar os critérios de contratação de mão-de-obra estrangeira. Para tal é mister observar o principio da igualdade e da justiça perante a lei e na pratica social. Não é demasiado acrescentar que o essencial é garantir a vida do cidadão e o importante é  resolver os seus problemas.

Para nos UNITA, foi sempre uma firme convicção que a agricultura e sectores afins constituem a base do desenvolvimento sócio-económico (vide o ponto 5). Hoje, a realidade económica e financeira do pais da-nos uma vez mais plena razão.

A UNITA sempre teve um projecto para este nosso país. É  nosso dever divulga-lo sempre e cada vez melhor fazendo também recurso as ferramentas que a prodiga inteligência humana coloca a nossa disposição.

Por coincidência, o nosso Partido nasceu no mês de Março, o mês da Mulher. Mulher é fonte da vida. Façamos tudo para que nos UNITA sejamos também a fonte da vida nova para todos os angolanos.

O nosso afecto sem limites a toda a Mulher. Estamos juntos na senda da permanente valorização da Mulher que é nossa mãe e nossa companheira sem a qual a vida é impossível.