Benguela  - O discurso oficial orienta o registo e abandono das famílias que residem à beira-mar, próximo ao leito do rio, sobre e por baixo do relevo a fim de sobreviverem às futuras calamidades. E, também sejam reassentadas em “locais seguros”, e que assim, reiniciem as suas vidas com normalidade/dificuldades. Estas são soluções remediáveis para um problema bicudo.

Fonte: Club-k.net

Porém, o cenário de chuvas em Benguela com mais de 80 mortos, milhares de famílias desalojadas e danos materiais incalculáveis, é praticamente, a visão de que há politicas erradas/falhadas. Estes impasses devem ser tratados com razão, frontalidade e seriedade sem paternalismo de qualquer índole. Senão, um dia vamos boiar todos.

O rio Cavaco e os diques que não funcionaram, nem foram “concluídos”, muito menos “entregues”, não permitiram que a corrente de água bombiasse no rio e seguisse o seu percurso normal, provocando terror/dilúvio e o abandono de moradias ribeirinhas por parte de muitas famílias.

O desassoreamento custou USD 39 milhões, enquanto a construção de estações hidrométricas USD um milhão dos rios Coporolo, Catumbela e Cavaco cuja finalidade era prevenir as populações, os cultivos e muito mais. A obra foi adjudicada a Odebrecht em parceria com a Paviterra, em 2005, fiscalizada pela empresa de origem libanesa Dar Al-Handasah,10 anos depois não foi “concluída”, quiçá abandonada. E somente, no rio Cavaco foram feitos diques de protecção a fim de prevenir o que hoje assistimos e vivemos. Isto disseram os técnicos e os políticos no longínquo ano de 2006.

É estranho, e “graças” a chuva vêm dizer que não foi “concluída” e nem foi “entregue” (talvez na totalidade). No entanto, em jeito de defesa afirma-se que os diques inacabados diminuíram o impacto da calamidade, até parece verdade. Mas, na entrega da 1ª fase da obra em Outubro de 2006, não se falou que os diques estavam inacabados, e mais, a fase conclusiva previa “apenas” construção de uma avenida até marginal da Praia Morena e outras infra-estruturas. 

Por isso, deve haver responsabilidades políticas para tragédia que aconteceu com o Cavaco ou seja Benguela, teve tudo nos últimos dias para que os seus governantes se demitissem. Pois, que, temos de deixar de branquear os factos e fatos à nossa medida.

Outro aspecto grave o suposto “reinício” das obras demoraram mais de 24 horas. Este pormenor, parece insignificante mas demostra que os meandros da implementação e execução das obras centrais, algumas vezes apresentam critérios duvidosos. Porque a elaboração e execução dos projectos são feitos à margem das autoridades locais, e pior ainda, os residentes são "inexistentes".

Há casos que os projectos de construção são feitos a partir dos “mapas ou fotografias” aéreas. E, impõem-nas nas localidades, fazem as coisas ao seu bel-prazer. É só verificarem os constantes erros sem auxílio do microscópico.

Alguns técnicos (engenheiros, arquitectos…) e governantes ludibriam o povo, fogem sistematicamente das suas responsabilidades. Quando alguém em pleno juízo aparece ao público, desculpabilizar e desresponsabilizar os governantes, reprovando unicamente os técnicos, é no fundo gozar da nossa burrice inteligência.

Quando um servidor público “sem juízo” afirma de boca viva que a drenagem não é parte integrante da obra por falta de verbas, até para obras vizinhas de zonas de “escoamento”. É no mínimo dos mínimos, brincar às escondidas.

A dupla técnico-governante é tão coesa que marcam sempre na nossa baliza. Quem conhece o mundo da construção civil em Angola, não pode ignorar isso. Pensar que, um técnico que perdeu anos a fio a queimar os seus neurónios para sua formação, elabora projectos de reabilitação ou construção de estradas sem preocupar-se com valas ou esgotos, não é nenhuma criança. Faz deliberadamente, porque sabe que sairá impune. Assim, fazem-se sistematicamente projectos contra à ciência e à consciência.

Enquanto, o governante e os seus companheiros conferem também a sua boa parte do negócio. E, o povo recebe um presente envenenado.

Depois, vêm os barulhentos da ocasião a enalteceram cegamente o resultado, alguns agem inocentes, mas outros, fazem-no para defesa dos seus intentos. Quando um profissional da comunicação social foge os factos amargurados do seu povo para desinformar, é gravíssimo.

A calamidade não escolhe filiação partidária, ocupação profissional ou estatuto social, grau de instrução, ela afecta na generalidade o povo angolano, todos sem selecção/excepção.

A construção nas zonas de risco é uma febre alta que merece ponderação e discussão aberta, porque parece não haver zonas seguras e estamos todos habitar em zonas de risco, pois que, uma chuva de 24 horas ou meio- dia, elucidaria isso.

Nos “países civilizados” construir nas zonas de risco, não é “necessariamente um risco”, porquanto os projectos urbanísticos cumprem com todos os pressupostos e o homem transforma a natureza para área habitacional, sem nunca por em perigo suas vidas. Mas nós esperamos sempre o problema para depois agirmos irreflectidamente.

 Agora, como resultado das chuvas, pessoas que tinham as suas casas construídas com suor são colocadas em tendas ou aglomeradas em “centro de concentração” como solução emergencial, é incompetência/arrogância e num “país sério”, quando o governante sente-se “desgovernante” demite-se, é tão natural. Pois, que, governar é servir bem o povo e o povo não abusa da governação.

Entretanto, é reconhecível que o país não é só máculas, há evidentemente, muita coisa boa que “alcançamos todos”. Mas, isso não nos permite sermos hipócritas, exprimir somente os ganhos da paz sem falarmos dos problemas sérios.

Somos todos sobreviventes desse andar do país que tem um novo rumo, todavia, às vezes torna-se muro de lamentações e nos assombram com situações dolorosas/arrepiantes que no fundo do nosso coração, fazemos manifestações não autorizadas sem repreensão nem julgamentos sumários.

O país está cheio de zonas de riscos: educação, política, saúde…

Domingos Chipilica Eduardo