Em função desta incursão ao berço do imperialismo, espero (reconheço que com ansiedade) pela visita, mais uma, de Paulo Teixeira Jorge a Portugal para ver se Lisboa também ultrapassou alguns dos preconceitos que tinha (e quanto a mim continua a ter) não em relação aos angolanos de primeira (os do MPLA) mas aos de segunda (todos os outros).

É que nesta altura de eventual campanha eleitoral, os sipaios do MPLA reeditam a tese que há sete anos foi defendida pelo secretário para as relações exteriores do partido que (des)governa Angola desde 1975, Paulo Teixeira Jorge, que na altura criticou o Governo português por, nas suas palavras, permitir que "portugueses de ocasião" interfiram nos assuntos internos de Angola.

O MPLA terá já ouvido, pelo menos desde que começou a falar em eleições para 2008, falar de democracia. Não sabe o que é e nem está interessado em saber. E, assim sendo, julga-se no direito de dar palpites sobre um Estado de Direito, algo que não se pode dizer a propósito da actual Angola, em cujos quintais proliferam acéfalos disponíveis para fazer tudo o que o camarada presidente quer.

"Existe o princípio universal da não ingerência nos assuntos internos (de outro Estado) e eu creio que Portugal, através dos órgãos competentes, poderia recomendar a esses ditos portugueses (elementos afectos à UNITA que vivem em Portugal) para não se meterem nos assuntos internos (de Angola)", afirmou na altura Paulo Teixeira Jorge, referindo-se ao facto natural de Portugal ser um dos países onde a UNITA teve, tem e terá mais adeptos, por muito que isso custe ao MPLA, por muitos dólares que invistam para comprar consciências.

Portugal, convirá que o MPLA o entenda de uma vez por todas, é uma nação livre. Mais livre umas vezes do que outras, é certo, mas livre. Coisa que Angola não é. Lá, por ordem dos amigos do camarada presidente, nem existe nação nem liberdade.

Por isso, conviria que o MPLA se preocupasse antes em dar palpites para o Futungo de Belas ou para outra quinta qualquer... enquanto tem tempo. De qualquer modo, quando lhe faltar o tempo, o camarada presidente e os seus acólitos poderão sempre vir também para Portugal. Não será difícil dar-lhe o estatuto de «português de ocasião».

"...Eles são portugueses de ocasião, fundamentalmente são angolanos que se tornaram portugueses depois da evolução da situação em Angola", dizia Paulo Teixeira Jorge, para quem o Governo português também deveria "chamar a atenção" dos elementos da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) que se encontram em Portugal.

O Governo português só não deverá chamar a atenção aos acólitos do camarada presidente. Não há dúvida de que o MPLA continua a pensar, certamente devido às boas amizades com a dupla Sócrates/Barroso, que Portugal se assemelha a Luanda.

E, se calhar, até tem alguma razão. A maioria dos acólitos do camarada presidente critica mas nunca bate palmas. E não bate palmas por que se o fizesse caía das árvores.

* Orlando Castro
Fonte: NL