Lisboa - Três ativistas dos direitos humanos foram hoje detidos em Cabinda, antes da anunciada manifestação naquele enclave angolano que visava precisamente exigir a libertação de outros dois elementos, detidos há quase um mês.

Fonte: Lusa

A informação foi confirmada à Lusa por várias fontes na capital da província, relatando um forte dispositivo policial nas ruas de Cabinda relacionado com o anúncio desta manifestação por um grupo de membros da sociedade civil local, inicialmente agendada para as 14:00 de hoje (mesma hora em Lisboa).


“Muita polícia, como era de esperar, na cidade. Como alguém dizia há pouco, o céu de Cabinda está todo nebuloso”, disse à Lusa o padre e ativista local dos direitos humanos Raul Tati.

Os promotores do protesto pretendiam exigir a libertação do ativista dos direitos humanos José Marcos Mavungo e do advogado Arão Bula Tempo, presidente do Conselho Provincial de Cabinda da Ordem dos Advogados de Angola, ambos detidos em Cabinda e indiciados, mas ainda sem acusação formal, por alegados crimes contra a segurança do Estado.

Para o dia em que foram detidos, 14 de março, estava convocada uma outra marcha de protesto contra a má governação de Cabinda e a violação dos direitos humanos na província. À semelhança dessa tentativa, a manifestação de hoje acabou por não se realizar. Não tinha sido autorizada pelo Governo da Província de Cabinda, o que levou a organização a suspender a mesma para “evitar novas detenções”.

“Isso não foi suficiente porque à noite [sexta-feira] a polícia foi à casa destes três ativistas e levou-os, ainda não sabemos porquê. Um deles foi solto entretanto, os outros dois só deverão ser ouvidos pelo procurador na segunda-feira”, disse Raul Tati.

Também em Cabinda, Adolfina Mavungo, mulher do ativista José Marcos Mavungo, relatou à Lusa o cenário vivido na cidade. “Muita polícia na rua, com barreiras na estrada, e muito medo. Prenderam três pessoas e a manifestação não saiu, também não havia muita gente”, disse, reafirmando a “preocupação” com o estado de saúde do marido.

José Marcos Mavungo está indiciado do crime de rebelião e advogado Arão Tempo é suspeito de colaboração com um estrangeiro (também detido) contra o Estado angolano. Ambos já apresentam vários problemas de saúde, com José Marcos Mavungo, de 56 anos, internado desde esta semana mas ainda sob detenção, na unidade de cuidados intensivos do hospital de Cabinda, com problemas cardíacos, de acordo com informação confirmada à Lusa pela mulher.

Arão Tempo, de 52 anos e que, além de advogado, é ativista dos direitos humanos, foi assistido na quinta-feira no hospital local, devido a problemas de hipertensão, e regressou ao estabelecimento prisional, aguardando igualmente julgamento.