Luanda - A biografia do chefe da seita “A Luz do Mundo” nos serviços secretos angolanos diz que “a sua vida esteve sempre dedicada a agricultura e actividade religiosa na sua terra natal”. Por outro lado, foi sempre conflituoso, adúltero, com tendências extremistas e não aceitava as leis do Estado.

Fonte: O País
Os serviços secretos angolanos (SINSE) elaboraram um ficheiro com vasta informação sobre José Julino Kalupeteka, homem considerado como “profeta do século XXI” pelos seus seguidores da Igreja do Sétimo Dia A Luz do Mundo. Dentre os documentos há uma biografia (ver caixa) que contraria a informação adiantada pelo secretário de Estado do Interior, Eugénio Laborinho, no Huambo, apontando Kalupeteka como antigo militar da UNITA.

“Hoje mesmo encontramos material de propaganda da UNITA, também sabemos, pelo cadastro, que Kalupeteka foi soldado da UNITA, eis porque nas buscas que se estão a fazer na montanha do Sumi encontrou-se armamento, uma série de objectos contundentes, candjavites e outros meios e armas brancas que serviram para matar os nossos oficiais superiores e também encontramos uma grande reserva logística, não sei por que razão, e muitos documentos que foram canalizados a investigação criminal”. Disse Laborinho aos jornalistas no dia 17 de Abril, dois dias depois do confronto com a Polícia no monte S. Pedro Sumi, de que resultou a morte de nove efectivos policiais e de treze civis alegadamente pertencentes a seita.

Ao caracterizar Kalupeteka, dois parágrafos da biografia no ficheiro do Serviço de Informação e Segurança do Estado (SINSE) dizem: “Nunca esteve matriculado em alguma escola, apenas teve aulas de alfabetização, ministradas pelo seu primo Henriques Domingos”. No parágrafo seguinte, sobre o envolvimento militar, diz o documento que Kalupeteka “Nunca foi militar, a sua vida esteve sempre dedicada a agricultura e actividade religiosa na sua terra natal”.

O que o documento não refere é como Kalupeteka se viu livre da tropa se na idade de mancebo, em plena guerra, o serviço militar era obrigatório em Angola. Um analista ouvido por O PAÍS alerta para a possibilidade o SINSE estar ainda a trabalhar com vários perfis de kalupeteka, até encontrar um que o defina por completo.

A biografia a que este jornal teve acesso descreve o percurso de José Julino Kalupeteka de 1983 a 2010 e caracteriza-o, no penúltimo parágrafo, como sendo “um cidadão com tendência extremista, pois não respeita as leis do Estado, é conflituoso perante as outras pessoas, sobretudo quando estava ligado a Igreja Adventista do 7º Dia e, para ele, o único Estado é Deus”.

No fim, o documento diz que Kalupeteka “é considerado de bom orador, com forte poder de mobilização, boa capacidade de persuasão e de convencimento, aproveitando, para tal pessoas um pouco desequilibradas do ponto de vista psicológico, resultado de instabilidade social, económica e emocional e, sobretudo, descontentes, referindo-se àquelas que são expulsas da Igreja Adventista do 7º Dia por mau comportamento”.

Biografia de José Kalupeteka

José Julino Kalupeteka, solteiro de 46 anos de idade, filho de Júlio Kamoli e de Teresa Nangassole, nasceu aos 15 de Setembro de 1969, natural da Kayambo, sector do Quilómetro Vinte e Cinco, município da Caála, Província do Huambo, portador do BI nº 005627764HO046, passado pelo arquivo de identificação do Huambo, aos 26/02/12, vive maritalmente com a senhora Feliciana Lúcia Ngundo, com a qual tem oito filhos (nomes propositadamente omitidos).

Nunca esteve matriculado em alguma escola, apenas teve aulas de alfabetização, ministradas pelo seu primo Henriques Domingos. Nunca foi militar, a sua vida esteve sempre dedicada a agricultura e actividade religiosa na sua terra natal.

Em 1983 abandona a aldeia de Cayambo e instala-se na aldeia de Cawayala, no Quilómetro Vinte e Cinco, e tendo em conta os seus dotes musicais, é indicado para exercer as funções de responsável do grupo coral da Igreja Adventista do quilómetro Vinte e cinco.

Desempenhou essas funções até 1986, altura em que começou a portar-se mal, pois, não respeitava os responsáveis da igreja, mormente os pastores Romeu Cinco reis, Tamásio Bongue e Aurélio Nanga, facto que o levou a ser expulso da igreja no Quilómetro Vinte e Cinco.

Em função da influência que este tinha no seio da juventude cristã da Igreja Adventista do 7º Dia, vai para a sede da província, concretamente para o bairro de Capango, onde exerceu as mesmas funções na igreja do Kapango.

O mesmo comportamento de desrespeito aos responsáveis da igreja, associado a actos de adultério, em 1999 abandona a Província do Huambo e fixa-se na Província da Huíla, concretamente no bairro Lalula, na cidade do Lubango.

Na Província da Huila continuou com o seu comportamento e fugiu para a Província do Huambo, onde foi recebido pela direcção da Igreja do 7º Dia do bairro Calomanda.

Tendo em conta o seus carácter agressivo e hostil contra os responsáveis da igreja, para além do seu comportamento adúltero, aos 18 de Fevereiro de 2001 é expulso em definitivo da igreja, tendo como mote a violação dos princípios doutrinais, mormente o envolvimento em actos de adultério, onde envolveu-se com uma jovem do grupo coral, tendo-a engravidado sem assumir a responsabilidade.

A medida tomada pela igreja criou-lhe um espírito de revolta contra os pastores, acusando-os de desvios de fundos, feiticeiros, mentirosos e mobilizava os crentes para não pagamento dos dízimos.

Estas acções eram desenvolvidas através de canções religiosas, cujos conteúdos, apara além de terem o carácter religioso, ofendiam os seus responsáveis. Assim, em 2006 começa com o trabalho de evangelização dos crentes da Igreja Adventista do 7º Dia a partir da Província de Benguela, isto no bairro Calomanga, para desacreditar os seus responsáveis.

No mesmo ano, desloca-se a província do Bié, onde efectuou trabalho idêntico num período de sete dias e regressou para a sede da Província do Huambo, instala-se no bairro Calundo, onde viveu por um período de 19 meses.

Durante o período de permanência na sede do Huambo, prosseguiu com a hostilização dos responsáveis da Igreja Adventista do 7º Dia, acção que já tinha realizado em Benguela e Bié, com sabotagem das suas actividades, promovendo acções no mesmo local onde decorriam as actividades da igreja, simplesmente para criar um ambiente de sabotagem e intriga e sempre que fosse repreendido, partia para a violência em companhia dos seus seguidores.

De 2007 a 2008, dedicou-se em acções de evangelização das populações, cujo alvo preferencial eram crentes que sofriam medidas disciplinares no seio da Igreja Adventista do 7º Dia.

Em 2009 a 2010, desloca-se a Província de Luanda, concretamente no Município de Cacuaco, no bairro da Vidrul, onde deu prosseguimento com a sua actividade de evangelização. Na base da adesão que se registava, foi aconselhado pelo pastor José Silva, a reunir documentos para fundar a sua própria igreja.

Este acatou o conselho do pastor e, segundo o mesmo, reuniu a documentação e fez entrada à Repartição dos Assuntos Sociais do Município do Cacuaco, onde foi atribuído o nome de Igreja Cristã no Sétimo Dia a Luz do Mundo.

Em 2010, regressa a Província do Huambo e instala-se no Quilómetro Vinte e Cinco, onde comprou um terreno na serra do Sumy, para fins agrícolas. Devido a adesão que foi registando nos cultos que realizava na sua residência, este foi obrigado a construir um estábulo no seu terreno localizado na serra do Sumy, que transformou em igreja.

Trata-se de um cidadão com tendência extremista, pois não respeita as leis do Estado, é conflituoso perante as outras pessoas, sobretudo quando estava ligado a Igreja Adventista do 7º Dia e, para ele, o único Estado é Deus.

É considerado bom orador, com forte poder de mobilização, boa capacidade de persuasão e de convencimento, aproveitando, para tal pessoas um pouco desequilibradas do ponto de vista psicológico, resultado de instabilidade social, económica e emocional e, sobretudo, descontentes, referindo- se àquelas que são expulsas da Igreja Adventista do 7º Dia por mau comportamento.