Luanda - Confrontada com a subida repentina do preço dos derivados do hidrocarboneto, a actriz acima expressa, manifestou o seu ponto de vista sobre a situação do país e propõe que em nome da cidadania, da dignidade humana e dos nossos direitos, devemos reagir. Ela propõe que todos permaneçam em casa sem fazer absolutamente nada, para que possamos bloquear o funcionamento das instituições à fim das autoridades hegemónicas mudarem a forma de proceder.

Fonte: Observatório
Em seguida, propomos a leitura do texto “ipsis litteris” (tal e qual, à letra…), que a redacção do Observatório extraiu da página do facebook de Mel:

Neste momento estou de cama com gripe e febre tifóide. Chamam-me de rica mas para pagar a renda, alimentação, comunicação e combustível (que só sobe) tenho 4 empregos. Quando estou mal de saúde por cada consulta, análise e medicação eu fico com o coração na mão. Mas tenho noção que tenho melhores condições que muita gente nessa terra. Muita mesmo.

Os meus familiares e amigos reclamam porque não me vêm, porque estou sempre ocupada. Com tanta ocupação intercalo entre trabalhar que nem uma condenada e perder a saúde por isso. Mas isso me torna melhor que os outros? Simplesmente não.

Sou só mais uma escrava do sistema!

Para piorar tenho sonhos, sonhos grandes e eles estão em Angola e por Angola. Parte dos meus salários são para sustentar esses sonhos e no meio disso tudo ajudar quem precisa.

Insinuam constantemente que pelo meu aspecto físico eu “só estou assim porque quero”, pois bem prostituição é uma coisa que não quero para mim. Bajular também não é a minha cena. Ensinaram-me a pensar e é a pensar que quero ganhar a minha vida.

Muitos jovens estão como eu, a ralar, a dar no duro, mas tanto corremos e nunca saímos do mesmo lugar e parece que as coisas só pioram.

Partilho isso porque nesse momento estou a morrer de vergonha alheia.

Vergonha dos meus conterrâneos que têm uma vida de MERDA mas até de não fazer absolutamente NADA, têm MEDO.

Até de simplesmente PARAR porque sabemos que se estão a cagar para nós como povo, porque com eleições ou sem elas vamos continuar a levar com areia nos olhos.

Eu já afirmei várias vezes que não pertenço a nenhum partido político (e já fui ameaçada por um coronel por dizer isso), quem me conhece sabe que os meus discursos sempre são em prol de um colectivo social pró activo, mas até de sermos pró activos somos empatados ou impedidos; daí que: por favor vamos separar as coisas. Quem precisa de comer ao almoço e ao jantar na segunda-feira por favor pense no seu estômago. Estou a falar de quem ganha ao dia. Quem quiser parar vai garantir que se houver mudanças, as mesmas beneficiem também a quem pensou em si e nos seus filhos unicamente.
Ver pela terceira vez seguida os combustíveis a subir e que nem cordeiros enchermos as bombas antes da meia-noite sem reclamar, como se os depósitos fossem infinitos, só demonstrou a nossa passividade como conjunto.

Estudar é importante? Claro que sim. O dia 4 de Maio não impedirá ninguém de pagar as propinas no final do mês. Se não pagarem transporte público ou combustível no dia 4 de Maio irão pagar no resto dos dias. E se mais ninguém PARAR no dia 4 de Maio A mensagem é óbvia: temos o governo que merecemos!

Enfim. A desesperança é tanta, alimentada por tanta covardia colectiva que só me apetece dizer: febre tifóide me leva. Me leva de vez e se for para nascer de novo que não seja mais na porcaria desse planeta.