Luanda - Como quem fala verdade não merece castigo, estou convencido que se há entre nós uma obrigação para com o Estado, que os cidadãos detestam de forma muito intensa, ela chama-se, certamente, taxa de circulação.

 

Fonte: OPais

Tão intenso é este distanciamento das pessoas com a taxa, que o Estado passa a vida a prolongar os prazos de pagamento da mesma, para ver se consegue mais qualquer coisa.

 

O balanço preliminar da taxa de 2014 já dado a conhecer nos últimos dias, é bem elucidativo desta crise de identidade entre quem paga e quem cobra.

 

Os dois “parceiros” não se reconhecem a bem.

 

Pronto, já falei a verdade, com todas as provas resultantes de algumas evidencias que estão na cara de todos, bem estampadas nas estradas esburacadas ou nos buracos com alguma estrada ou ainda sem nada mesmo, para além da recordação de quem ainda se lembra que por ali antigamente passava uma estrada que até nem era das piores.

 

Definitivamente, as pessoas não gostam de pagar taxa de circulação porque do alto da sua “desorientação momentânea” não conseguem entender algumas coisas.

 

Nomeadamente, não entendem que Estado que lhes cobra a taxa continua a ser uma “pessoa de bem” e por isso apenas está interessado em resolver os problemas das outras pessoas, que somos todos nós, mas com a sua própria contribuição, de preferência de forma voluntária e patriótica.

 

Depois, também não percebem muito bem para onde é que vai aquele dinheiro, convencidos que estão, que, no mínimo, mesmo sendo pouco para a grandes encomendas, sempre daria para financiar o tapa-buracos, que agora voltou a aparecer para logo desaparecer sem deixar novamente rasto.

 

Se fosse possível fazer um ranking dos produtos oficiais “made in Angola” que o pessoal mais desgosta, não temos qualquer dúvida em vaticinar que a taxa de circulação iria ocupar no final do inquérito um lugar de topo nesta lista de “ódios de estimação” que os angolanos mais coleccionam, por diferentes razões, embora com o mesmo denominador comum.

 

Com o inicio anunciado para esta sexta-feira, Dia do Trabalhador, da caça ao homem, ou seja, com o arranque do pagamento coercivo por parte de todos quantos andam de “pópó” (entre ligeiros e pesados) e ainda não pagaram a dita cuja, o sentimento anti-taxa de circulação vai, provavelmente, aumentar de forma exponencial.

 

Um sentimento que é cultivado sobretudo entre os automobilistas e seus familiares e amigos mais próximos que, normalmente, seguem com eles dentro da mesma viatura, na hora de serem identificados por quem de direito, que agora já são quase todos, desde que aparentem ser da azulada corporação, mesmo sem terem luvas e o bloco das multas.

 

Assim sendo, quem já está a esfregar as mãos de contente são naturalmente os fiscalizadores de serviço, também conhecidos por “cabeleireiros”, por causa de gostarem muito de “pentear” os outros.

 

As aspas colocadas nos dois termos explicam o significado deste relacionamento com os agentes da ordem e da tranquilidade com uma profissão que lhes é tão estranha. Pelos vistos era.

 

Por esta via, eles terão assim uma nova oportunidade de ter acesso a mais alguns recursos no âmbito da sinuosa distribuição do rendimento nacional, que esta nova etapa da circulatória campanha sempre irá permitir recolher.

 

De facto, para quem ganha menos de setenta mil não é nada fácil resistir a esta oportunidade que sem ser soberana, é de facto um bom momento para se fazerem algumas operações aritméticas ao nível da soma das parcelas, que acabam sempre por ajudar a solucionar alguns problemas domésticos acumulados por falta de verba.

 

Se for levada mais a sério, esta cobrança coerciva vai obrigar a uma monumental retenção das cartas de condução dos “refractários” para forçar as pessoas a irem aos bancos pagarem, sendo esta a única solução “legal” para os devidos efeitos, com todas as dúvidas que a mesma suscita ao nível da aplicação do Código de Estrada.

 

A outra como já vimos atrás, será a mais directa, através da “gasosa” ou do “saldo”.

 

Mas o mais grave ainda está para chegar.

 

O “porta-voz da taxa” já deixou entender que em 2015 o valor da mesma deverá conhecer um incremento substancial, particularmente para os pesados, que são os que menos gostam de pagar.

 

Para justificar mais este ataque ao bolso dos contribuintes, a fonte considerou que a arrecadação dos valores actuais já não chega nem para pagar 30 km de pavimento.

 

In Secos e Molhados/Revista Vida/ O País (1-05-15)