Toronto - “Esta obra de facto não vai tão longe assim. A obra também abre uma pequena janela sobre a corrupção de um sistema judicial corrupto que não é independente e esta subordinado ao poder executivo”. Estas constatações foram apuradas numa brevíssima entrevista via e-mail que a autora Zaida Benge concedeu recentemente num dos formatos das redes sociais.

Fonte:  Facebook

“Esta é a ironia de Angola”: Até na gatunagem existe hierarquia

A autora da obra  ficticia “A Justica dos Injusticados” Zaida Benge nasceu em Angola, e reside no exterior a mais de 35 anos.  A autora que os últimos 25 anos vive no Canadá assume que a presente edicao  “é baseada num facto real (a queimada dos dólares) passou-se por volta de 2011”, e logo a seguir argumenta que  “Eles roubaram dinheiro que estava fora da circulação, fora do mercado e que tecnicamente era considerado lixo”. Para posteriores detalhes confira a conversa na íntegra:

O que a motivou a escrever a presente obra?
A motivação veio de uma conversa com uns amigos Angolanos durante umas férias em Portugal em 2012.  Já não nos via-mos a quase 40 anos. Gostei de ouvir as histórias deles e vivências de Angola.  Outras histórias são baseadas em conversas que tenho com vocês, minha família, sobre a situação em Angola.  Então pensei que seria interessante escrever essas histórias.

 

Segundo o prefácio/contracapa o presente livro é uma ficção. Mas é visível que a localização ou cenário principal do livro pareceu-me Angola dos anos na década dos 70 até 80. Será que estou errado?
Embora seja ficção o livro baseia-se em lugares e factos do dia a dia em Angola, nomeadamente em Luanda.  Com ficção uma pessoa pode tomar liberdades literária. Embora o cenário se pareça mais ao dos anos 80 de facto a história é baseada num facto real (a queimada dos dólares) passou-se por volta de 2011.  O caso apareceu até na imprensa local. O que me intrigou nesta história e que nunca eu tinha visto alguém em Angola ser processado por roubar dinheiro.  Uma prática corrente no país!  Porque que esses indivíduos foram processados e não outros casos tão parecidos aos deles?

 

Sobre o contexto do livro quando se refere “Desde quando roubar lixo era crime? Na contracapa o que queria dizer exactamente com esta passagem?
Esse dinheiro foi queimado, ou por outra, deveria ser queimado, foi desviado por indivíduos que facto eram considerados peixe miúdo. Eles roubaram dinheiro que estava fora da circulação, fora do mercado e que tecnicamente era considerado lixo.  No entanto eles foram posto na hasta pública como gatunos, quando os verdadeiros gatunos roubam bilões de dólares e ninguém os condena.  Esta é a ironia de Angola.  Uma pessoa rouba uma galinha porque tem fome e vai parar a polícia, quando não espancada quase a morte pela população. Contudo, você pode roubar impunemente milhões e milhões de dólares e é aplaudido ou aplaudida como empreendedor ou empreendedora com talento para negócios.  Até na gatunagem existe hierarquia. Dependendo da classe a que a pessoa pertence ou os contactos que tem, um indivíduo e chamado gatuno ou empreendedor.

 

A actual ficção reflecte a realidade Africana em dois aspectos: Movimentos que lideraram a libertação colonial de um lado e do outro envolvimento destes políticos em transacções de avultadas quantias dinheiros em contas privadas. Será esta a mensagem da obra? 
Esta obra de facto não vai tão longe assim.  Isso é assunto para um outro livro!  Esta obra limita-se a ver a vida das pessoas menos favorecidas em Angola e como os sistema judicial não os protege.  A obra também abre uma pequena janela sobre a corrupção de um sistema judicial corrupto que não é independente e esta subordinado ao poder executivo.

 

Com o lançamento deste livro pretende dar sequencia nesta categoria (ficção) ou relatar testehunhos de carácter histórico?
O meu desejo é continuar a escrever e relatar tanto factos históricos como ficção.  É parte do meu plano de aposentação. Espero ter mais tempo para pesquisar e escrever.  Existem factos históricos que eu gostaria de relatar na primeira pessoa e com tempo esses livros irão aparecer.  Eles são parte do meu legado a uma nova geração Angolana e especialmente a minha filha e neto. Sinto que é nossa responsabilidade escrever a nossa história e não permitir que outros a escrevam por nós. 

 

Zaida Benge em síntese:

Cor preferida: Cor preta.  A união de todas as cores

Prato favorito:  Difícil decisão.  Talvez a muamba com maika.  A maika, iguaria de Cabinda, parte da minha juventude, especialidade culinária do meu pai e homenagem as nossas raízes que vem de Cabinda.  Contudo o feijão de óleo de palma com farinha e banana esta bem próximo do número um.

Passatempo: Escrever e ler

Livro preferido: “O Estrangeiro” de Albert Camus

Cidade que se orgulha: Toronto.  Amo a diversidade, o dia a dia sem complicações, e a modéstia que Toronto tem de se sentir imperfeita, sempre querendo melhorar, quando tem tanto para oferecer