Alemanha - Na cadeia de S.Paulo em especial na cela ( F ) e no campo de concentração do tari na kibala não era fácil distinguir os verdadeiros presos e os infiltrados entre nós que agora acredito não deveriam ter sido poucos.

Fonte: Club-k.net

Claro que entre tanta gente jovem e velhos presos mesmo estando numa cadeia politica houvesse de tudo um pouco , desde os trapalhões que na hora da surra diziam ate o que não sabiam , se complicando e complicando os outros , os que ainda pensavam na bebedeira do dia antes de terem sido presos , aos que ja tinham planos em como se venderem em troca da liberdade.

Agora mesmo meus manos que acabei de somar algumas atrocidades praticadas pela policia ao serviço de JES e sob gestão exclusiva de Ambrósio Lemos começo a questionar se este era verdadeiramente um preso como nós , como sempre acreditei ou teria sido apenas mais um entre os tantos infiltrados no nosso seio ?

Se foi mesmo um infiltrado como acredito cada vez mais importa dizer aqui , que foi o primeiro caso de um infiltrado que conheci pessoalmente e com quem convivi dois anos e pouco que não precisou mudar a sua identidade e se tinha algum disfarce sinceramente vos digo que nunca tinha dado conta.

Geralmente e na história das infiltrações os indivíduos utilizados são introduzidos com identidade completamente falsa e falando da minha experiência pessoal os que eu tinha colocado por exemplo na policia em ( 1976/77 ) obedeceram á este critério sigiloso para lhes poupar algumas complicações na hora ( H ).

Manos vos confesso que não foi tarefa fácil fabricar uma falsa identidade e construir uma historia que fosse de acordo com o passado suposto da vida de um infiltrado que o nome nada tinha haver com aquele que utilizava dentro da policia e ao serviço da operatividade da Contra Inteligencia Militar na altura.

Mesmo apesar do facto de na policia naquela altura já houvesse uma grande concentração de deliquentos recrutados nos bairros apressadamente para servirem a corporação que é hoje , mesmo assim nenhum operativo se arriscava em infiltrar algum informante sem disfarce seja onde fosse.

Mas se o Ambrósio Lemos foi mesmo um infiltrado entre nós e tendo sido de confiança de muita gente que lhe admirava como eu , então podemos agradece‐lo pelo facto de não nos ter queimado aconselhado á direcção do campo de concentração do Tari , para que nos fuzilassem.

Agora mesmo que se desfila na minha memória as imagens da cedia de S.Paulo e do campo de concentração do Tari ( Kibala ) recordo‐me ainda como se fosse hoje quando uma vez nos mandaram formar para fazerem á leitura de uma lista onde constava vários nomes incluindo o meu , de Brito Júnior , Binocas , Costa Dambi , Paulo King Júnior , Filomena , Nanay entre outros tantos quando se comentava que existia uma suposta vala comum onde depois de executados seriamos enterrados .

E se a memória não me trai , me parece que o nome de Ambrósio Lemos nem se quer constava da tal lista que tinha sido lida por Dumilde Rangel ( Nambi ) uma outra víbora que de detido acabou transformado em um dos mandões daquele inferno em parceria com Mateta , Lopo Loureiro e uns tantos semi analfabetos políticos que estavam sempre prontos á cumprir ordens .

Teria sido o Ambrósio Lemos o autor daquela lista dos que tinham que ser eliminados no campo do tari ou não , é uma pergunta que só me resta deixar no ar , pois por sorte ou ironia do destino acabamos por sobreviver , para contar a história .

 

E um Ambrósio Lemos que sobreviveu como eu , aquele que foi considerado o pior massacre que a nossa triste historia conhece , se fosse racional como comandante de um corpo policial dos mais cruéis actualmente na região austral da África deveria ter um pouco de compaixão e piedade desses miúdos que têm sido surrados quase todos os dias por exercerem os seus legítimos direitos consagrados na constituição nacional.

Voltarei com a segunda parte !

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Fernando Vumby