Lisboa - A Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC) acusou hoje o parlamento e a classe política portuguesa de "apatia, silêncio e hipocrisia" sobre a situação naquele enclave, e de subjugação ao poder em Angola.

Fonte: Lusa

Num comunicado, datado de Paris e assinado pelo porta-voz da FLEC, Jean Claude Nzita, enviado hoje à Lusa, a direcção político-militar daquela organização "desmente as declarações falaciosas" da chefia do Estado-Maior das Forças Armadas Angolanas sobre a situação estável em Cabinda.

A FLEC diz que demonstram falta de conhecimento sobre a "real situação militar no território" ou pretendem "fornecer à comunidade internacional uma deturpação total da realidade".

Aquela organização insiste "que a via para a resolução do conflito em Cabinda passa forçosamente pelo diálogo", desafiando o Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, a abrir um "processo negocial político e pacífico" com a FLEC, que reclama a independência daquele enclave.

"E não optar pelas declarações irrealistas de militares que tudo tentam para beneficiarem com o conflito em Cabinda e que o negócio da guerra perdure", lê-se no comunicado.

Na mesma posição, a FLEC diz que "lamenta o silêncio cúmplice de Portugal, França e Estados Unidos da América", face a "práticas desumanas de Angola contra cidadãos cabindenses que lutam pacificamente por uma sociedade digna e politicamente justa".

Apela ainda aos presidentes destes três países para "assumirem as suas responsabilidades políticas e morais", evitando "um agravamento do conflito e aumento da repressão em Cabinda". O mesmo defende em relação aos deputados do parlamento português, exortando a "intervirem por uma resolução pacífica do conflito em Cabinda e em defesa dos presos políticos de Cabinda", alegando "acordos e compromissos" anteriormente estabelecidos.

"A apatia, silêncio e hipocrisia do parlamento português e da classe política portuguesa, subjugados ao MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, partido no poder], revelam vergonhosamente a falsidade das suas palavras em defesa dos Direitos Humanos e como defensores da Paz", afirma Jean Claude Nzita, nesta declaração da FLEC.

A FLEC luta pela independência de Cabinda, província de onde provém a maior parte do petróleo angolano, e considera que o enclave é um protetorado português, tal como ficou estabelecido no Tratado de Simulambuco, assinado em 1885.