Luanda – Vacinas destinadas a cães são administradas a pessoas. Falta de higiene, de laboratórios e espaços apertados. Técnicos sem formação nem documentação. São estas condições a comissão, liderada pela Ordem dos Veterinários, encontrou em muitas clínica.

Fonte: NG
No país há clínicas veterinárias, angolanas e estrangeiras, a funcionar na mais completa ilegalidade, sem as mínimas condições de higiene, internamento e armazenamento de medicamentos, denuncia Maria Antonieta Baptista, bastonária da Ordem dos Médicos Veterinários de Angola (OMVA), em declarações ao NG. “Estas supostas clínicas estão a funcionar sem documentos, com técnicos sem formação, em becos, sem condições mínimas exigidas para o exercício da função”, reforça a responsável pela organização que reúne todos os veterinários de Angola e estrangeiros.

A bastonária acusa ainda os donos dessas clínicas de “constituírem um perigo grande para a sociedade”, porque estão administrar a seres humanos, vacinas anti-rábicas para cães. “Isso é grave”, acrescenta Maria Antonieta Baptista, explicando que as concentrações são diferentes e os números de doses também e que há o perigo de “se induzir a raiva do animal para as pessoas.

A denúncia de Maria Antonieta Baptista resulta de ter constatado no terreno as condições de muitas clínicas. Uma comissão, composta por técnicos da OMVA, do Instituto Nacional de Serviços Veterinários e da Polícia Económica, tem estado a realizar visitas a várias clínicas. Nesses encontros. já comprovou diferentes tipos de condições, desde os luxuosos aos piores, “As boas clínicas de veterinárias existem em menor número, já as piores que funcionam sem consultórios, laboratórios e condições técnicas são muitas”, destaca a bastonária.

A bastonária garante ter visto clínicas em que os medicamentos já se encontraram nas seringas à espera do paciente, com falta de higiene e em que as salas de tratamento e as mesas de medicamentos ficam ao lado das casas de banhos.

A bastonária classifica estes lugares como “lojas de venda de produtos para animais”, em que escondem os trabalhos de clínicas “para fugirem a obrigação de se inscreverem na Ordem”, como determina a lei. No grupo de ilegais detectados, estão também alguns estrangeiros que asseguram se terem formado no Congo Democrático e que apenas aguardam pelos documentos. Estes técnicos desconhecem que, antes de tratarem de animais, devem apanhar vacinas para evitarem contrair doenças.

Profissão com regras

O regulamento da lei de sanidade animal define que o exercício da profissão de veterinário por privados exige uma autorização do Instituto Nacional dos serviços Veterinários, mediante um parecer favorável da Ordem dos Médicos Veterinários de Angola. Uma boa clínica veterinária deve ter condições iguais à das humanas, com uma boa recepção e não juntar os animais para evitar lutas, ter um bloco operatório, laboratório e camas próprias. Só pode exercer a actividade de médico veterinário em Angola quem estiver inscrito na Ordem. Quem não o fizer está no exercício ilegal da função. A Ordem dos Veterinários tem perto de 300 membros, entre angolanos e estrangeiros, e está dividida em três concelhos regionais em Angola.

Crime, diz a Ordem

As clínicas em que foram constatadas “irregularidades”, entre elas a falta de documentos, condições técnicas para o funcionamento e falta de higiene, têm dez dias para provarem a sua legalidade. Findo o prazo, a Ordem dos Veterinários vai entregar uma denúncia formal na Procuradoria-Geral da Republica para instaurar processos-crime.