Alemanha - O corpo do militar da FLEC/FAC João Massanga foi descoberto esta terça-feira nos arredores da cidade congolesa de Ponta Negra. Organização de Cabinda garante que a morte não desmotiva os que combatem o exército angolano.

Fonte: DW

João Massanga, conhecido nas fileiras da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda/Forças Armadas de Cabinda (FLEC/FAC) como "Homem de Guerra", terá sido capturado na cidade de Ponta Negra, na República do Congo, numa operação conjunta das forças de segurança congolesas e angolanas, segundo a organização.

O corpo do militar foi encontrado numa localidade conhecida por "Linha seis" nos arredores da cidade congolesa. Massanga tinha-se deslocado em visita privada a Ponta Negra, onde chegou a 10 de maio.

De acordo com a Frente de Libertação, a captura de Massanga decorreu em circunstâncias muito semelhantes à de outro comandante das Forças Armadas de Cabinda. Gabriel Nhemba "Pirilampo", detido em Ponta Negra em 2011, foi executado e o seu corpo abandonado numa aldeia congolesa, situada nas proximidades da fronteira com Cabinda.

O porta-voz da FLEC, Jean-Claude Nzita, confirmou esta terça-feira (19.05) a notícia à DW África, depois de a população ter identificado o corpo do comandante. "Encontramos hoje o corpo que depois de ter sido torturado foi atirado para uma vala numa localidade situada nos arredores da cidade de Ponta Negra. Esta manhã, na morgue da cidade, as pessoas foram identificar o corpo de Massanga."

"A luta continua"

Depois deste caso, terão os independentistas de Cabinda "perdido" a República do Congo, considerada por muitos como uma retaguarda segura da FLEC? "Nunca utilizamos o Congo-Brazzaville como base de retaguarda das FAC", responde Jean-Claude Nzita.

"As nossas Forças Armadas sempre estiveram em território cabinda. O que existem são fronteiras com os dois Congos (Brazzaville e RDC) e somos um único povo. Por isso, as nossas forças têm famílias dos dois lados das fronteiras nos dois países", explica.

Para a FLEC/FAC, a morte de mais um comandante militar não desmotiva os elementos armados que combatem o exército regular angolano em Cabinda. Antes pelo contrário, sublinha o porta-voz da FLEC.

"Estamos hoje, mais do que nunca, motivados e mobilizados a continuar a nossa luta porque continuamos à espera de uma resposta à solicitação feita ao Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, para que crie uma comissão para que possamos analisar e discutir politicamente a questão de Cabinda."

Segundo Jean-Claude Nzita, o "grande obstáculo" são os elementos da Casa Militar da Presidência da República de Angola, que "não deixam o processo avançar." O porta-voz da FLEC renova a proposta da sua organização no sentido de um diálogo aberto com as autoridades centrais de Luanda. Ainda assim, não deixa de afirmar que o Presidente angolano "está mal aconselhado pelos generais mafiosos da Casa Militar".

Por causa da guerra em Cabinda, alega Nzita, "há muito dinheiro a circular no seio do exército angolano". Como tal, "os generais não querem perder todo esse dinheiro que mensalmente engrossa as suas contas bancárias no estrangeiro. Por isso, não querem que a guerra cesse em Cabinda e até decidiram elevar para 45 mil o número de efetivos militares na região".

Campanha diplomática

A FLEC está atualmente a levar a cabo uma campanha diplomática junto de algumas capitais ocidentais, mas até agora os resultados não são muito visíveis. "É injusto que Paris, Washington e Lisboa permaneçam indiferentes face ao que se passa em Cabinda", critica o porta-voz da FLEC.


No seu périplo por algumas capitais ocidentais, a organização tem solicitado o reconhecimento da identidade do povo cabinda que diz ter sido "usurpada" pelo Estado angolano.

"A comunidade internacional tem reclamado que a Turquia reconheça o genocídio do povo arménio. Por isso, pergunto: Porque é que a União Europeia (UE) não exige o mesmo de Portugal em relação ao povo cabinda? Somos um protetorado, não somos angolanos", sublinha Jean-Claude Nzita.

Sobre a resposta dos interlocutores, o porta-voz da FLEC não comenta e acha que a batalha da organização não está perdida. "Estamos a trabalhar e esperamos resultados concretos para breve. Temos dito que talvez Angola tenha, por enquanto, vencido a batalha, mas não ganhou a guerra porque ela vai ser longa e popular", conclui.