Luanda - Cinco alunas foram assediadas numa escola no Kilamba-Kiaxi e decidiram gravar as conversas. As mães fizeram queixa às autoridades e levaram o assunto à Rádio Luanda. Foi o suficiente para os professores e director da escola serem exonerados. Um deles justifica-se que as alunas aparecem com “baton xuxuado”.

 

Fonte: NG
Joana G., de 14 anos, aluna da 9.ª classe na escola comparticipada ‘São João Baptista’ n.º 2085 no Kilamba-Kiaxi, em Luanda, sonha ser advogada para poder ajudar a mãe, Rosa Francisco, de 56 anos, viúva e que trabalha como lavadeira. Por isso, Joana dedica-se aos estudos, mas, há cerca de um ano, começou a enfrentar um obstáculo: o assédio sexual dos próprios professores, que, perante a mãe, Rosa francisco, juraram tornar-se no pai que a menina perdeu em 2007.

 

Joana, cujos sinais da puberdade começam a aparecer de forma tímida, acusa o coordenador da escola de a abusar sexualmente. “O professor começou a dizer que sou namorada dele, pegou-me, beijou-me à força e começou a pegar-me na cueca”, conta a menina, acrescentando que “o professor João insistiu e colocou-lhe os dedos nos órgãos genitais”.

 

Joana contou o que se passou às colegas, Daniela F., também com 14 anos, e Janeth B. de 17, que, surpreendentemente, também eram assediadas por outros professores e pelo mesmo director. Com Daniela, a cobiça terá começado mais cedo, quando ela tinha apenas 13 anos. O professor terá começado a assediá-la e a “enfurecer-se porque os seios demoravam a crescer”.

 

“O meu professor dirigiu-se a mim e disse «esses teus seios desde o ano passado não crescem?»”, recorda Daniela, que, desiludida com o comportamento do professor, “quase lhe deu um tapa na cara”.

 

Já a irmã de Daniela, Janeth, de 17 anos, tinha sido chamada à coordenação da escola pelo professor, no princípio do mês, por intermédio do João, cujo conteúdo da mensagem foi: «Vai à sala dos professores que o teu marido Lito está à tua espera». 

 

Por respeito, Janeth obedeceu e dirigiu-se à sala dos professores onde encontrou o professor. “Quando cheguei, encontrei o professor com os lábios esticados pronto para me dar um beijo”, conta Janeth que, de seguida, correu ao encontro das colegas. Foi a partir daí que as três decidiram gravar as conversas.

 

ARMADILHA

Após muita pressão, chantagem e ameaças por parte dos professores, as alunas gravaram, este mês, as conversas que há muito contavam aos pais, mas que ninguém acreditava. As mães, Amélia Gomes, Evaldina Baltazar, Rosa Francisco e duas outras encarregadas juntaram-se e decidiram denunciar o caso às autoridades.

 

O director da escola, segundo Rosa Francisco – mãe de Joana –, alertava aos encarregados que “as cinco alunas se apresentavam mal vestidas e essa preocupação era não só por ser director, mas também porque se sentia como pai das meninas e, por isso, era seu papel aconselhá-las”. Rosa Francisco chegou a bater na filha por pensar que ela estava a desviar-se. Até que ouviu as gravações.

 

“Como é que uma pessoa que se diz ser um pai faz o que eles fizeram com a minha filha? Com o pouco que ganho, pago as propinas para ter uma filha formada, não para os professores a namorarem”, diz Rosa Francisco com os olhos ensopados de lágrimas.

 

A mãe de Joana acusa os professores e o director da escola de terem reprovado a sua filha por ela se ter recusado a namorar os professores e que não iria transitar de classe sem que houvesse “intimidades”. O director da escola, segundo Amélia Gomes, não sabia que uma das alunas que ele muito desejava já tinha engendrado um plano para contrariar e provar que o que se dizia a seu respeito não eram calúnias”.

 

Uma das meninas aceitou o convite do director e só regressou a casa às 3 horas da manhã. Nesse período, as amigas fizeram a cobertura para que nada de errado acontecesse. A aluna conta que conseguiu convencer o director de que as coisas “não deviam correr tão rápido”. Quando ouviram as gravações, o mundo das mães “desmoronou”. Ainda mais porque, segundo Rosa Francisco, “os professores foram detidos com as ‘provas do crime’” e, instantes depois, “foram soltos e agora fazem ameaças constantes às alunas e aos familiares”.

 

Evaldina Baltazar não acredita que a filha seja “malandra” como sugerem os professores. Para a encarregada, essa “é uma forma que os professores e o director arranjaram para justificar o que fizeram”. “Tem-se dito que o professor é o segundo pai. Que pai é esse que quer que os seios da filha cresçam para apalpá-los?”, pergunta, adiantando que “não vai descansar enquanto os professores não pagarem pelos danos morais e psicológicos” causados às filhas.

 

Uma delas até pensou em desistir dos estudos por “perder a confiança de quem se propõe ser educador e não pedófilo”. Apesar de ter já 17 anos, Emília, estudante no ‘São João Baptista’ e que sonha ser polícia, lamenta que muitos professores “alguns dos quais casados e com filhos tenham coragem de assediar as alunas”. “Esses professores são capazes de namorar as próprias filhas”, conclui a jovem.

 

Já a mãe de Emília, Amélia Gomes, não quer saber de mais nada senão “ver os professores ‘ngombires’ atrás das grades”. “Senti-me satisfeita quando apanhámos o director com a ‘boca na botija’, ele e uma das meninas no ponto de encontro pronto para consumar o acto. Ele foi infeliz porque a minha filha não é prostituta como ele nos quis mostrar”.

 

NO ‘OLHO DA RUA’

O Gabinete Provincial da Educação de Luanda “confirmou” o caso de assédio na escola ‘São João Baptista’ e já tomou medidas “drásticas e exemplares”. De acordo com o inspector provincial da Educação, Lourenço Neto, o director da escola comparticipada foi exonerado. “A partir de hoje, 15 de Maio, esse senhor já não é responsável por aquela escola”, informou Lourenço Neto, acrescentando que os três professores envolvidos no acto “vergonhoso” estão suspensos e “não poderão ter contacto nenhum com os alunos”.

 

“Tudo aponta para a sua irradiação completa do sistema educativo para que sejam exemplarmente sancionados e para que actos do género não possam ocorrer nas nossas escolas”, afirmou o responsável em declarações à Rádio Luanda. Lourenço Neto acredita que a medida “vai coibir os professores que eventualmente estejam a ser cogitados por outros professores irresponsáveis que não deviam estar na educação”.

Polícia em acção

O Comando da Polícia de Luanda já tomou conhecimento do assédio no Kilamba-Kiaxi. Em declarações ao NG, o porta-voz e chefe da Brigada de Segurança Escolar, inspector-chefe Mateus Rodrigues, garante que estão a “ser realizadas reuniões com as direcções da escolas e encarregados de educação no sentido de buscar quer a compreensão quer a resolução dos problemas”. Já foi aberto um processo.

 

“Baton xuxuado”

O NG envidou esforços para contactar o director e os professores da escola ‘São João Baptista’ n.º 2085 do Kilamba-Kiaxi, mas não obteve êxito. No entanto, em declarações à Rádio Luanda, um dos professores negou as acusações e garante que “são as próprias alunas que assediam os professores”.

 

“Uma vez que a miúda vem pintada com os lábios brilhantes, vermelhos e o professor repudia. Incomodamo-nos com as meninas porque elas se vestem mal, usam baton que pode impressionar qualquer homem”, explica um dos professores, acrescentado que “as alunas não usam o batom normal, mas usam o batom xuxuado e pintam de uma maneira que não mesmo para…”, hesita.

 

Segundo o professor, tudo se trata de uma “cabala criada pelos encarregados afectos aos donos da escola que também almejam estar no comando da escola” e, para tal, “incentivam as meninas a ligar e assediar o director”.