Luanda - Anunciar leilões de divisas tornou-se uma rotina seminal do governador do Banco Nacional de Angola. Semana sim, semana também, José Pedro de Morais anuncia a venda de divisas a bancos comerciais para turbinar a economia angolana. Os valores nunca são inferiores a 300 milhões de dólares.

Fonte: Club-k.net

O “ritual” repetiu-se esta semana. À saída de mais uma dessas reuniões das comissões Económica e para a Economia Real do Conselho de Ministros, duas instâncias cuja serventia real ainda está por aferir, José Pedro de Morais repetiu a ladainha, mas desta vez com uma pequena variação: o BNA vai aumentar o número de leilões semanais de divisas.

Na generalidade dos países, aumentar ou diminuir a quantidade de leilões de divisas são decisões que os bancos centrais tomam de acordo com a avaliação que eles próprios fazem do mercado. Em Angola, porém, uma tal decisão não pode ir adiante sem o aval do Presidente da República.

Um despacho noticioso da ANGOP, do dia 28, dá conta que o “Chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, orientou (…) , no Palácio Presidencial, em Luanda, a reunião conjunta da Comissão Económica e da Comissão para a Economia Real do Conselho de Ministros, que analisou projectos do Banco Nacional de Angola (BNA) e de alguns ministérios”.

Mas o aval semanal do Chefe do Executivo não tem garantido a chegada segura das divisas ao mercado.

Tanto os bancos comerciais quanto os operadores económicos queixam-se não da escassez, mas da ausência de divisas no mercado. Muitas empresas, algumas delas até detidas por “gente lá de cima”, já reduziram a sua actividade por falta de divisas para importar matérias primas. Até mesmo gigantes como a rede de supermercados Kero e a Refriango, cujos donos fazem parte de outra galáxia, são afectados pela escassez de divisas.

O cidadão comum, que precise de viajar ao estrangeiro pelas mais variadas razões, quase precisa de vender a alma para reunir alguns trocados em dólares.

Há relatos de bolseiros angolanos no estrangeiro que estão a prostituir-se e a render-se a outras práticas degradantes para sobreviverem porque as instituições angolanas que suportam a sua formação têm as mãos tolhidas. Mas apesar de tudo isso, o governador do BNA nunca deixou cair o seu “ritual” seminal.

Ora, se o BNA garante que tem realizado leilões semanais de divisas e essas não chegam aos bancos comerciais das duas, uma: ou José Pedro de Morais tem faltado com a verdade ou os bancos comerciais transformaram-se em “esgotos” sem fim de divisas.

Sendo que um dos “hobbies” preferidos do Presidente da República é a criação de comissões ad-hoc, não viria mal nenhum ao País e ao mundo, já agora, se ele criasse mais uma para apurar onde está a verdade. Mesmo que se saiba que, por regra, as comissões ad-hoc criadas pelo PR não passam de mais um expediente para sugar dinheiro publico. Serventia mesmo não têm tido nenhuma.

Recentemente, José Eduardo dos Santos decretou a “morte e o funeral” de várias dezenas dessas comissões. Os cofres do País ficaram agradecidos.

Mas por ora o que é certo, certo mesmo é que a escassez de divisas está a fazer a “farra” de muita gente. Há fogo de artifício e muito champanhe a jorrar quer no BNA quanto em bancos comerciais.

Certo, certo também é que entre o BNA, bancos comerciais, de um lado, e operadores económicos e público, do outro, há um "rio" que as divisas não conseguem transpor.