Luanda - A encarregada de educação da estudante do Colégio Girassol, de 14 anos, alegadamente violada pelo motorista da escola, no dia 30 de Abril do ano em curso, em entrevista exclusiva a O PAÍS afirmou ter sido contactada pelo irmão do suposto agressor, que disponibilizou 50 mil dólares para que retirasse a queixa

Fonte: O País
A mãe da aluna que falou sob anonimato, disse que após o facto se tornar do conhecimento público e o suposto violador estar as contas com à justiça, recebeu inúmeras ligações no dia 10 do mês ainda em curso.

Segundo explicou, as mesmas foram efectuadas por um cidadão que se identificou como sendo irmão de Inocêncio Bumba, “Inó”, de 25 anos, que manifestou o interesse de oferecer- lhe 50 mil dólares em troca da remoção da queixa que recai sobre o seu parente.

“Estávamos a negociar, desejávamos receber o dinheiro como prova de que ele agrediu a minha filha, pois se assim não o fosse, não tinha porque corromper-nos”, defendeu.

Disse ainda que após a reunião que a direcção do colégio Girassol manteve com os representantes da Delegação de Educação e o presidente da Associação Nacional de Ensino Particular, ANEP, no dia 11, na qual esteve presente, o indivíduo em questão desistiu da proposta.

A entrevistada disse ter ficado surpreendida, quando naquele encontro recebera uma informação do director, segundo a qual Inocêncio Bumba, de 25 anos, anteriormente violara uma cunhada.

Ao relevar a atitude da equipa da Delegação de Educação que dirigiu-se a instituição após tomar conhecimento do facto, a nossa interlocutora disse não aprovar o procedimento da instituição que orientou a estudante e as colegas a não denunciarem a suposta agressão sexual.

Indagada sobre como tomara conhecimento do incidente, a progenitora esclareceu que a irmã mais velha da vítima, a informou que nos últimos dias a menor apresentava um comportamento diferente do habitual, porquanto estava sem apetite, não dormia e apresentava um semblante abatido.

Ante tal situação, a interlocutora disse ter sido aconselhada a dirigir-se à escola, a fim de saber dos professores e membros da direcção se a vítima cometera alguma travessura que a tivesse levado a ficar deprimida com medo de ser sancionada.

A progenitora confirma também que foi atendida por um funcionário daquela escola, que já tinha conhecimento do incidente, que no entanto, reteve a informação e propôs-lhe que retornasse no dia seguinte.

“Para além disto, a minha filha dizia de forma insistente que pretendia falar comigo alegando que não podia fazê-lo ao telefone, visto que este estava sob escuta”, salientou.

Segundo a entrevistada achou estranho o comportamento da vítima, no entanto, atendeu ao seu pedido quando por fim teve conhecimento do infortúnio.

Na oportunidade, a fonte disse estar preocupada uma vez que a sua filha revelara que o suposto agressor não usou o preservativo durante o acto, ficando sujeita a doenças sexualmente transmissíveis e a uma gravidez indesejável.

“Parece que a minha filha estava a pressentir, no princípio do ano lectivo, pediu com perseverança que a retirasse do colégio”, explicou.

No entanto, a fonte salientou que a sua educanda foi submetida a um exame ginecológico realizado pela Direcção Nacional de Investigação Criminal, DNIC que no momento aguarda pelos resultados.

Acto pode ter sido premeditado

A fonte deduz que o suposto agressor já havia concebido o plano de actuação, pois mentiu à vítima que a sua encarregada de educação desejava falar consigo, visto que já a conhecia do ano anterior. “Ainda bem que estás aqui. A tua mãe disse que tenciona falar comigo”, citou o que a filha lhe contara.

Prosseguiu alegando que outro factor que justifica a sua opinião é o facto do mesmo ter alterado a ordem de distribuição dos estudantes, visto que o primeiro estudante a ser entregue habitualmente, foi o penúltimo, tendo deixado o vigilante a meio do percurso, de modo a ficar a sós com a estudante.

A equipa de reportagem deste jornal contactou ainda a mãe do estudante que de acordo com a rota do “Jardim das Rosas”, está entre os primeiros a serem deixados em casa.

Em entrevista a O PAÍS, Ilda Alice afirmou que no dia 30, ao recepcionar o seu educando, notou que o transporte estava vazio, quando geralmente ainda tem um grupo de alunos. Acrescentado que não se apercebera que no interior do carro ainda se encontrava uma adolescente, porque de contrário pediria que a mesma descesse.

Irmão do motorista ameaça com processo

Para confirmar a veracidade em torno da acusação de suborno, este jornal contactou o irmão do presumível agressor, tendo obtido a informação de que este se encontra detido na Comarca de Viana. 

Interpelado se manteve contacto telefónico com a mãe da menor de 14 anos, após a detenção do seu familiar, o nosso interlocutor afirmou que só prestaria declarações em presença do seu advogado. “Da próxima que levantarem informações sobre o meu número de telefone vou instaurar um processo contra vocês”, disse enfurecido, questionando quem cedera o seu contacto.

Prosseguiu dizendo que devíamos aguardar que o jurista entrasse em contacto com a equipa deste jornal.

Aluna não pagava uso do transporte escolar

O representante jurídico do colégio Girassol, Reis Luís, no âmbito da conferência de imprensa realizada no passado dia 19, em Luanda, disse que a instituição não registou nenhum pagamento efectuado pela jovem que lhe desse acesso ao uso do transporte.

Ao apresentar o relatório, durante a reunião que visava esclarecer factos em torno do caso de violação da estudante de 14 anos, o advogado salientou também que tal situação leva a deduzir que existia um acordo de cavalheiros entre a jovem ofendida e o suposto agressor. Disse ainda que deste modo, a estudante se beneficiava do transporte de forma gratuita o que prejudicava gravemente as finanças daquela instituição de ensino privado.

Reis Luís garantiu que a direcção deste organismo teve conhecimento da agressão sofrida pela estudante, através do telefonema em que a irmã da vítima denunciou o incidente. Justificando também que o “silêncio” solicitado à família da menor envolvida visava impedir a fuga do suposto acusado.

Segundo o advogado, o colégio Girassol questiona os motivos que levaram a jovem a denunciar a violação sofrida no dia 30, apenas no dia 7 do mês ainda em curso. “A estudante cumpriu com o calendário de provas, de 1 à 7 de Maio, e não narrou os factos a nenhum membro da instituição”, destacou.

O jurista afirmou ainda que a direcção do Complexo Escolar Girassol tomou algumas medidas, dentre as quais, demonstrou solidariedade com a família da menor, disponibilizou-se a custear as despesas que se prendem com o seu tratamento médico e o acompanhamento psicológico.

Motorista já tinha antecedentes

O director do Complexo Escolar Girassol afirmou não possuir qualquer grau de parentesco com Inocêncio Bumba, de 25 anos, também por muitos conhecidos por “Inó”. 

Zacarias Muvongo esclareceu também que, depois do facto ser amplamente difundido pela imprensa, foi informado por um parente do suposto agressor, de que numa ocasião anterior já violara uma parente. “Este indivíduo, para sua informação, teve um problema com a sua cunhada”, citou o director.

O gestor afirmou que o motorista que já trabalhava há dois anos na instituição confessou que recebia “mixas” para transportar alunos sem o consentimento do colégio, assim como outros colegas seus também procediam de igual modo. Continuou dizendo que há encarregados que negociam o valor a ser pago pelo uso do transporte com os motoristas e não com a instituição.

Interrogado sobre os motivos pelos quais o colégio tem senhores como vigilantes e não senhoras, o gestor enfatizou que a escolha é feita por uma razão estratégica. De acordo com Zacarias Muvongo, há mais facilidade de um indivíduo do sexo masculino defender o motorista e os alunos, do que uma mulher, no caso de eventualmente serem alvo de um grupo de marginais.