Luanda - Os hospitais, têm sido vítimas de inúmeras circunstâncias que assolam de forma rítmica a quem nele se encontra, exercendo uma influência tenaz no decurso do trabalho, tais circunstâncias atraem a favor dos funcionários uma tensão emocional implacável, oriunda do contacto frequente com a dor e o sofrimento alheio e com pacientes terminais, receio de cometer erros, relações com pacientes difíceis. Sendo assim, cuidar de quem cuida é condição suficiente para desenvolver projetos de acções em prol da humanização da assistência.

Fonte: Club-k.net

A reduzida mão-de-obra e o fluxo vertiginoso de doentes que acorrem à casa da saúde, muitas das vezes não dá espaço a existência da humanização, é mediante estas lacunas que, a humanização apanha pontapés exaltados, deixando os serviços em nudez transparente fora da margem digna.

Humanizar é um acto cuja acção se restringe na transitoriedade relacional entre duas pessoas que envolvem o processo assistencial, uma que assume o papel de cuidar e a outra que assume o papel de ser cuidada. A humanização constitui um horizonte onde o doente é observado num trio: biológico – psicológico - social.

 

A humanização da assistência, não é uma palavra oca, é o renascimento do homem no homem, da saúde na saúde, é o despertar do profissional de saúde para um novo mundo de que eles são os participantes convenientes.

 

A humanização é um processo que compreende uma estratégia mediante a qual ocorre a interferência no processo de produção de saúde, resultando numa transformação social dos integrantes activos deste processo, melhorando e modificando a realidade vivenciada por eles, com a mudança de si próprio neste mesmo processo.

 

Humanizar é saber promover o bem comum acima da susceptibilidade individual ou das conveniências de um pequeno grupo.

O processo humanizar a assistência, envolve o processo cambial do comportamento de todo o sistema de saúde, em todos os níveis desde o topo até a base, e entre doentes e profissionais e familiares, assim como entre profissionais e profissionais.

A humanização é o mediador comum da qualificação dos serviços de saúde dirigidos aos utentes, a humanização deve ser uma expressão multiprofissional alastrando o seu impacto a todos os profissionais dos serviços de saúde, desde o segurança hospitalar, o profissional de limpeza hospitalar, o técnico administrativo, a catalogadora, o técnico de diagnóstico terapêutico, o enfermeiro, o médico, o psicólogo clínico, o assistente social, o profissional de engenharia nuclear ou clínica, o copeiro ou cozinheiro, o nutricionista, o informático e o bioinformático, o telefonista ou profissional de call center, o profissional da hotelaria hospitalar, a secretária, o motorista de ambulância, e até mesmo os profissionais que se destacam na tarefa decisória e de gestão dos serviços hospitalares, todos em uníssono, desempenham o mesmo papel que visa enaltecer o bem - estar aos doentes, por meio da melhoria na prestação de serviços assistenciais aos utentes, os serviços humanizados não se devem limitar aos doentes, devem ultrapassar fronteiras, englobar incluível os acompanhantes do próprio paciente. A humanização não deve ser apenas um termo que se limite pela palavra na felicidade do verbo, deve encontrar espaço no mundo real, deve ser versada em formação de todos os profissionais da área da saúde, sem reserva e sem limite, até os seguranças, motoristas e catalogadoras devem usufruir de uma formação à luz de princípios e normas que regem a humanização e as boas práticas em saúde humanizada em prol da melhoria da qualidade assistencial.


De então, o que é humanizar? Entendido assim, humanizar é garantir à palavra a sua dignidade moral e ética; ou seja, para que o sofrimento humano e as percepções de dor ou de prazer no corpo sejam humanizados, é preciso tanto que as palavras expressas pelo sujeito sejam entendidas pelo outro quanto que este ouça do outro palavras de seu conhecimento. Pela linguagem, fazemos as descobertas de meios pessoais de comunicação com o outro, sem o que nos desumanizamos reciprocamente. Sem comunicação não há humanização. A humanização depende de nossa capacidade de falar e ouvir, do diálogo com nossos semelhantes.

Humanizar pressupõe embonecar os serviços de saúde de diálogo salutar, abrangendo os utentes, os próprios profissionais de saúde até os acompanhantes dos utentes, a humanização veicula a transferência de saberes a todos os níveis dos mais competentes aos menos competentes, e vice – versa.

Trata-se, sobretudo, de investir na produção de um novo tipo de interacção entre os sujeitos que constituem os sistemas de saúde e deles usufruem, acolhem tais actores e formulam seu protagonismo.

A deturpação do papel tradicional do profissional de saúde, que nos é imposta e a qual nos acomodamos: examina – se mal e a lume de palha; não se ouve o paciente, negando – lhe o consolo da palavra carinhosa; é a alternativa o consentimento informado, a crua, e inumada descrição do mal que aflige e até, previsão sinistra, o que lhe resta de vida. A falta de atenção transparente, também, na pressa e no enfado dos profissionais de saúde, e o desvalido enfermo, revestido somente do pano inconsútil de sua frustração, e sem poder desenrolar os para ele magnos queixumes, sai dos hospitais vergado aos inumeráveis ressoos do linguajar, em geral inerentes aos cuidados despidos de humanização que lhe foi forçado a receber. 

Os profissionais de saúde não se devem atulhar de ter o coração amortecido de amor no contacto com o sofrimento, e ao se tornarem cada dia mais sensíveis, desmentirem o epíteto de Hipócrates.

É possível e adequado para a humanização se constituir, sobretudo, na presença solidária do profissional, reflectida na compreensão e no olhar sensível, aquele olhar de cuidado que desperta no ser humano sentimento de confiança e solidariedade.

O desenvolvimento científico e tecnológico tem trazido uma série de benefícios, sem dúvida, mas tem como efeito adverso o incremento da desumanização. O preço que pagamos pela suposta objectividade da ciência é a eliminação da condição humana da palavra, que não pode ser reduzida a mera informação de
Anamnese. Por exemplo, quando preenchemos uma ficha de história clínica, não se escuta a palavra, mas apenas recolhe – se a informação necessária para o acto técnico, ou quando um enfermeiro administra um medicamento, as vezes nem sequer prepara psicologicamente o doente, antes de o fazer. Este é indispensável, sem dúvida, mas o lado humano fica excluído. O acto técnico, por definição, elimina a dignidade ética da palavra, pois esta é necessariamente pessoal, subjetiva, e precisa ser reconhecida na palavra do outro.

A dimensão desumanizadora da ciência e tecnologia se dá, destarte, na medida em que ficamos reduzidos a objetos de nossa própria técnica e objetos despersonalizados de uma investigação que se propõe ser fria e objectiva.

Um hospital pode ser excelente na questão da tecnologia e mesmo assim ser desumano no atendimento, por tratar as pessoas como simples objetos de intervenção técnica, sem serem ouvidas em suas angústias, temores e expectativas, ou sequer informadas sobre o que está sendo feito com elas, pois
o saber técnico define e consiste no bem do paciente, independentemente de sua opinião.

A humanização é, desta forma, uma permanente construção de laços de cidadania, onde há a valorização de todos os sujeitos implicados no processo de produção de saúde, o fomento da autonomia e da co- responsabilidade, o estabelecimento de vínculos solidários e de participação coletiva no processo de gestão, o empenho na mudança dos modelos de atenção e gestão vigentes e o compromisso com o meio ambiente e com a melhora das condições de atendimento e de trabalho.

Por outro lado, o problema em muitos outros locais é justamente a falta de condições técnicas, seja de capacitação, seja de materiais. Tais locais se tornam desumanizados pela má qualidade resultante do atendimento e sua baixa resolubilidade. Essa falta de condições técnicas e materiais também pode induzir à desumanização, na medida em que profissionais e usuários se relacionem de forma desrespeitosa, impessoal e agressiva, piorando uma situação que já é precária.

«A missão nobre do profissional de saúde, é servir ao doente, quem não vive para servir, não serve para viver»

 

- Bem-haja.