Luanda - A crise instalada na FIFA, pelas mãos dos Estados Unidos da América, vai necessariamente extrapolar o âmbito do futebol para atingir todos os outros sectores de actividade de gestão das mais diversas nações. O presidente dos Estados Unidos da America, Barack Obama reiterou no inicio deste mês esta necessidade de se aproveitar esta locomotiva para se atingirem sectores políticos ou económicos que enfermam de corrupção endémica.

Fonte: Club-k.net

Efeitos da globalização ou não, o certo é que em Angola também assistimos a denúncias de corrupção no futebol nacional, em particular no principal campeonato angolano, Girabola. E o exemplo dessa coragem surge pelas mãos de um jovem gestor, Horácio Mosquito de seu nome. Não podemos deixar de sauda-lo pela sua coragem, numa altura em que abordar esse assunto nos termos em que o fez não está ao alcance de todos.

Porém, gostaria de estender esta reflexão para outros sectores da vida social dessa nossa imensa Angola. Ou seja, do exterior do país chegam-nos sinais de que não podemos ficar de braços cruzados, pensando que nada se passa. A globalização não significa assimilar tudo o que os outros exportam, mas pelo menos devíamos aceitar os bons exemplos, as boas praticas. E desse modo, este exemplo que vem da FIFA seria uma enorme oportunidade para o nosso país fazer uma ruptura com esse fenómeno da corrupção, que sacrifica milhares de angolanos, ora porque as verbas destinadas a esta obra pública não foram canalizadas na totalidade, ora porque se canalizou parte e outra fora parar no kafokolo do Makalakato, como bem cantou Paulo Flores.

Considero ser mais uma flagrante e soberana oportunidade para darmos um pontapé nesse problema, o segundo maior mal depois da guerra, como aliás reconheceu um dia o próprio Presidente da República Eng. Jose Eduardo dos Santos. Os jovens, pelos menos um deles, deu o mote, cabendo agora aos gestores publicos, a quem compete gerir o dinheiro do Estado seguir o exemplo, arrumando definitivamente para o passado essas práticas nefastas.
Precisamos de corrigir a tendência de que para se viver bem no nosso pais é necessário ser "vivo", como dizia na sua conferência de imprensa Horácio Mosquito. Acho fundamental e necessário devolver aos jovens a vontade e o empenho pelos estudos e pelo trabalho e não apenas pelo diploma.

Precisamos de transmitir aos jovens que viver bem é uma recompensa de quem faz por isso. Não creio ser impossível esse compromisso. Não creio ser uma coisa apenas ao alcance dos outros. Não podemos transmitir ao mundo eternamente a nossa incapacidade para resolvermos os nossos problemas.

A teoria de que há povos destinados a viver e gerir bem os recursos dos seus países e outros não em razão da cor da sua pele, posição geográfica ou herança genética, que alimentou as doutrinas antropológicas durante muitos séculos caíram por terra. Aliás, dois professores americanos, da Havard, desmentiram precisamente essas teorias no seu volumoso livro "Why Nations fail"- Porque falham as nações. A conclusão desses investigadores assenta nas políticas publicas adoptadas por cada pais e nada mais do que isso.

Entendo por isso que devíamos aproveitar esse vento da FIFA para varrermos esse mal, que tem a dimensão do paludismo, se compararmos os seus efeitos nefastos para o desenvolvimento sócio-econômico do país. Se tivéssemos feito isso talvez não fosse necessário recorremos aos empréstimos, talvez já nos teríamos libertos da petrodependência, talvez figurássemos ja na lista das futuras potências do continente até 2030.

Dizia o fundador dos Escuteiros, o alemão Baden Pawell: ''procurai deixar o mundo melhor do que o encontraram''. É o desafio que lanço a todos nós que a todos os níveis a escalões assumimos responsabilidade política neste país. Esforcemo-nos no sentido de evitar que os nossos filhos e netos sofram tanto quanto os nossos avós, pais e nós próprios, durante os 500 anos de colonização.