Luanda - A Reitoria da Universidade José Eduardo dos Santos, no Huambo, decidiu recentemente apresentar uma queixa‐ crime contra a empresa Huambotur por cobrança indevida de supostas dívidas.

Fonte: SA

Por cobrança indevida de dívidas

O processo, segundo apurou o Semanário Angolense, deu entrada na Polícia Económica, um órgão afecto ao Serviço de Investigação Criminal (SIC), tendo o expediente já sido enviado para Procuradoria‐geral da República (PGR).

A Huambotur, uma empresa de viagens e turismo, alega que o débito em causa tem a ver com o não pagamento de rendas de casas no complexo habitacional do Governo do Huambo, nas quais estão alojados professores universitários, sobretudo de nacionalidade cubana.

O sócio‐gerente da empresa, Adriano Marques Catito, diz que existe um acordo entre a sua empresa e o Governo Provincial do Huambo para a exploração do referido espaço. Afirmou que a gestão do complexo habitacional resultou de um contrato firmado, em 2007, com o Executivo local, por «ajuste directo».

Conta que a Huambotur terá celebrado, por sua vez, contratos de arrendamento com as unidades orgânicas da Universidade JES, para que os docentes dessa instituição do ensino superior no Huambo passassem a ser alojados no referido complexo. Uma versão, entretanto, negada pela Reitoria universitária.

Adriano Catito revela que as dívidas remontam a 2007, ano em que terá sido selado um acordo entre as unidades orgânicas da Universidade e a sua empresa.

Afirma que a Universidade JES «está há vários anos sem pagar rendas», tendo já o valor da dívida ultrapassado os dois (2) milhões de Kwanzas.

Soube‐se que as rendas estão fixadas entre os 20 e os 40 mil Kwanzas mensais e que o complexo comporta 12 habitações.

O operador turístico sublinha que, além dos professores estrangeiros, o complexo é igualmente habitado por alguns docentes angolanos que, segundo ele, têm estado a «furtar‐se ao pagamento das rendas». Revela também que o próprio Governo local está entre os devedores da sua empresa.

Em relação à queixa‐crime que foi movida contra a sua empresa, Adriano Catito considera que o objectivo dos «devedores é fugir às responsabilidades». «Trata‐se de um acto de chantagem para saírem ilesos do pagamento, mas não serão bem‐sucedidos», adverte.

Diz que ele tem a consciência «tranquila» e que a sua empresa já constituiu um advogado para tratar do assunto na justiça, onde espera ganhar o caso.

Segundo ele, os prolongados «kilapes», sobretudo por parte das unidades orgânicas da Universidade JES tem estado a causar‐lhe «sérias dificuldades», pelo que a sua empresa «tem salários em atraso».

Reitoria nega débito

Confrontado com o assunto nesta quinta‐feira, 09, o reitor da Universidade JES, Cristóvão Simões, negou a existência da aludida dívida, tendo desafiado o responsável da Huambotur a fazer prova documental da existência de um acordo entre ambas as instituições.

«As habitações em causa foram cedidas à universidade pelo Governo local, com o objectivo de alojar os professores, sobretudo de nacionalidade cubana que aqui vieram dar aulas», conta o responsável académico.

Depois de reafirmar que não existe nenhum documento escrito que vincule as duas partes, Cristóvão Simões revela que o responsável da Huambotur «tem estado há 3 anos a criar confusão para que lhe sejam pagas as rendas». «Ele anda à cata de dinheiro há muito», reforça.

Gestor nega acusação: Descaminho de dinheiros

Corre nos meios locais a informação, segundo a qual o gestor da Huambotor terá dado destino indevido a alguns valores que estariam à sua guarda, pelo que estará agora a exercer uma certa pressão sobre os supostos devedores, para «tapar o buraco financeiro» por ele criado.

Em relação à acusação, Adriano Catito diz que a mesma «não corresponde à verdade», tendo questionado como isso seria possível, uma vez que a sua empresa deixou de receber os montantes das rendas. «De onde saiu o dinheiro, se os inquilinos há muito deixaram de pagar as suas rendas?», questiona‐se.

Uma fonte do SA diz que nos primeiros anos de vigência do «contrato», os inquilinos terão pago as suas rendas, mas que volvidos alguns anos, eles deixaram de fazê‐lo tão logo se aperceberam que o complexo habitacional tinha sido construído pelo Executivo local para alojar os quadros que vinham à província trabalhar.

Há quem acredite que a entrega da gestão do complexo à Huambotur terá sido com o objectivo sub‐reptício de «sacar» dinheiros aos cofres Estado, a começar pela adjudicação directa do complexo estatal a uma empresa cuja titularidade diversas fontes atribuem a antigos dirigentes governativos do Huambo. Daí que Adriano Catito estará a ser visto como uma «testa‐de‐ferro» do negócio.

Inaugurada em Agosto de 2007, a Huambotur está vocacionada para a prestação de serviços na vertente de vendas de bilhetes de passagens aéreas nacionais e estrangeiros, emissão de passaportes e vistos, transferências bancárias, alugueres de viaturas e na promoção de eventos culturais e turísticos.

 

Ilídio Manuel