Luanda - Um partido que não tem a capacidade de rever os seus métodos de actuação não se moderniza nem se adapta aos ventos de mudança, no mínimo, ainda que, com recurso à força, está a cavar a sua própria sepultura. E os culpados são os seus próprios dirigentes e não quem tem a coragem de os alertar para os riscos da decadência.

Fonte: AGORA

A semana que encerra demonstrou a falta de preparação de alguns políticos e sectores desta sociedade para o exercício das nossas liberdades fundamentais, como, por exemplo, o direito de pensar e de expressar pontos de vista diferentes, com base em factos.

Daí que não nos causou surpresa ouvir argumentos vazios contra verdades apontadas pelo nosso entrevistado, Marcolino José Carlos Moco. Em vez de, com cabeça fria, se analisarem factos, optou-se por exigir 'o corte' da sua cabeça pela guilhotina do partido ao qual ainda se encontra ligado, embora não se reveja nele, como teve coragem de dizer. E, por tabela, também nós não escapamos. A versão que se está a passar por de forma isenta e com profissionalismo exercermos a profissão que abraçamos é que "já nos vendemos".

A quem, também não dizem, embora não seja difícil perceber. Mas, se fosse verdade, a esta hora alguém já se tinha encarregado de pôr a circular nas redes sociais algo mais substancial, ainda que fabricado só para macular a nossa imagem. Mas, estamos tranquilos, continuaremos a pensar com a própria cabeça e aqui ou noutra trincheira bater-nos-emos por princípios que são sagrados, como a liberdade e a justiça social.

Só assim é que este colectivo se sente bem consigo mesmo, servindo a sociedade, como tem sido seu apanágio ao longo de um percurso que já dura 18 anos. A nossa missão é de apenas dar voz a quem se sente no direito de a utilizar. E na luta para garantirmos a nossa sobrevivência, temos as nossas portas abertas a todos, sem discriminação. Aprendemos a vencer a adversidade.

Portanto, não nos causou qualquer mossa a negação que recebemos do vice-presidente do MPLA, Roberto de Almeida, para uma entrevista, até porque não é mesmo obrigado a receber-nos. Talvez sim, se percebesse que também chegámos a um extracto considerável da sociedade, onde se encontram eleitores que gostariam de ouvir dessa entidade respostas para muitas dúvidas; ou podemos pensar que essa decisão resulta também da falta de liberdade de pensamento no interior do partido que dirige o país, cuja direcção não foi tida nem achada sequer na consulta que devia anteceder a decisão de se ir buscar mais dinheiro à China?

Porém, no meio de tanta coisa ruim que ouvimos nesta semana, também foram saudáveis alguns conselhos que recebemos, particularmente relativos ao verdadeiro carácter do poder político em Angola, que não é diferente ao de outros países com um regime que, de acordo com o jurista David Mendes, está em fase de mutação: "De ditadura para o fascismo". E, nesses casos, como nos disseram, está disposto a tudo para se manter no poder, incluindo disparar tiros para os próprios pés, como no caso da detenção dos 15 jovens. Que grande asneira! Logo, poucos acreditam que esse VII Congresso Ordinário do MPLA trará mudanças, libertando- o de amarras em que se deixou amordaçar na gestão longeva do seu presidente.

Contudo, ao não perceber que a sociedade evoluiu e que, para a nova geração as desculpas da guerra já não colhem, estará a cometer o maior erro que pode ditar o fim do seu próprio reinado. E, se isso acontecer, terão coragem de culpar quem não vê (ou não deixa ver) que estão à beira do precipício? Ou os culpados serão os 'vendidos'?

Mas, já agora e só para entendermos, quantos ovimbundu existem, de facto, nas estruturas de mais alto nível, quer do MPLA quer do Executivo? Questionar isso constitui um direito quando se pratica a democracia, ou constitui mais um crime contra a unidade do partido? Puro tabu!