Cabinda - O ativista cabindês, que esteve detido durante 62 dias, acusado de crime contra a segurança do Estado, aparentemente por estar a organizar uma manifestação anti-governamental, denunciou à DW África ter perseguido e capturado um agente dos Serviços de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE) que invadiu a sua residência.

Fonte: DW

Arão Bula Tempo, que é também presidente do Conselho Provincial de Cabinda da Ordem dos Advogados de Angola, conta que, após a captura, apresentou o inivíduo à Procuradoria-Geral, conseguindo saber que se tratava de um agente dos serviços secretos que trabalhava em parceria com a Direcção Provincial dos Serviços de Investigação Criminal.

O agente em causa foi posto em liberdade na manhã desta segunda-feira (20.07), o que, para o ativista, é um sinal claro de que a sua vida corre perigo. "Ainda não fui informado se deveria ir à DPIC (Direção Provincial de Investigação Criminal) prestar declarações e alguém já me disse que a pessoa foi posta em liberdade. Para mim, é um trabalho que os serviços secretos estão a realizar em volta da minha pessoa. A qualquer momento, posso enfrentar situações nefastas pondo em causa até a minha vida e a minha liberdade", destacou Arão Tempo.

Arão Tempo - que foi preso no mesmo dia que José Marcos Mavungo, a 14 de março - está sujeito a termo de identidade e residência e continua bastante debilitado devido às torturas físicas e psicológicas que sofreu enquanto esteve na prisão. Marcos Mavungo continua detido e sem julgamento.


O ativista Arão Bula Tempo avisa ao regime angolano que quanto mais perseguir os cabindeses aumentará ainda mais o espírito independista no seio da população. "Quanto mais apertarem os ativistas mais força vão dando a esses homens e a própria população já reconhece que existe um problema e que esse problema é que faz com que os seus filhos, sobrinhos, netos...sejam perseguidos e aumenta mais o espírito independentista".

A DW África contatou o Procurador-Geral adjunto de Cabinda, António Nito, que negou que o indivíduo que invadiu a casa do ativista Arão Tempo seja um agente dos serviços secretos. Adiantou ainda que o indivíduo em causa foi posto em liberdade mediante uma caução e com termo de identidade e residência. "Não faz parte da secreta. É um cidadão angolano e, como tal, um processo começou a ser instruído. Ele já foi restituído à liberdade mediante o termo de identidade e residência".


"Em Cabinda niguém é perseguido" diz PGR adjunto de Cabinda


Questionado sobre as violações dos direitos humanos em Cabinda e que medidas as autoridades estarão a tomar no sentido de proteger a integridade física dos ativistas que se queixam constantemente de estarem a correr perigo de vida, o Procurador-Geral adjunto de Cabinda minimizou a situação, alegando que em Cabinda não há violação dos direitos humanos e ninguém é perseguido por criticar o Governo.

"Posso garantir que os direitos humanos em Cabinda não são aquilo que uma certa imprensa noticia com um certo sensacionalismo e algumas pessoas dizem. Não é nada disso. Os direitos humanos são respeitados aqui em Cabinda", afirma o PGR.