Luanda - Barack Obama parece decidido a concluir uma pequena revolução nos Estados Unidos, nos meses que lhe faltam até abandonar o cargo. Depois de conseguir legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo em todos os estados norte-americanos; depois do triunfo do ObamaCare e de um discurso histórico, em Charleston, contra o racismo; depois do reatar de relações diplomáticas entre os Estados Unidos e Cuba; depois de uma visita a África e de mais outro discurso vigoroso, Obama acaba de apresentar um Plano para a Electricidade Limpa, que permitirá reduzir as emissões de dióxido de carbono para a atmosfera, provenientes das centrais elétricas, em cerca de um terço, até 2030.

 

Fonte: RA

Ninguém segue José Eduardo dos Santos por razões ideológicas mas por puro interesse financeiro

Obama quer deixar um legado histórico. Vai deixar. Acredito que poderia ter feito muito mais, não fossem todas as armadilhas e obstáculos criados pelo próprio sistema para impedir grandes revoluções. Num país como os Estados Unidos, com uma democracia arcaica e uma sociedade naturalmente conservadora, as revoluções fazem-se devagar. Contudo, fazem-se. Estou convencido de que Obama ficará na História como um dos melhores presidentes que os EUA tiveram.

 

Já o nosso Presidente – que legado deixará?

José Eduardo dos Santos começou bem. Logo após tomar posse, libertou a generalidade dos presos políticos não vinculados à luta armada; acabou com a pena de morte e conseguiu o prodígio de trazer alguma paz ao seu próprio partido, recuperando uma série de figuras conotadas com a antiga ala nitista, ferozmente perseguida no tempo de Agostinho Neto. Foi também responsável pela transição pacífica para a economia de mercado. Se tivesse apostado tudo na construção de uma democracia autêntica e abandonado o poder logo a seguir, por vontade própria, independentemente do resultado das eleições, teria ficado para a História como um bom presidente. Infelizmente não o fez, e, a partir dessa altura, a sua estrela começou a perder brilho.

 

O seu nome está agora manchado por inúmeros escândalos de corrupção. Pior: passará à história por ter criado toda uma estrutura de poder assente – as palavras são do próprio, e sem sombra de vergonha – na “acumulação primitiva de capital”, leia-se, na corrupção mais primitiva.

 

Acresce a isto a má gestão. José Eduardo dos Santos não foi capaz de transformar a fabulosa riqueza natural do país em riqueza efectiva, isto é, em justiça social; em educação e saúde para todos. Trata-se, convenhamos, de um falhanço épico. É preciso talento para falhar tanto.

 

Os últimos meses vieram manchar ainda mais a imagem do Presidente. José Eduardo dos Santos não parece capaz de enfrentar a inquietação social. Ao invés de dialogar com as diversas forças sociais, prende quem quer que ouse pensar num governo melhor. Por fim, não é capaz de reconhecer erros óbvios, e de os tentar corrigir.

 

Ninguém segue José Eduardo dos Santos por razões ideológicas, nem por reconhecer nele um líder carismático. José Eduardo dos Santos não tem nem encanto, nem prestígio, nem ideologia – na verdade, nem sequer se lhe conhecem ideias. Ninguém o segue por amor ou amizade. Quem o segue, fá-lo por puro interesse financeiro. Quando o dinheiro acabar, acabarão os seguidores. Cairá, não como costumam cair os grandes ditadores (com estrondo), mas como caem os frutos podres: com o primeiro golpe de vento.