Luanda - Até ser contratada uma empresa de segurança para guardar o espaço, o Centro Cultural do Zango II, que está próxima a escola 5114, no município de Viana, onde se registou a violação de pelo menos 17 alunas, era usado pelos violadores para praticar as suas acções, como indicam os moradores. Camisinhas usadas e sangue no chão foram alguns dos vestígios encontrados quando foi feita a limpeza do local.

Fonte: O País
Na semana passada trouxemos uma reportagem em que abordava a questão da insegurança ao redor da escola, em que faz menção ao caso das 17 alunas que foram vítimas de violação sexual, no Zango II, ao sair da escola, no período nocturno, só no mês de Julho.

Apesar de termos já conversado com uma das vítimas, que não avançou muita coisa dado o facto de ainda estar traumatizada, e também com o coordenador do turno da noite que confirmara a ocorrência, trazemos mais pormenores sobre o assunto que chocou a população.

A confirmação de que aquele número de estudantes pode ter realmente passado por esse problema vem também dos moradores próximos à escola e do Centro Cultural. A maior parte dos entrevistados adiantou que várias vezes tem ouvido, e poucas vezes visto – por constituir um perigo permanecer na rua depois das 20h – alunas a pedirem socorro alegando que as querem violar.

Com as ruas completamente isoladas, é preciso muita coragem para socorrer alguém que esteja naquela situação, porque os meliantes instauraram o medo de tal maneira que os moradores não têm outro tipo de reacção senão ligar para o 113 (número que as vezes não chama).

Embora não tenha sido vítima de violação, Teresa Massango, também estudante do período nocturno, tem conhecimento de alguns casos que tenham acontecido no Centro Cultural, na altura em que estava ‘abandalhado’.

A interlocutora vive próximo ao referido recinto e, mesmo estando próxima à escola, tem sido um desafio chegar à casa sem correr riscos.

Teresa já foi vítima de assalto, tendo-lhe levado o calçados e a pasta, e só não aconteceu o pior porque não era muito tarde. O roubo de calçado e roupa do corpo (no caso dos rapazes), além de dinheiro e telefones também tem sido uma prática comum entre os meliantes do Zango II.

“Eles mandam descalçar e tirar a roupa, se for homem. Se for mulher, dão corrida e levam-te ao Centro para ser violada. Escondem-se por cima das árvores e quando veem alguém a se aproximar, descem e apontam a arma. Aqui, como falta muita energia quase todos os dias somos surpreendidas desse jeito”, conta.

Estudantes sob suspeitas

Aquela aluna desconfia, tal como as outras, que alguns dos estupradores sejam estudantes da mesma escola, porque já algumas vezes viu moços de bata a “arrastarem” as suas colegas para serem violadas no Centro. Recentemente, houve uma actuação da Polícia Militar que resultou na detenção de alguns alunos suspeitos. “Antes de colocarem seguranças no centro passávamos mal, tem duas colegas, uma que vive no Zango III e a outra no IV, foram apanhadas depois do largo quando regressavam à casa e trazidas ao Centro, no mês passado, para serem violadas. É um perigo andar as 21h. Nesses dias está calmo, porque a energia ainda não foi, senão!”, exclamou, Sofia, outra estudante do período nocturno.

As colegas que vivem distante são obrigadas a “queimar os últimos tempos” porque têm de sair cedo para salvaguardar a vida. Época de chuva os meliantes além de roubarem os pertences dos moradores, os obrigam a banhar com a água que fica parada.
Entretanto, após a publicação do artigo em que relatamos o facto de as 17 alunas terem sido vítimas de violação, a Escola 5114 recebeu várias visitas de jornalistas e da polícia, que acabaram por criar um clima desagradável.

A direcção da escola reuniu com o comandante de divisão de Viana e o coordenador do turno da noite, prof. Daniel, com quem tínhamos marcado uma entrevista, para que nos fornecesse mais dados, disse que foi orientado a não prestar mais declarações à imprensa. Constatamos que houve uma melhoria no que diz respeito a segurança no bairro, pois na última quarta-feira, 12, quando o nosso jornal voltou ao local, à noite, deparamo-nos com a polícia rondando, coisa que os moradores poucas vezes viam.

De Centro Cultural para ‘Centro de Violação’

Até antes de colocarem a equipa de segurança para guardar o local, o Centro Cultural do Zango II era tido como o local ideal para violar as alunas, como apontaram os nossos entrevistados. A segurança, que está há duas semanas, afastou os violadores de dentro do recinto, mas o último caso de violação, pelo que ficamos a saber, aconteceu no largo que se encontra ao pé do Centro.

Há muito que as portas do Centro tinham sido arrombadas e os vidros das janelas partidos, o local estava abandonado e facilitava a ‘hospedagem’ dos violadores. Jaime Francisco, segurança da empresa Chaves do Planalto, confirmou que apenas estão no local há duas semanas e disse terem encontrado completamente degradado.

“Quando fizemos a limpeza do espaço, encontramos também muitas camisinhas usadas, vestígio de sangue no chão – o que leva-nos a crer que aqui violavam pessoas. Alguns vizinhos nos disseram que o espaço era usado para a prática de violação sexual e há duas semanas houve um caso, já fora do recinto”, conta o cidadão, responsável pela segurança do Centro.

A informação que tem também toma conta de que eram os próprios alunos da escola em causa que usavam, muitas vezes, o espaço cultural para práticas malfeitoras. O espaço apresenta ainda as paredes ‘pinchadas’, algumas janelas sem vidro e está parcialmente limpo.

A empresa que agora assegura o Centro é de reacção armada e dia antes da chegada da nossa equipa, o nosso interlocutor recebeu o terminal telefónico do comandante da polícia e a orientação de o comunicar caso voltassem a registar crimes na zona.

‘Chegamos a registar 25 assaltos à mão armada num dia’

Depois de uma ronda com o comandante da polícia, segundo Ventura Gabriel, chegaram a registar no mês de Novembro do ano passado, no Zango II, vinte e cinco assaltos numa única noite. Cantinas foram fechadas devido aos constantes assaltos, os bandidos passavam armados de casa em casa e levavam tudo que quisessem.

“Há necessidade de termos a polícia aqui nas ruas, porque várias vezes tentamos contactá-la, nada. Nós temos várias esquadras nos Zangos, mas nem por isso a coisa melhorou, a polícia não tem de estar atrás das zungueiras e das motos, quando o cidadão está a clamar por socorro. Aqui, passa um, dois meses e não vemos nenhum polícia”, disse o morador.

Está a viver no Zango II há 12 anos e confirmou as falhas constantes de energia. Aponta que o Centro Cultural do Zango II foi mal gerido, o que contribuiu para a sua rápida degradação, tal como aconteceu com o Campo Multiuso do Zango I. O Centro tinha muitos computadores e livros, foi assaltada e nem os mobiliários foram poupados.

“Os culpados dessa degradação são os senhores Manuel Sebastião e Viera Lopes – este último foi o responsável do Centro. Há que se prestar contas, porque gastou-se muito dinheiro para a construção deste centro”, finalizou o nosso entrevistado.