Luanda - O preso político Fernando Tomás “Nicola Radical” encontra-se, desde o passado dia 11, em greve de fome e numa cela solitária “de segurança máxima”, no estabelecimento prisional de Kakila, onde passou cinco dias sem ver o sol, segundo a sua esposa, Sara João Manuel.“

Fonte: MakaAngola

O Nicola disse-me que se continuar naquela cela por mais tempo vai enlouquecer”, declarou Sara João Manuel ao Maka Angola.De acordo com a esposa, Nicola Radical foi privado de visitas durante uma semana e só ontem, terça-feira, teve direito a meia hora de conversa com a mulher.“Não lhe deram [ao Nicola] qualquer satisfação sobre a solitária de máxima segurança.

Disseram-lhe apenas que estão a cumprir com ordens superiores. Levam-lhe alimentação três vezes por dia, que ele recusa, e uma psicóloga, que ele também não quer ver”, disse Sara João Manuel.Desde a sua detenção, Nicola e outros presos políticos têm estado confinados em celas solitárias, sem direito a outras visitas que não os pais e os irmãos germanos. Queixam-se de tortura psicológica.Na prisão de Kakila encontram-se também detidos Nuno Álvaro Dala e Osvaldo Caholo.

Os três fazem parte dos 15 presos políticos acusados pública e arbitrariamente de terem preparado um golpe de Estado contra o presidente José Eduardo dos Santos. No passado dia 12, as autoridades judiciais decidiram transferir Afonso Matias “Mbanza Hamza”, o quarto prisioneiro da Kakila, para a Cadeia de São Paulo.

A 20 de Junho, um enorme aparato combinado de forças policiais e de segurança detiveram 13 activistas, incluindo Nicola Radical, que se encontravam em sessão de leitura e que discutiam literatura sobre métodos não violentos de resistência a regimes autoritários. Os activistas procuravam retirar lições que pudessem adaptar à realidade angolana.

No dia seguinte, o jornalista e docente universitário Domingos da Cruz, que preparara um manual sobre o assunto, foi detido no posto fronteiriço de Santa Clara, no Cunene, quando se deslocava à Namíbia para tratamento médico.

A 24 de Junho, as autoridades policiais e de segurança detiveram Osvaldo Caholo em sua casa.Nicola Radical, um técnico de geradores, é conhecido manifestante da chamada “linha da frente”. O seu activismo pacífico já lhe valeu cinco detenções, e tem sido vítima de espancamentos e de tortura por parte de agentes policiais.

As autoridades confiscaram todo o material “subversivo” que Nicola Radical conservava em sua casa: uma colecção de jornais locais, incluindo o Jornal de Angola, e semanários.“Ele [Nicola] não tem computador e nunca foi militar”, referiu a esposa nessa altura, perplexa com o facto de as autoridades atribuírem ao seu marido poder suficiente para destituir o presidente.

Por sua vez, Elsa Caholo explicou ao Maka Angola que as autoridades prisionais tentaram, com a transferência de Nicola Radical do Bloco A para o Bloco B, forçar o seu irmão Osvaldo Caholo e, alternativamente, Nuno Álvaro Dala a ocuparem a cela onde antes se encontrava o colega.Os dois últimos detidos continuam a ter direito entre 10 a 15 minutos diários de banhos de sol, mas estão impedidos de qualquer contacto com outros presos ou entre si.“A polícia [autoridade penitenciária] diz que os crimes deles [dos presos políticos] ‘não têm enquadramento’ e por isso têm de ser confinados em celas solitárias”, informou Elsa Caholo.