Luanda - O patriotismo de ‘Akwá’ custou-lhe a carreira. A FIFA castigou-o em 2008, depois de o clube em que actuava no Qatar, o Al-Wakra, o ter acusado de abandonar a equipa para defender Angola, no CAN de 2006. O antigo capitão da selecção nacional e maior marcador dos ‘Palancas Negras’ de todos os tempos viu-se obrigado a encerrar a carreira aos 29 anos. Hoje lamenta não ter tido apoio da FAF quando mais precisou.

Fonte: NG
Muitas questões têm-se levantado sobre os motivos que levaram Akwá, o maior goleador de todos os tempos dos ‘Palancas Negras’, a abandonar os relvados cedo, aos 29 anos. A resposta é simples: foi por causa de um castigo imposto pela Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA), influenciada pelo Al-Wakra, a equipa do Qatar, onde o angolano jogava.

Tudo começou em 2006. Akwá foi um dos eleitos para a selecção que ia disputar o Campeonato Africano das Nações (CAN), no Egipto. Na altura, a jogar pelo Al-Wakra, Akwá rejeitou a proposta dos dirigentes do clube para falhar o CAN. “Eles não queriam dispensar-me. Queriam convencer-me a ficar”, lembra o jogador, em conversa com o NG, explicando que o clube só aceitava dispensá-lo para o Mundial. Mas Akwá rejeitou e foi mesmo para a selecção nacional. O clube abriu um processo disciplinar, acusando-o de ter saído à “revelia”. O Al-Wakra enviou cartas à Federação Angolana de Futebol (FAF) alegando que o jogador tinha “abandonado” o clube e que não sabia do seu paradeiro. “Era mentira”, assegura Akwá, argumentando que a saída foi autorizada. “Para sair, precisava de um visto de saída.”

O clube rompeu o contrato e levou o caso à FIFA. Durante o processo, Akwá ficou mais de um ano sem jogar porque o Al-Wakra reteve o certificado internacional, mesmo com vários interessados dos Emirados Árabes Unidos, Kuwait e nacionais.

No vaivém, acabou por assinar pelo Santos, de Angola, para ter acesso ao certificado. Logo depois, jogou no Petro de Luanda apenas meia época. As coisas não correram bem e desvinculou-se. Quando pensava mudar de clube, recebe, através da FAF, a ‘bomba’ que mudou a sua vida: o veredicto do processo dava razão ao clube do Qatar e suspendia-o de todas as actividades da FIFA. “Vi cortada as pernas e tive de parar de jogar”, lembra. “Fiquei triste até hoje.”

Akwá lamenta não ter tido o apoio da FAF, porque os problemas surgiram quando representava a selecção. Recorda que os próprios dirigentes falam de ‘boca cheia’ que ele ficou prejudicado por causa da selecção. Dirigida na altura por Justino Fernandes, a FAF “nada fez para ajudar”, acusa o jogador, que ainda tentou resolver com um advogado, mas não teve sucesso.

O homem que levou Angola a um Mundial acredita que seria “justo” que a FAF o apoiasse, embora desconfie que a sua “má-relação” com o antigo secretário-geral, Augusto da Silva ‘Alvarito’, tenha influenciado.

Esperanças

Em 2010, durante a preparação para o CAN, uma conversa com o general França Ndalu reacendeu a esperança. Tempos depois, foi informado de que a FAF deveria pagar uma multa. Para retirar o castigo, o clube exigia 220 mil dólares. Adicionando ao que tinha de pagar à FIFA, a multa chegava aos 250 mil dólares. Mas não pagou. “Para eles, eu, como carta fora do baralho, estava bom.” Com uma vida dedicada ao futebol, o antigo jogador entende que estar impedido pela FIFA interessa a quem o vê como uma “ameaça” a futuros cargos directivos.

Seis anos depois, em Setembro do ano passado, reuniu-se com o ministro dos Desportos, Gonçalves Muandumba, que procurou saber a razão pela qual não faz parte dos quadros da selecção. Para o seu espanto, o governante desconhecia o caso, mas prometeu ajudar. Hoje, Akwá acredita que o calvário está perto do fim, com o pagamento da multa em prestações. Um advogado aconselhou-o a processar a FAF, mas o jogador acha que “não vale a pena”. Quer simplesmente que o assunto se resolva para que siga em paz com a sua vida e deixe para trás essa “fase negra”.

Durante um debate na TPA, o director nacional dos Desportos afirmou tratar-se de uma “questão pessoal”, mas, para o jogador, o dirigente “equivocou-se”. “É um caso que não lhe diz respeito. As pessoas quando não dominam não podem falar com o risco de lesar.” Akwá sempre preferiu conduzir o assunto “no sigilo”. Aos 38 anos, confessa que, se não fossem estes problemas, daria um contributo à equipa que o formou, a Direcção Nacional de Benguela. Mas não pode. “Não é só porque quero estar ligado à federação. Há outras coisas que quero fazer, mas não posso”. Para já, rejeita a possibilidade de ser treinador, por não se considera “com estofo”, mas admite ser dirigente desportivo.

Pelas redes sociais, têm circulado notícias de que se vai candidatar ao ‘cadeirão’ máximo da FAF. “É mentira”. Mas assume ter esse desejo. “Quando se quer assumir um cargo desta dimensão temos de estar com os pés assentes no chão.” O NG tentou contactar a FAF mas ainda não obteve resposta.

Uma vida no futebol

Natural de Benguela começou muito cedo no futebol que o transformou em ‘herói’, logo aos sete anos, no bairro. Representou várias equipas, nacionais e internacionais. Em Portugal, jogou no Benfica, Alverca e Académica de Coimbra. No Qatar, pelo Qatar SC, Al Gharaffa e Al Wakra. Foi o autor do golo histórico que qualificou Angola ao Mundial de futebol, em 2005, em Kigali, frente ao Ruanda (1-0), na última jornada das eliminatórias africanas.

Falhas

As falhas na organização são apontadas pelo ex-craque angolano como um dos grandes culpados pela ‘derrocada’ da selecção no apuramento ao CAN e ao mundial. Sem querer apontar os dedos, prefere assumir que “a culpa é de todos”. Desta vez, acredita que pode ser diferente, mas avisa ser importante dar condições e confiança total aos jogadores. “Vamos acreditar que está bem e esquecer a fase menos boa. Devemos aprender com os erros do passado.”

A pensar na academia

Aos 38 anos, Akwá sonha em criar uma academia de futebol. Um sonho que pode estar muito próximo de se concretizar porque já tem um espaço definido no Cacuaco, em Luanda. Além da academia, o jogador em colaboração com outro antigo companheiro da selecção, Johnson Macaba, tem o projecto de fazer uma banda desenhada: ‘A Escolinha de Akwá’ vai falar de futebol angolano e da história do país. Em 2006, apresentou o projecto ‘Kandengue Habilidoso’, que tem como objectivo incentivar a prática do futebol entre as crianças. De carácter nacional, o projecto tem realizado várias actividades e torneios de futebol.