Luanda - Com 73 anos de idade, completados agora no dia 28 de Agosto, 36 dos quais como Presidente da República, José Eduardo dos Santos continua a ser uma das figuras mais importantes do panorama político angolano, daí que haja sempre motivo para se questionar o dia seguinte para ele e para o País quando deixar de governar

Fonte: Revista Figuras & Negócios

Para já, nada está definido, deixando o Presidente a entender muito recentemente que ele poderá vir a ser o candidato do MPLA às próximas eleições presidenciais que terão lugar em 2017. Um desiderato que a lei constitucional o permite e, também, porque ao longo desses anos transcorridos desde as últimas eleições, Eduardo dos Santos não se preocupou com o detalhe que o assunto da sua sucessão exige assumindo-se, isto sim, como a peça fundamental no processo em curso e que visa levar Angola à consolidação do seu estado democrático paralelamente a construção de um País economicamente forte e socialmente sustentável. Para esses desideratos o caminho da satisfação plena ainda está longe mas quer se goste ou não de José Eduardo dos Santos, como do seu partido, o MPLA, não se pode ignorar que existem esforços visiveis nesse sentido e que inclusivamente ambos não têm sabido capitalizar logros para proveito próprio.

 

Desde logo, e no caso da consolidação do estado democrático, o MPLA não tem sabido até agora liderar um processo de maior interacção com a Sociedade, elegendo a gestão participativa como um modelo a seguir, mormente para poder sustentar o respeito às diferenças que sempre defende mas na prática parece desencorajar. A sociedade hoje está manietada com laivos fortes de descontentamento no seio da camada juvenil, uma situação que pode facilmente ser esbatida desde que se eleja o diálogo constante e abrangente como bitola de orientação. No meio desse cenário, e até em função do estado actual da sociedade, com diálogos quartados, responsabilidades negativas faiscam o consulado de Eduardo dos Santos enquanto Presidente da República, o Pai da Nação, criando dessa forma "arranhões" que não permitem capitalizar muitos dos trunfos de uma reconstrução do País hoje bem vísivel.

 

A sociedade sabe e os militantes do MPLA precisam de ter a certeza que no cenário actual, José Eduardo dos Santos é o líder que consegue sustentar a continuação da liderança do País pelos "camaradas" pelo que não se compreende a falta de estratégia para uma acção mais dialogante e menos partidarizada, que não pode ser entendida, como muitas vezes se pretende deixar a entender, que o caminho mais prático é a realização de maratonas ou convívios musicais onde jorram muitos litros de bebidas alcoólicas e mensagens panfletárias. Falta um melhor conhecimento, por parte dos Camaradas, da idiossincrasia da sociedade angolana no seu todo e mais particularmente da juventude, de forma que facilmente possa sentir os efeitos de uma maior interacção entre a força dirigente do País e a população.

 

Tudo leva a crer que Eduardo dos Santos e o MPLA, ante uma oposição amorfa e com pouca clarividência para se posicionar como alternativa credível, ganhará o próximo pleito eleitoral e será a partir daí que o actual Presidente deverá cuidar da sua sucessão, sobretudo no Partido que lidera há 37 anos. A eleição para Presidente da República depende sempre dos resultados saídos no escrutínio das urnas.

 

Eduardo dos Santos, nesse interim, foi dando alguns sinais sobre a sua saída mas nenhum que possa ser tido como o definitivo, até porque em algum momento demonstrou simpatias explícitas quanto ao seu possível sucessor, no caso, no MPLA. Teoricamente, quer em circulos nacionais como internacionais, se acreditou, e ainda se alimenta, que Manuel Vicente, um tecnocrata por excelência, hoje colocado como vice-Presidente da República, pode vir a ser o substituto natural de Dos Santos mas a cautela aconselha a não se adormecer nesta solução sabendo-se das deficiências que se conhecem para que Manuel Vicente se imponha no seio da estrutura dirigente do MPLA onde é membro do seu Bureau Político.

 

Esta e outras questões ligadas á postura do MPLA na sociedade ante os fenómenos que existem e que a falta de diálogo aberto sempre os escamoteou, são parte de outras mágoas que os Camaradas terão de, um dia, abordar, mormente quando o cenário já não contar com Eduardo dos Santos como o protagonista principal.

 

Recordando: o MPLA apagou muitas contradições no seu seio e, por consequência, na sociedade com chavões tais como "um só Povo uma só nação", "abaixo o racismo, o regionalismo, tribalismo e outras taras mas os seus membros têm consciência que os problemas existem e dividem inclusivamente a cúpula dirigente, mesmo que subrepticiamente escondidos. É verdade que o Presidente Eduardo dos Santos soube gerir a seu favor todas essas questões mas criou-se em torno de si uma corrente bajuladora muito perigosa que, na hora do render da guarda, que um dia terá de acontecer, ela pode ficar sem espaço para se afirmar e, portanto, tornar-se réfem da sua orfandade. E é por tudo isso que José Eduardo dos Santos é um líder oportuno para o actual momento onde é imperioso limpar a estrada, quer para os Camardas como para a própria oposição, para que o processo de desenvolvimento de Angola caminhe sempre no sentido do progresso, respeito pela diferença de opiniões e com pesos na balança para o equilíbrio nos lugares certos.

 

Começa a ficar evidente, também, que Eduardo dos Santos, que tem sinalizado uma atenção muito forte ao braço juvenil do seu partido, na hora de pensar seriamente na sua sucessão - como estão as pedras no tabuleiro, a iniciativa tem de ser dele obrigatoriamente-, terá uma inclinação para um político jovem, a rondar a faixa etária entre os 50, 60 anos. Se tivermos em conta que num passado recente o próprio Presidente Eduardo dos Santos havia dito que a sua geração já cumpriu o seu papel e que a geração a seguir, caso ele venha a ganhar um segundo mandato à frente dos destinos do País, os hipotéticos candidatos hoje tidos como seus propráveis sucessores estarão na casa dos 70 anos, uma idade mais propensa para se pensar na reforma e não noutras "aventuras" políticas, se vislumbra uma verdadeira luta no quartel dos homens da faixa cinquentenária para receberem a "benção" do Chefe, quer para se alcandorarem à liderança primeiro do MPLA e depois se agigantarem à presidência da República, dando continuidade à saga governativa do partido Camarada.

*Costa Nunes