Luanda - O Semanário Angolense (SA), uma das publicações mais antigas da imprensa escrita em Angola, atravessa uma “crise económica” que já levou ao despedimento de um dos seus jornalistas, Celso Malavaloneke, e pode levar ainda a mais despedimentos, nomeadamente do próprio director Salas Neto, do editor-­chefe Ilídio Manuel, bem como do jornalista Sousa Jamba, tal como revelaram várias fontes ao Rede Angola.

Fonte: RA

Na ausência do director, Salas Neto, que está ausente em Barcelona por razões de saúde, o RA falou com o director em exercício, Joaquim Alves, que confirmou a crise financeira mas garantiu que o jornal não vai fechar. Falando também que as saídas têm a ver com o facto de haver jornalistas que não se revêem na linha editorial do semanário.


“Há alguns colaboradores que não se revêem com a linha editorial do jornal, ou entraram numa certa contradição, e a direcção da empresa resolveu dispor desses elementos. Por outro lado a situação económica e financeira, está a fazer, também, com que alguns colaboradores sejam de momento dispensados, porque esses colaboradores tinham uma certa remuneração. Então como não há possibilidades de os remunerar a tempo inteiro, está a dar­-se um tempo até que a situação volte ao normal, e quando eles quiserem podem voltar a colaborar com o semanário”, explicou Joaquim Alves. “No que toca à tiragem, o jornal está de saúde e recomenda­-se. Não é verdade que o jornal vai fechar as portas, ou está despedir pessoas porque vai fechar. Isso não condiz com a verdade”, assegurou.

Celso Malavoleneke foi um dos primeiros colaboradores que a Media Investe, empresa detentora do jornal, dispensou. Alguns funcionários da publicação estão apreensivos pois pensam que a mesma faz parte de uma estratégia para ir esvaziando a redacção até ao seu encerramento definitivo. A habitual crónica de Sousa Jamba, por exemplo, não foi publicada na última edição, sem que fosse apresentada qualquer justificação.

Contactado pelo RA, Malavoleneke preferiu não tecer qualquer comentário sobre o seu afastamento, alegando questões éticas e o afecto que o liga ao SA, onde trabalhou 11 anos.


A situação apanhou de surpresa o director do jornal, em Barcelona, que escreveu ontem na sua página de Facebook: “Ouvi aqui na Diáspora (Barcelona), no alto da montanha, que o Semanário Angolense rompeu com o Celso Malavoloneke. Nem me informaram oficialmente sobre isso. Antes de mais, peço sinceras desculpas pela forma pouco urbana como te terão tratado neste processo de divórcio”, lamentou Salas Neto. “Aconteça o que acontecer e porque não sou ingrato nenhum, quero aqui agradecer publicamente a excelente parceria estratégica que estabelecemos ao longo destes últimos cinco anos, que permitiu fazer do Semanário Angolense um bom jornal para se ler”, escreveu o ainda director.

 

“Não eras nada o editor de capa, como gostavas de te gabar no Facebook, mas eras a principal entre as principais pedras da minha equipa, mais de noventa por cento das manchetes que fiz nestes últimos cinco anos do meu consulado tiveram a tua preciosíssima contribuição”, acrescentou. Para Salas Neto, se “o jornal vingou”, ao ponto de se afirmar como “o semanário mais lido no país”, muito se deve ao jornalista: “Amigo Celso sem você isso não seria possível. Queira por isso aceitar essa pequena homenagem pública que lhe presto”, conclui. Três horas depois, Celso Malovoloneke confirmava na sua página de Facebook o fim da ligação com o SA: “Recebi hoje, 09.09.15., uma carta da Media Investe datada de dia 7 a comunicar a intenção de prescindir dos serviços de colaboração por razões de ordem financeira”, refere. “Consciente dos meus direitos enquanto Cidadão e Profissional, encaminho o assunto aos meus advogados para o devido tratamento”, acrescenta.


Sinais de mudança Segundo os funcionários contactados pelo RA, a estratégia de afastamento e esvaziamento de quadros fica evidente com a indicação de Joaquim Alves para o cargo de director interino, na ausência de Salas Neto, quando em condições normais seria o editor­-chefe a assumir o cargo.


Esta estratégia segundo um funcionário que pediu anonimato, inclui, numa segunda fase, o afastamento do próprio Salas Neto “algo que está ser negociado”, e a permanência de Joaquim Alves até ao encerramento do jornal.


“Eles estão a criar mau clima na empresa, para que os próprios profissionais tomem a decisão de demitirem­-se para depois a administração não indemnizar os funcionários”, disse um dos colaboradores. O Semanário Angolense faz parte de um leque de jornais independentes que foram comprados, em 2010, por um grupo económico cujo capital não é conhecido mas que, alegadamente pertenceria ou estaria próximo do chefe da Casa Militar do Presidente da República, general Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, e do vice-­presidente Manuel Domingos Vicente.