Luanda - Numa altura em que o país festeja os 40 anos de independência e com razões de sobra para o Executivo gabar­se dos feitos obtidos no ensino superior, quer do ponto de vista dos números, quer do ponto de vista da qualidade dos quadros, o ministro Adão do Nascimento remete o sector a uma posição de subserviente a quadros cubanos de áreas básicas, como estatística ­ uma condição só comparável a dos anos de 1976, quando o país não tinha sequer mil licenciados.

Fonte: Club-k.net

Segundo quadros dirigentes do sector, agastados com a situação, o problemático ministro – que provavelmente só se mantem no cargo por ser sobrinho do Presidente da República – está a impor assessores cubanos em todas as instituições do ensino superior para a (re) formulação do sistema de informação estatística do sector.

Para as nossas fontes, além de ser uma medida supérflua e com fins inconfessos, esta atitude do ministro, em relação a uma área em que o país dispõe de quadros suficientes para a empreitada, representa uma miopia política daquele que deveria lutar pela preservação de algumas áreas sensíveis na manutenção da soberania do Estado.

“Se, em 40 anos, Angola não foi capaz de formar técnicos de estatística para o funcionamento de instituições do ensino superior, então andamos a mentir o país com números extravagantes que resultam do nosso desempenho”, enfatizou um desses dirigentes que preferiram anonimato, temendo a caneta revanchista de Adão do Nascimento.

A fonte vê no projecto do ministro uma lista de elevados encargos e dispêndios financeiros desnecessários, num país onde os funcionários do ensino superior são dos menos remunerados e, muitos deles, a viver em condições menos dignas. Pela lista dos encargos, parece à fonte que esses técnicos, além de “roupa do corpo”, as unidades orgânicas terão de lhes dar tudo: desde computadores portáteis até à habitação.

Para se ser mais específico, as direcções reitorais, conforme orientação do ministro, devem disponibilizar a cada um dos assessores (num total não inferior a 30) condições de habitação, computadores portáteis, dispositivos móveis de internet, meios de transporte, gabinetes, condições de alimentação, além dos salários chorudos (não especificados). Ou seja, “enquanto o executivo apela para a contenção de despesa e evitar mão­de­obra excedentária, o ministro Adão do Nascimento vê dinheiro suficiente para sustentar caprichos com a contratação de técnicos para uma área suprível pelos nacionais”, atira.

Para o espanto dos funcionários seniores de universidades públicas, os assessores serão submetidos a um mini­estágio nas primeiras semanas de trabalho com a disponibilização por parte das instituições angolanas de toda a base informacional existente dos Gabinetes de Estudos e Planeamentos e Estatística (GEPE), para depois, serem introduzidos nas unidades orgânicas, onde deverão ministrar seminários de capacitação aos técnicos locais. 

Acto contínuo, os assessores realizarão em conjunto com os técnicos anfitriões, a revisão da base de dados dos registos primários dos estudantes matriculados no grau de licenciatura e de pós­graduação, assim como os dos recursos humanos do ano lectivo 2015.

Informações do Ministério do Ensino Superior dão conta de que alguns assessores já se encontram a funcionar nos GEPE de algumas instituições do sector, enquanto decorre o processo de apetrechamento das moradias com mobiliários, electrodomésticos e utensílios de uso corrente, bem como de aquisição de computadores e dos meios de transportes. Aliás, assinalam as mesmas fontes, as instituições de ensino superior em Angola já estão a ser pejadas de modelos de estatísticas provenientes de Cuba com expressões espanholas, o que lembra a situação (compreensível) dos anos 80 em que os alunos inclusive do ensino de base, em pleno solo pátrio, viam­se obrigados a descodificar a explicação do professor cubano, do espanhol para o português.

A saga luxuriosa do ministro Adão do Nascimento, que se parece menos conhecedor do ensino superior porque “formatado” na sua formação mais para o ensino geral, não se limita aos técnicos estatísticos. Os amores do ministro por Cuba manifestam­se desde a adopção de programas curriculares até à contratação de professores para áreas onde os cubanos não são tão fortes nem eficazes.

A Escola Superior de Hotelaria e Turismo é uma das vítimas desse fenómeno de “cubanização” do ensino superior em Angola: nasceu com programas e professores cubanos, num verdadeiro acto de sonegação dos objectivos do Executivo que visam valorizar cada vez mais os quadros nacionais e reduzir a importação supérflua de técnicos estrangeiros.

“O país precisa sim de pedagogos e médicos cubanos, em quantidade e qualidade, mas não estatísticos ou professores na área de turismo, ainda que o ministro, nas suas inúmeras visitas a Cuba, tenha estado encantado com aquelas Ilhas de Caraíbas”, gracejou, em tom bastante sarcástico, para no fim se questionar: “quanto o país estará a gastar mais com esta luxúria de Adão do Nascimento?”.