Luanda - O Governo angolano adiou a realização de um 'roadshow' na Europa e nos Estados Unidos para promover a primeira emissão internacional de títulos de dívida, no valor de 1,5 mil milhões de dólares, devido às condições do mercado.

Fonte: Lusa

De acordo com a agência de notícias financeira Bloomberg, o Governo angolano desmarcou a reunião que tinha previsto realizar em Londres com investidores internacionais para garantir o apoio na primeira emissão de dívida nos mercados internacionais, no valor de 1,5 mil milhões de euros.

A emissão de dívida pública, a par de empréstimos concessionais e nos mercados financeiros, e de um conjunto de medidas do lado da despesa, tem sido o pilar da resposta de Angola à descida do preço do petróleo e à consequente degradação das receitas fiscais e da situação económica geral do país.

As taxas de juro que os investidores exigem para transacionar títulos de dívida pública de Angola deteriorou-se significativamente na última semana, subindo mais de um ponto percentual, de 7,64% para 8,68% para emissões com maturidade a quatro anos, de acordo com a contabilização feita pela Bloomberg.

Segundo a agência, a emissão de dívida não terá sido cancelada, mas apenas adiada, estando o Governo angolano à espera que as condições de mercado melhorem, o que não parece vir a acontecer num futuro próximo, não só porque a generalidade dos analistas antevê que o preço do petróleo se mantenha em níveis baixos face ao passado recente, mas também porque na semana passada a agência de notação financeira Fitch reviu em baixa o 'rating' de Angola.

"A dependência de Angola dos hidrocarbonetos deixa o país exposto à forte descida nos preços do petróleo, o que resultou num aumento da dívida pública, queda das reservas e diminuição do crescimento económico", escreve a Fitch na nota enviada aos investidores, na qual anuncia a descida do 'rating' de BB- para B+, com Perspetiva de Evolução Estável, num patamar que os investidores geralmente apelidam de 'lixo', isto é, abaixo da recomendação de investimento.

A descida do 'rating' atribuído pela Fitch a Angola para B+ compara com a nota de Ba2 atribuída pela Moody's e é igual à que a Standard & Poor's dá a Angola, sendo que todas as notas estão abaixo da recomendação de investimento.

Em março, a agência de 'rating' já tinha 'avisado' que a avaliação do crédito soberano do país poderia descer, quando colocou Angola numa Perspetiva de Evolução Negativa, e depois em agosto avisou que reconhecia os esforços do Governo para equilibrar a queda das receitas fiscais, mas mantinha que a descida dos preços do petróleo era um enorme desafio.

Agora, a Fitch concretiza a degradação do 'rating', embora reconheça que as autoridades tiveram uma "atitude proativa de consolidação orçamental, incluindo uma previsão conservadora face ao preço do barril (40 dólares), cortes de despesa corrente e de capital, e removendo os subsídios aos combustíveis".

Nas previsões macroeconómicas, a Fitch mantém os 4% de défice das contas públicas este ano, mas antevê um crescimento económico de apenas 3% face aos 6,6% inicialmente esperados, o que compara com os 4,4% oficialmente apontados pelo Governo como meta para este ano.

Relativamente ao futuro, a agência de 'rating' diz que não espera mudanças tão cedo: "A Perspetiva de Evolução Estável reflete a avaliação da Fitch de que os riscos para subir ou descer o 'rating' estão atualmente equilibrados, por isso não antecipa desenvolvimento que possam, com probabilidade, levar a mudanças no 'rating'".