Lisboa - Como cidadã angolana, mas também como mãe e avó, Fátima Roque dá a cara e junta a sua voz ao movimento de solidariedade pela libertação do grupo de jovens ativistas conhecidos como 15+1, presos há mais de 100 dias em Angola.

Fonte: DW

"É uma mãe e uma avó a falar para um pai e um avô. Com todo o respeito que eu tenho pelo Presidente [José Eduardo dos Santos] e pelo cargo que ele desempenha, simplesmente quero pedir-lhe que aja de uma forma excepcional e liberte os presos políticos, para bem da nossa paz e democracia e pela proteção dos direitos humanos e da liberdade de expressão", pede a ex-militante da UNITA, o maior partido da oposição angolana.


O ativista Henrique Luaty Beirão (33 anos) está em greve de fome há 24 dias. Ele, como os outros jovens, foi acusado formalmente de preparar uma rebelião e um atentado contra o chefe de Estado angolano. O ativista Nelson Dibango também entrou em greve de fome na sexta-feira, 9 de outubro.


"Este caso já está a prejudicar a imagem externa do país", afirma Fátima Roque. "Está a fazer com que muitos angolanos, dentro e fora de Angola, e muitos amigos do país comecem a pensar se, de facto, nós estamos, ou não, a construir uma democracia que protege os direitos humanos e onde se reduz as desigualdades."

É preciso "criar pontes"

Numa mensagem na rede social Facebook, o músico angolano Waldemar Bastos também pede a José Eduardo dos Santos que intervenha pela libertação do compatriota Luaty Beirão e de todos os outros presos políticos, "estabelecendo pontes" para a criação de um "clima de amor entre os angolanos".
"Ai do país onde não haja jovens irreverentes. A irreverência é natural e salutar", diz o músico radicado nos Estados Unidos e Portugal, em entrevista à DW África. É preciso "ouvir os jovens, ser tolerante e ter a capacidade de fazer pontes para acabar com esta situação que nos está a preocupar e angustiar."

Vigílias em Portugal

Nesta quarta-feira (14.10), foram  realizadas  novas vigílias de apoio aos jovens ativistas angolanos detidos.

Ao final do dia, teve lugar uma vigília no Rossio, na baixa da capital portuguesa, cinco dias depois de uma outra que ocorreu no mesmo local. Antes, estava  prevista uma concentração frente ao Gabinete do Parlamento Europeu em Lisboa, para apelar à libertação dos presos políticos em Angola.

Críticas ao Executivo português

O Ministério português dos Negócios Estrangeiros assegurou à agência de notícias Lusa que está a acompanhar a situação de Luaty Beirão através da Embaixada em Angola e de outros meios.

Também em declarações à Lusa, o jornalista e ativista angolano Rafael Marques criticou o posicionamento do Governo português:
"Mas está a acompanhar a situação como? Já foram visitá-lo à cadeia? Obviamente que eles [autoridades portuguesas] estão a ler os jornais e sabem do que sai pelos jornais. Agora, já alguém da Embaixada portuguesa foi visitar o Luaty?"

Ao site Rede Angola , o embaixador português em Luanda, João da Câmara, admitiu que "no caso de haver um pedido, a Embaixada ponderará" uma visita a Luaty Beirão, porque o ativista também tem nacionalidade portuguesa.

Em Bruxelas, o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, sublinhou que Lisboa acompanha a situação "do ponto de vista humanitário", não se imiscuindo nos assuntos internos de Angola.

Rafael Marques, que participa nas manifestações desta quarta-feira (14.10), lembrou que esta causa tem contado apenas com a "solidariedade indiscutível" do partido Bloco de Esquerda (BE) que, em julho passado, propôs na Assembleia da República um voto de condenação pela prisão dos jovens angolanos.

Na altura, segundo Rafael Marques, o BE e o deputado socialista Pedro Delgado Alves ficaram sozinhos no Parlamento na condenação da "repressão política em Angola".

Entretanto, uma petição lançada em Portugal pela Amnistia Internacional para a libertação dos ativistas angolanos já recolheu mais de 24 mil assinaturas.