Lisboa - As críticas violentas de Angola ao governo português sucedem-se: depois do embaixador angolano em Portugal, no fim-de-semana, desta vez foi o número dois do MPLA em Luanda.

Fonte: Lusa

Depois de no fim-de-semana, o embaixador angolano em Lisboa ter atacado Portugal no caso Luaty Beirão, pela “insistente diabolização de Angola”, há dias  foi a vez de Jesuíno Silva, número dois do MPLA em Luanda, que considerou estranho que “embaixadores de países com democracias aparentemente consolidadas façam diligências em total desrespeito pelas leis internas e que configuram autênticas ingerências em assuntos internos”.

 

Em declarações ao "Jornal de Angola" publicadas esta segunda-feira, Jesuíno Silva acrescenta: “Temos serenidade e maturidade política suficiente para perceber que pedir ao Presidente que interfira no processo dos 15 detidos é fazer o jogo dos que duvidam da seriedade das nossas instituições”, declarou.

 

"A separação de poderes é um princípio estruturante de qualquer sistema democrático e em Angola não é diferente", sublinhou o dirigente do MPLA (partido do Presidente José Eduardo dos Santos), acrescentando: "Em Angola, tal como em Portugal ou em qualquer outro país europeu, o Presidente da República não manda nos tribunais. Isso seria violar a Constituição e os princípios republicanos”.

 

Estas afirmações de Jesuíno Silva seguem-se às do embaixador angolano em Portugal, José Marcos Barrica, que escreveu no mesmo jornal num artigo de opinião intitulado “De Portugal nada se espera” que “a cruzada anti-angolana já não pode ser ignorada” e que “a ingerência desabrida que Portugal faz nos assuntos da soberania de Angola está a ultrapassar todos os limites”.

 

O embaixador acrescentou, no domingo, que há uma “insistente diabolização de Angola” no caso dos activistas por parte de alguns “sectores maléficos” da sociedade portuguesa.

 

A acompanhar a notícia com as declarações do embaixador, o editorial de ontem do mesmo jornal voltava a acusar Portugal de ingerência no país, alegando que este ultrapassou todos os limites.

 

Luaty Beirão é um cidadão luso-angolano e estava há 36 dias em greve de fome em Luanda, exigindo aguardar em liberdade o julgamento, marcado para 16 de Novembro. Ele e mais 14 angolanos respondem à acusação de estarem alegadamente a preparar um golpe de Estado no país.

 

O mesmo editorial do Jornal de Angola diz que este caso é mais uma prova de que o Governo angolano estava certo ao cortar a “parceria estratégica” com Portugal, há dois anos.

 

Na altura, José Eduardo dos Santos denunciava "incompreensões ao nível da cúpula e o clima político", dias depois de o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Rui Machete, ter pedido desculpa a Luanda por investigações do Ministério Público português a empresários angolanos.

 

Contactado o Ministério português dos Negócios Estrangeiros sobre o caso, não foi possível obter ainda qualquer reacção oficial.