Luanda - "Como é que se vai fazer a diversificação [da economia, além do petróleo] num ambiente em que o país não tem dinheiro?". A pergunta de Manuel Alves da Rocha, economista angolano, foi feita na conferência "Energia em Angola 2015", do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola.

Fonte: Lusa

"O país não tem dinheiro neste momento. Não há reservas internacionais, não há reservas de divisas", rematou Alves da Rocha, assumindo "grande preocupação" com o momento actual da economia angolana.

 

As receitas fiscais com a exportação de petróleo renderam a Angola 256 mil milhões de euros entre 2002 e 2014, mas não serviram para diversificar as fontes de riqueza, afirmou hoje o economista, em Luanda.

 

As receitas globais, incluindo os lucros das petrolíferas, ascendem a 468 mil milhões de dólares (428 mil milhões de euros) no mesmo período.

 

Alves da Rocha, director do CEIC, sublinha que os 280 mil milhões de dólares (256 mil milhões de euros) de receitas fiscais com a exportação de petróleo - desde o fim da guerra civil, em 2002 - e os 29 mil milhões de dólares (27,5 mil milhões de euros) de "poupança líquida" do Estado, para criticar a falta de respostas à atual crise financeira e económica, que decorre da baixa do preço do barril de crude no mercado internacional.

 

"Agora ficamos a perguntar: durante estes anos todos porque é que não foram definidas e implementadas estratégias para que diminuíssemos esses riscos, provenientes de uma alteração do comportamento no marcado petrolífero internacional", criticou o economista angolano, em declarações à Lusa à margem da conferência.

 

A criação de fundos públicos com recurso a reservas proveniente da exportação de petróleo, disse ainda o economista, revela-se agora insuficiente para Angola lidar com nova crise do petróleo.

 

"O que é facto é que, de repente, estamos numa situação em que não há dinheiro. Estas reservas deveriam ser suficientes para agora lançarmos reformas estruturantes, para que a economia se possa organizar à volta de outros sectores", enfatizou, durante a conferência, que aludiu ao atual momento da atividade petrolífera angolana e à evolução do setor em 40 anos de independência.

 

As receitas angolanas caíram no último ano para cerca de metade, apesar da produção até ter aumentado, com Alves da Rocha a afirmar que o país "não fez o trabalho de casa" da diversificação de economia, na procura de novos produtos de exportação para atenuar o peso do petróleo bruto, que ronda os 98% do total da exportação nacional.